domingo, 1 de março de 2015

Doleiro denuncia Esteves, do BTG Pactual, no esquema da BR


SEM GÁS O banqueiro André Esteves e um trecho da delação premiada de Alberto Youssef. Segundo Youssef, foi Pedro Paulo Leoni Ramos quem confirmou a participação do BTG de Esteves no esquema (Foto: Clayton De Souza/Estadão Conteúdo/AE)Murilo Ramos, Thiago Bronzatto e Diego Escosteguy
Época
Em meados de 2008, numa festa infantil em São Paulo, iniciou-se a primeira conversa de um negócio que, anos depois, arrastaria para as investigações da Operação Lava Jato um dos banqueiros mais ricos do Brasil. Ali, o empresário Carlos Santiago, mais conhecido como Carlinhos, soube que um grupo de executivos do mercado financeiro, liderados pelo banqueiro carioca André Esteves, pretendia fazer negócios pelo país afora.
Carlinhos, dono de uma rede de postos de combustíveis em São Paulo, era uma figura mal-afamada no segmento em que atuava. Fora acusado pela Agência Nacional de Petróleo e por uma CPI no Congresso de adulterar combustíveis. Semanas depois, apesar dessa ficha corrida, Carlinhos já almoçava com Esteves para fechar uma sociedade em postos de combustível.
Nascia ali, no fim de 2008, a Derivados do Brasil, a DVBR, uma rede de 118 postos espalhados principalmente por São Paulo e Minas Gerais. Era um dos primeiros negócios de Esteves no que ele gosta de chamar de “economia real”.
BTG PACTUAL
No ano seguinte, Esteves e seus sócios criaram o BTG Pactual, conglomerado que se tornou, hoje, o maior banco de investimentos do Brasil, responsável por administrar R$ 138,6 bilhões. Ao fazer negócio com Carlinhos, a turma de Esteves apostou que conseguiria comprar combustível barato e vendê-lo caro. Deu errado. Os prejuízos acumulavam-se. Em 2011, após procurar sem sucesso sócios no mercado privado, Carlinhos e os executivos do BTG recorreram à BR Distribuidora, principal subsidiária da Petrobras, que fatura R$ 86 bilhões anualmente. Em julho daquele ano, a BR topou pagar uma pequena fortuna para estampar sua marca na rede DVBR e assegurar que a rede comprasse combustível somente da estatal. Foi um excelente negócio para todos os envolvidos – menos para a BR, como se descobrirá abaixo.
A BR, naquele momento e desde então, era feudo de uma trinca política: a bancada do PT na Câmara, o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão, do PMDB, e o senador Fernando Collor, do PTB. Eles haviam indicado os ocupantes dos principais cargos na estatal. Não é fortuito, portanto, que, nesta semana, Lobão e Collor vão aparecer na lista de políticos que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedirá ao Supremo para investigar na Lava Jato, acusados de receber propina. O presidente da BR era José Lima de Andrade Neto, indicado por Collor e Lobão. Ele continua no cargo.
SOB INVESTIGAÇÃO
O investimento da BR no negócio de Esteves e Carlinhos está sob investigação pela força-tarefa do Ministério Público Federal na Lava Jato. A nova fase de investigações concentrará esforços nos esquemas da BR Distribuidora e na Transpetro – e esquadrinhará as operações da Odebrecht e do BTG, de Esteves, com empresas da Petrobras.
Época teve acesso, com exclusividade, ao conteúdo integral do depoimento que o doleiro Alberto Youssef prestou à Polícia Federal. Diz que houve propina no negócio com a BR Distribuidora – e que ele, Youssef, foi encarregado de entregar o dinheiro. No total, R$ 6 milhões – metade para Collor, uma parte para funcionários da BR e a outra para o principal operador dos esquemas, Pedro Paulo Leoni Ramos, o PP, amigo antigo de Collor. No depoimento, ele descreve, de memória, as linhas gerais do contrato entre a BR e a empresa do BTG com Carlinhos. Erra, segundo executivos envolvidos no negócio, apenas os valores. Diz que, segundo soube, a BR pagaria cerca de R$ 300 milhões à DVBR. No entanto, a empresa do BTG e de Carlinhos, segundo essas fontes, recebeu R$ 122 milhões da BR, em três parcelas iguais. Foi dessa dinheirama que, segundo Youssef, saíram os R$ 6 milhões de propina.
LEONI RAMOS, O PP
E como o doleiro poderia saber disso? Ele diz ter sido acionado para o serviço por Pedro Paulo Leoni Ramos. Desde que Collor indicou diretores da BR, no segundo governo Lula, PP passou a ser o intermediário do senador e dos demais políticos nos grandes negócios da empresa, conforme revelou Época no ano passado. PP entende do assunto. Na década de 1990, PP fora afastado de seu cargo no governo de Collor precisamente após ser acusado de montar um esquema que beneficiava empresas indicadas por ele em contratos com a Petrobras.
Segundo o acertado com PP, Youssef recolheria a propina, em dinheiro vivo, num dos postos de Carlinhos, sua taxa (3% dos R$ 6 milhões) e entregaria o restante a PP. E assim se fez, segundo Youssef. Época ouviu a mesma história, há dois anos, de dois interlocutores de Youssef e de PP.
Para cumprir a tarefa, Youssef diz que manteve contatos apenas com Carlinhos e PP – ele afirma que nunca se encontrou com nenhum funcionário do BTG. Afirma que houve dois pagamentos. No primeiro, diz, encarregou dois de seus auxiliares da coleta e da entrega do dinheiro – Rafael Angulo e Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte. A outra parte, afirma, fora depositada numa conta de Leonardo Meirelles, um laranja de Youssef, em Hong Kong. Ato contínuo, de acordo com Youssef, Meirelles realizou algumas operações cambiais e entregou valores em reais a Youssef. Depois disso, Youssef diz ter entregado os recursos a PP. A propósito, segundo o depoimento, foi o próprio PP quem confirmou a Youssef “a participação do BTG nesse esquema”.

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