A páscoa era a festa de passagem, comemorada há milhares de anos atrás, no Hemisfério Norte, principalmente na região do Mediterrâneo, para marcar a chegada da primavera após o inverno. Brindavam-se os tempos novos, a sobrevivência, a promessa de vida.
Gosto de relembrar essas histórias que conheci por conta de uma educação mais universal e de uma formação humanista, com os significados que acabaram envolvendo as tradições judaicas e cristãs, calcadas em profundos conhecimentos da vida. Superar, persistir, redimir, criar, renovar, viver. Eis os verbos que podemos conjugar em vários tempos, além de “comer” deliciosos chocolates, a partir desta semana.
Momentos de
privação, sofrimento, dificuldades, dúvidas e apreensões também podem marcar a
partida para a nova era. A renovação de propósitos em compromissos pessoais,
sociais, éticos, morais, religiosos e políticos podem resgatar a fé e a
esperança em mundo melhor para nós e as gerações futuras, conforme cada crença e
cada maneira de pensar.
Sob o tacão do
Egito, o nascimento de um filho dos hebreus trazia sempre a possibilidade de um
libertador. A história de Moisés (reverenciado por judeus, cristãos e
mulçumanos), aponta para a semente de libertação e para o caminho em direção à
terra prometida. A história de Cristo, do sacrifício cruento na cruz à
ressureição, expõe a remissão e a vitória sobre a morte. O contexto das
comemorações dessas lembranças é a páscoa que transcorre em tempo semelhante, no
advento da primavera, no Hemisfério Norte.
Frente ao
sacrifício do culto ao individualismo e à escravidão do consumo desmesurado
proponho nesta páscoa o resgate da nossa consciência social e a liberdade em
direção ao uso adequado das nossas posses e, principalmente, dos recursos da
sociedade. Não posso querer nada mais gratificante, como homem público e
cidadão, do que uma páscoa de esperança em novos tempos redimidos por práticas
republicanas.
O culto às mulheres
e homens de bem poderia substituir o “culto às celebridades” para construirmos
uma sociedade melhor. Este processo de individualização onde estamos embarcados
e a “ditadura do umbigo”, em que as pessoas se diferenciam pelo que têm e pelo
tamanho de suas imagens nos espelhos, nos levarão ao naufrágio ou ao
esgotamento.
Por isso sugiro que
nesta Páscoa olhemos junto com a família, com os amigos e os nossos pares pela
coletividade, com solidariedade e a certeza de que há muitas opções. Vamos
semear uma atitude mais solidária, incubar a participação comunitária, nutrir as
ações coletivas e os bons exemplos de dedicação, muitas vezes
anônimos.
Vamos arregaçar as
mangas, doar um pouco do nosso tempo, carinho e atenção às causas sociais. No
mais singelo dos gestos ou no modesto propósito pode estar o espírito da páscoa,
o renascimento da esperança, a libertação para um mundo mais justo e fraterno. E
que isso não se resuma a uma estação do ano, mas seja uma constante durante toda
uma vida. Feliz Páscoa!
31/03/2015
Arnaldo Jardim é deputado federal licenciado
(PPS-SP) e secretario de Agricultura e Abastecimento do Estado de São
Paulo
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