A Folha traz nesta segunda uma reportagem que,
a se confirmar, é mesmo do balacobaco. Prestem atenção! A Petrobras
estuda uma maneira de tomar parte das ações ou dos ativos das
empreiteiras que participaram do esquema que operava na empresa. Vocês
entenderam direito. E isso nada teria a ver com as multas que ela devem
pagar em razão de acordos de leniência com a Controladoria Geral da
União.
O
caso é o seguinte: como as empresas cobraram um sobrepreço para arcar
com o custo propina, teriam de reembolsar a Petrobras. Ocorre que a
maioria delas, sem receber da estatal o pagamento por obras já feitas em
razão da Lava Jato, está na pindaíba e não tem caixa. Assim, teriam de
doar ações ou ativos. O caminho das ações, advertem alguns, não é bom
porque aí a petroleira brasileira se torna sócia de empresas enroscadas.
Uma das saídas estudadas, informa a reportagem, é criar um fundo para
abrigar essas ações e ativos. Seu rendimento seria revestido para a
estatal.
O
mecanismo também empurraria para os acordos de leniência as empresas que
ainda não adotaram esse caminho. Eles permitiram à Petrobras a retomada
dos pagamentos devidos, o que daria caixa às empreiteiras para seguir
adiante.
Não é
mesmo fabuloso? A Petrobras se revela o palco do maior escândalo de que
se tem notícia no país; atua como um centro arrecadador e distribuidor
de propina, posa de vítima e ainda pretende sair da história
expropriando uma parte das suas parcerias de negócios.
Alguns
tolinhos ainda não entenderam — e eu não posso fazer nada por eles — as
minhas restrições à tese do cartel, sempre lembrando que seria o
primeiro cartel da história a se formar com uma única fronte
contratadora e pagadora, com poder para determina, ela própria, o preço.
Eis aí. Um dos desdobramentos dessa tese exótica é a suposição de que a
Petrobras, como quer Graça Foster, foi apenas a vítima nesse rolo todo.
Venham cá: se EMPREITEIROS E EMPREITEIRAS — portanto, empresários e
empresas — estão sendo punidos , e têm de ser punidos!, por que a
Petrobras seria não apenas preservada, como ainda beneficiada pela
sujeira?
A
saída, de resto, me parece de um exotismo jurídico realmente ímpar. Que
se queira cobrar o olho da cara das empreiteiras em acordos de
leniência, vá lá… Que se queira punir, quando houver a condenação, com
multas os que desviaram a grana, ou ainda cobrar devolução ou
repatriamento do dinheiro em acordos de delação premiada, tudo isso me
parece do jogo!
Transformar
a Petrobras numa pobrezinha, vítima do cartel de homens maus, candidata
a ficar com uma fatia das ações ou dos bens das empreiteiras, bem, isso
é proposta que só viceja num país de aloprados. Por alguma estranha
razão, avalia-se que, ao se desmantelar um acordo de corruptos, só um
lado arca com o ônus; o outro, ora vejam!, ainda ficaria com parte dos
bens de seus antigos parceiros de trapaça.
Sendo
assim, devemos concluir, então, que a Petrobras não estava envolvida em
corrupção, mas apenas fazendo um investimento por caminhos pouco
ortodoxos. Que lixo! A Petrobras, que deveria ser privatizada, se
organiza agora para estatizar um pedação das empreiteiras. Essa gente
enlouqueceu de vez.
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