segunda-feira, 30 de março de 2015

Idosa com suspeita de infecção por bactéria está isolada em Cais, em GO


Aposentada aguarda transferência para hospital desde sexta-feira (27).
Medidas contra contágio assustaram pacientes, em Aparecida de Goiânia.

Fernanda Borges Do G1 GO
A aposentada Maria Cunha Martins, de 72 anos, está internada no Centro de Atendimento Integral à Saúde (Cais) Nova Era, em Aparecida de Goiânia, desde a última sexta-feira (27), com suspeita de infecção por uma bactéria contagiosa. De acordo com a direção da unidade, um leito foi adaptado para o isolamento da paciente, que aguarda uma vaga em um hospital especializado. A movimentação dos funcionários com máscaras e equipamentos de proteção assustou as pessoas que buscavam atendimento no local.
O diretor do Cais Nova Era, Denysson José Morais Lopes, explicou ao G1 que a suspeita é de que a idosa esteja infectada pela bactéria Acinetobacter, que é multirresistente e altamente contagiosa. “Esse tipo de bactéria é normalmente adquirida em ambientes hospitalares. Como ela ficou cerca de dois meses internada no Hugo [Hospital de Urgências de Goiânia], acreditamos que ela possa ter saído de lá com ela, pois não foi adquirida aqui. E por ser de difícil tratamento, a paciente precisa desse atendimento especializado”, destacou.
A direção do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) informou, por meio de nota enviada por sua assessoria de impresa, que Maria Cunha Martins deu entrada na unidade no dia 23 de novembro de 2014, vítima de acidente de trânsito. "A paciente recebeu tratamento clínico devido, apresentando no decorrer da prolongada permanência, quadro de infecção hospitalar. Situação esta, imediatamente controlada que, junto à melhora geral de seu estado, possibilitou sua alta em 29 de janeiro de 2015", diz o comunicado.
O hospital também ressaltou que faz um "rigoroso acompanhamento da incidência de infecção hospitalar". E afirma: "Desde janeiro de 2014, os números apresentam queda em todos os setores de assistência. Observa ainda, que o hospital é responsável pelos pacientes que se mantêm em sua unidade, não podendo responder pelo quadro clínico atual de Maria Cunha Martins, tendo em vista um intervalo de dois meses entre sua alta e a data de hoje".
Medicamentos
Segundo o diretor do Cais Nova Era, por conta da infecção, a idosa precisa de medicamentos que não são fornecidos na rede pública de saúde da cidade e, por isso, foi solicitada a transferência. “O estado dela é grave, porém estável, mas ela necessita de acompanhamento de um especialista. Já fizemos o pedido junto à Central de Regulação de Goiânia e vamos cuidar dela até que surja a vaga", disse.

A Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia, por sua vez, confirmou que fez o pedido de vaga para a transferência da aposentada e que segue no aguardo de um parecer.
Já a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, responsável pela Central de Regulação de Vagas, informou que o pedido de transferência foi retirado do sistema na manhã desta segunda-feira (30) “para reavaliação do tipo de leito necessário”. Isso porque, se a paciente precisar de debridamento, que é a remoção de tecido desvitalizado, terá que ser levada para um leito cirúrgico e não um comum. A secretaria ressaltou, ainda, que aguarda um novo pedido em nome da paciente.
Riscos
Enquanto a situação não é resolvida, a aposentada segue isolada em um leito do Cais. Um neto de Maria, o técnico em laboratório Wallyson Martins da Cruz, 24, disse que a avó precisa de ajuda. “Ela necessita desse tratamento, pois os médicos disseram que, se ela estiver mesmo com essa bactéria, ela corre risco de morte. Por isso, esperamos que façam alguma coisa com urgência”, disse.
Ele conta que o drama da idosa começou em novembro do ano passado, quando ela sofreu um acidente de carro e foi internada no Hugo. “Ela teve a região do abdômen pressionada pelo cinto e precisou de uma cirurgia. Por isso, ficou cerca de dois meses internada no hospital e, por ficar muito tempo deitada na mesma posição, desenvolveu feridas na região de trás da cabeça e acima do bumbum. Ela recebeu alta médica há mais ou menos um mês e meio, mas essas lesões nunca sararam até agora”, conta.
Recepção do Cais Nova Era estava lotada de pacientes nesta segunda-feira (Foto: Fernanda Borges/G1)Recepção do Cais Nova Era estava lotada de pacientes nesta segunda-feira (30) (Foto: Fernanda Borges/G1)
Por conta das feridas, segundo o neto, a família levada Maria constantemente para troca de curativos na rede pública de saúde. No entanto, na última sexta-feira, um médico do Cais Garavelo, também em Aparecida de Goiânia, receitou um medicamento para a idosa, que não estava disponível no local. “Ele disse que ela estava com uma infecção e que precisava desse remédio. Aí viemos para o Cais Nova Era, mas também não tinha. Só aí foi constatada essa questão da infecção e a necessidade de transferência para um hospital”, relatou Cruz.
Para o neto, como a avó saiu do Hugo com as lesões, essa infecção pode ter sido adquirida na unidade. “Não podemos afirmar com certeza, mas como ela saiu de lá com essas feridas, acredito que foi infectada lá”, disse.
Tuberculose
Além do isolamento da aposentada, as pessoas que procuraram atendimento no Cais Nova Era, neste fim de semana, se assustaram com boatos sobre riscos de infecções. Isso porque outros dois pacientes, de 15 e 30 anos, deram entrada na unidade com suspeita de tuberculose.
Segundo o diretor da unidade, o procedimento de isolamento também foi realizado, mas exames descartaram essa infecção. “Sendo assim, os dois foram liberados e orientados a retornar nesta segunda-feira [30] para consulta com pneumologista. Durante esse meio tempo, os funcionários que lidaram com todos os casos usaram o EPI [Equipamento de Proteção Individual], principalmente com máscaras, e as pessoas ficaram apreensivas”, explicou Lopes.
Filha comprou máscara para a mãe, que buscava atendimento nesta manhã (Foto: Fernanda Borges/G1)Filha comprou máscara para a mãe, que buscava
atendimento no Cais (Foto: Fernanda Borges/G1)
A diretora administrativa do Cais, Giovana Santana Augusto, confirmou que o isolamento gerou uma demora nos atendimentos . “Em momento nenhum, os médicos deixaram de atender, mas precisamos adaptar os leitos para abrigar os pacientes. Com isso, houve uma redução do espaço e muita gente reclamou. No total, nos dois dias, fizemos 1.135 atendimentos, sendo que a nossa média é de 400 pessoas por dia. Como só temos dois leitos, as demais salas precisaram ser adaptadas”, disse.

Na manhã desta segunda-feira, a recepção da unidade continuava superlotada. "Estou aqui já a quase duas horas e nada. Parece que não tem médico atendendo. E temos que esperar mesmo preocupados com esses riscos de infecções", disse a empregada doméstica Betânia Silva Lisboa, 38 anos.
Mesmo com as explicações de que não há riscos, a auxiliar administrativa Ana Paula Pereira, de 40 anos, que estava em busca de atendimento para a mãe, Maria Alves, de 62, colocou uma máscara na idosa. “Chegamos aqui e todos falam sobre essas bactérias. Como minha mãe já está debilitada, teve suspeita de AVC [Acidente Vascular Cerebral], eu achei melhor prevenir. Estivemos aqui no fim de semana, ela teve a pressão estabilizada, mas está piorando e tivemos que voltar. Aí chegar aqui e ver todos de máscaras assusta mesmo”, destacou.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia reafirmou que não houve interrupção do atendimento no Cais. Nesta manhã, segundo a secretaria, quatro clínicos e dois pediatras atuavam na unidade.

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