domingo, 1 de março de 2015
Caminhoneiro não é médico
Por Milton Simon PiresQuando, em 1840, Alexis de Tocqueville finalmente publicou a segunda parte da “Democracia na América”, ele deixou claro, no final do livro, que as sociedades democráticas são aquelas que maior risco correm de sacrificar, em nome do interesse geral, os direitos básicos de qualquer indivíduo. Viajando pelos Estados Unidos, Tocqueville percebeu quais os riscos que a igualdade generalizada impõem sobre a liberdade individual.
O homem democrático, atomizado, não reconhece mais diferenças de aptidão e capacidade. O mérito individual se dissolve na multidão e cada um recorre a própria razão como medida suprema de decisão. Se a razão individual não é suficiente, a verdade e a justiça nascem abençoadas pela aclamação das massas. No “teatro da justiça”, são os aplausos e vaias da plateia e não os comentários da crítica que definem o valor da peça democrática americana que, mesmo ruim na época de Tocqueville, é uma obra prima se comparada com a ópera bufa bufa petista.
O que, acredito eu, Tocqueville não tenha conseguido imaginar é uma “democracia” levada a um limite tão extremo que a própria definição de interesse do “indivíduo” e da “sociedade” são relativas e dependem de uma interpretação ideológica.
Vamos ao ponto central do artigo: os caminhoneiros brasileiros estão bloqueando estradas. Argumenta-se que isso fere o mais elementar dos direitos de um cidadão e de uma sociedade – o “direito de ir e vir”. Entendo eu que, a partir dessa definição, temos uma “classe” - a dos caminhoneiros – que está prejudicando a sociedade, não é isso? Se isso é verdade, devo pressupor que os caminhoneiros estão excluídos da sociedade, não é? Afinal eles estão prejudicando o direito da “sociedade como um todo”, não estão?
Pois bem, pergunto, eu: e o direito deles, caminhoneiros, à sobrevivência? Quando se trata deles, aí eu posso passar a dizer que é um “interesse de classe” mas não do indivíduo, não é? Assim como me foi dito, tempos atrás, que uma greve dos médicos “não deveria prejudicar a sociedade como um todo”.
A questão é a seguinte: alguém sabe dizer o que é a “sociedade como um todo”?? Eu não sei, mas apesar de não saber já percebi que o Governo Petista não tem dificuldade alguma em definir o conceito - tudo que for contra o partido é contra a “sociedade como um todo”. O que é bom para o Partido é bom para o Brasil.
A prova disso que escrevi é elementar – não se chama Força de Segurança Nacional nem Polícia Rodoviária Federal quando, ao invés dos caminhoneiros, é o Movimento Sem Terra que bloqueia estradas federais. Ou se chama? Ou é mentira isso que eu acabei de escrever ??
Devemos abrir os olhos para ver o quão relativos são os conceitos de liberdade e de direito de ir e vir no Brasil Petista ou vamos continuar sempre repetindo as bobagens e slogans de lugar comum. Para desgraça do Partido dos Trabalhadores, caminhoneiros não são médicos. O PT não tem um Sindicato de Caminhoneiros capaz de mantê-los quietos com ideias de que “a população carente não pode ser prejudicada”...e de que “não podemos perder o apoio dos usuários das estradas”...Não existe, para desgraça dos marginais petistas, um “Sistema Único de Estradas Brasileiras” garantido pela Constituição de 1988.
Dilma não pode trazer motoristas cubanos para o Brasil, né companheiros? Caminhoneiros não fazem faculdade, não são coxinhas, não tem olhos azuis..Não tem “dívida histórica” a ser resgatada com a população depois de formados em “faculdades federais de caminhoneiros”, né ? Caiu a ficha de vocês? Caminhoneiro não é Médico !
Para os Sindicatos Médicos – vocês não enganam mais ninguém..
Milton Simon Pires é Médico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário