terça-feira, 31 de março de 2015

Esperança e libertação na Páscoa



A páscoa era a festa de passagem, comemorada há milhares de anos atrás, no Hemisfério Norte, principalmente na região do Mediterrâneo, para marcar a chegada da primavera após o inverno. Brindavam-se os tempos novos, a sobrevivência, a promessa de vida.

Gosto de relembrar essas histórias que conheci por conta de uma educação mais universal e de uma formação humanista, com os significados que acabaram envolvendo as tradições judaicas e cristãs, calcadas em profundos conhecimentos da vida. Superar, persistir, redimir, criar, renovar, viver. Eis os verbos que podemos conjugar em vários tempos, além de “comer” deliciosos chocolates, a partir desta semana.
Momentos de privação, sofrimento, dificuldades, dúvidas e apreensões também podem marcar a partida para a nova era. A renovação de propósitos em compromissos pessoais, sociais, éticos, morais, religiosos e políticos podem resgatar a fé e a esperança em mundo melhor para nós e as gerações futuras, conforme cada crença e cada maneira de pensar.
Sob o tacão do Egito, o nascimento de um filho dos hebreus trazia sempre a possibilidade de um libertador. A história de Moisés (reverenciado por judeus, cristãos e mulçumanos), aponta para a semente de libertação e para o caminho em direção à terra prometida. A história de Cristo, do sacrifício cruento na cruz à ressureição, expõe a remissão e a vitória sobre a morte. O contexto das comemorações dessas lembranças é a páscoa que transcorre em tempo semelhante, no advento da primavera, no Hemisfério Norte.
Frente ao sacrifício do culto ao individualismo e à escravidão do consumo desmesurado proponho nesta páscoa o resgate da nossa consciência social e a liberdade em direção ao uso adequado das nossas posses e, principalmente, dos recursos da sociedade. Não posso querer nada mais gratificante, como homem público e cidadão, do que uma páscoa de esperança em novos tempos redimidos por práticas republicanas.
O culto às mulheres e homens de bem poderia substituir o “culto às celebridades” para construirmos uma sociedade melhor. Este processo de individualização onde estamos embarcados e a “ditadura do umbigo”, em que as pessoas se diferenciam pelo que têm e pelo tamanho de suas imagens nos espelhos, nos levarão ao naufrágio ou ao esgotamento.
Por isso sugiro que nesta Páscoa olhemos junto com a família, com os amigos e os nossos pares pela coletividade, com solidariedade e a certeza de que há muitas opções. Vamos semear uma atitude mais solidária, incubar a participação comunitária, nutrir as ações coletivas e os bons exemplos de dedicação, muitas vezes anônimos.
Vamos arregaçar as mangas, doar um pouco do nosso tempo, carinho e atenção às causas sociais. No mais singelo dos gestos ou no modesto propósito pode estar o espírito da páscoa, o renascimento da esperança, a libertação para um mundo mais justo e fraterno. E que isso não se resuma a uma estação do ano, mas seja uma constante durante toda uma vida. Feliz Páscoa!
31/03/2015
Arnaldo Jardim é deputado federal licenciado (PPS-SP) e secretario de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

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