domingo, 26 de abril de 2015

'El País': Argentina coloca dívida sob a ameaça dos 'fundos abutre'

Governo consegue captar quase o triplo de fundos que buscava, mas paga dobro de juros que vizinhos

O governo de Cristina Kirchner busca contrabalancear a escassez de divisas que sofre há quatro anos e agora aposta forte na emissão de dívida em dólares. É o que diz uma matéria de Alejandro Rebossio do jornal El País, publicada nesta sexta-feira (24/04).
Depois de anos de pregação do “desendividamento”, com a qual os Kirchner baixaram o passivo público líquido da Argentina de 102% do PIB em 2004 a 14,8% em 2012, em 2014 subiu a 18% e nesta terça-feira acrescentaram outros 1,415 bilhões de dólares. O ministro da economia argentino, Axel Kicillof, buscava colocar títulos públicos por 500 milhões no mercado local, mas conseguiu uma maior aceitação dos investidores do que a prevista. Isso sim: precisou abonar um tipo de juros de 9,86% anual, o dobro do que pagam países vizinhos da Argentina, como o Brasil ou o Chile.
É que Kicillof quis demonstrar que podia captar fundos apesar da crise de dívida que explodiu em julho passado, pela qual os credores da Argentina no exterior têm deixado de cobrar os pagamentos dos bônus deste país frente ao bloqueio judicial imposto nos EUA. O ministro não se abateu diante da ameaça dos promotores desse bloqueio, os fundos abutre, que agora procuram que tampouco possam cobrar os que assinaram nesta terça-feira a nova dúvida. Por isso pediram ao juiz de Nova York Thomas Griesa que lhes permitisse ter acesso aos detalhes da emissão. Griesa reagiu esta quarta-feira convocando a uma reunião urgente onde aceitou a petição dos abutres.
Os fundos especializados em adquirir a baixo preço títulos de empresas ou países em bancarrota, como a  Argentina em 2001, e em lutar por 100% de seu valor conseguiram em 2014 um veto definitivo dos EUA que obriga o país sul-americano a lhes pagar antes de seguir abonando o resto dos credores no exterior. Mas nos mercados tem crescido a aposta dos investidores em um acordo entre Argentina e os abutres depois de dezembro próximo, quando o sucessor de Kirchner assumir o poder. Não por nada la prima de risco da dívida argentina é de 621 pontos básicos, elevada em comparação com a maioria dos países latino-americanos pero que não reflita a realidade de um país em suspensão de pagamentos. O governo de Kirchner teve suas conquistas: depois da crise de dívida, selou um acordo com a China que reforçou suas reservas internacionais.
Com as divisas conseguidas agora no mercado, Kirchner busca transitar seus últimos oito meses de governo sem uma desvalorização, que elevaria a inflação e desativaria as tentativas de recuperar a atividade econômica. Assim tenta contrabalançar a queda das exportações da Argentina, que se registra principalmente pela redução do preço da soja e a crise do Brasil, principal destino de suas manufaturas. Alguns analistas, no entanto, preveem que o risco de desvalorização ficará como legado para o próximo presidente argentino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário