segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Vai beijar muito no Carnaval? Saiba os riscos desta prática

Thaís Seixas
A TARDE
  • Arquivo Pessoal
    A estudante Renata (à esquerda) prefere curtir a festa com amigos do que beijar geral
O Dia Internacional do Beijo é celebrado somente em abril, mas os baianos e turistas que visitam Salvador durante o Carnaval preferem comemorar a data já em fevereiro. É nesta época de festa, calor e cerveja que as pessoas se sentem mais soltas e dispostas a encontrar o beijo ideal em meio a dezenas (ou centenas) de bocas disponíveis na avenida.
A tradicional beijação já foi tema de diferentes músicas carnavalescas, como "Ficar com você", do Cheiro de Amor, que resume bem o espírito libertador da folia: "Já beijei um, já beijei dois, já beijei três/ Hoje eu já beijei e vou beijar mais uma vez".
Se tudo são flores (e beijos) durante os sete dias de Carnaval, é depois deste período que podem surgir consequências indesejáveis para a saúde bucal. Inúmeras são as doenças transmitidas através da saliva e que encontram na multidão o ambiente ideal para se proliferarem.
Os problemas variam de cáries e gengivite (inflamação na gengiva) até as doenças causadas por vírus e bactérias, como mononucleose (conhecida como a "doença do beijo"), sapinho (candidíase oral), herpes labial e sífilis, estas últimas classificadas como Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST).
Além destas, há ainda uma discussão na literatura médica sobre a possibilidade de transmissão do vírus da Aids, o HIV, por estas condições. Apesar de muitos especialistas defenderem que não é possível o contágio por meio oral, outros afirmam que há uma pequena chance disto acontecer, se as duas pessoas envolvidas possuírem alguma ferida na boca.
O estudante universitário Ivo Lima, de 24 anos, é um destes foliões que gostam de aproveitar a festa em tudo o que ela tem para oferecer. Segundo ele, é comum beijar de duas a quatro pessoas por dia quando está acompanhado dos amigos. Apesar de não sair na intenção do beijo, Ivo afirma que sempre acontece e tem consciência dos riscos desta prática.
"É um risco beijar nessas festas, e todos sabem pois ninguém é criança. Tanto que, no ano passado, na segunda-feira de Carnaval, tive uma inflamação na garganta", ressalta.
O dentista e cirurgião bucomaxilofacial Igor Fernandes explica que a maioria das doenças possui um período de incubação, o que significa que os sintomas físicos aparecem alguns dias após o contágio.
"A pessoa que curte todos os dias normalmente perde noite, bebe e se alimenta mal. Por isso, algumas doenças já se manifestam nos últimos dois dias de Carnaval. Elas aparecem quando o paciente tem baixa imunidade, o que acontece bastante nestas festas. Outras doenças possuem um período maior de incubação, que pode ser de 30 a 45 dias", revela o especialista.
Beijo Saudável
Com o objetivo de chamar a atenção para os cuidados com a saúde bucal nesta época do ano, a clínica Apollo, da qual Igor é gestor clínico, lançou o "Certificado do Beijo Saudável".
Trata-se de uma campanha de promoção à saúde que oferece um "selo de garantia" - em formato de botton - para quem está liberado a beijar muito durante a festa. "Algumas doenças podem ser prevenidas, como a cárie e gengivite. Outras, como a sífilis e mononucleose, podem ser detectadas através de um exame clínico", enfatiza o dentista.

O dentista Igor Fernandes entrega "Certificado do Beijo Saudável" para paciente
(Foto: Divulgação)

Igor ressalta a importância de um tratamento preventivo, para que o paciente não tenha que solucionar os problemas pós-Carnaval. Segundo ele, a cárie, gengivite, mononucleose e sífilis podem ser curadas. Já a herpes - cujo vírus se modifica - não tem cura, mas há medicamentos que inibem os efeitos e diminuem as feridas.
A melhor prevenção ainda é evitar o beijo, ter um parceiro fixo ou "encontrar alguém com o certificado", brinca o dentista. Se, para alguns, a abstinência parece ser uma meta quase impossível durante o Carnaval, para outros ela é uma prática recorrente.
A estudante de fisioterapia Renata Apolinário, de 25 anos, não acha normal esta "pegação" carnavalesca. Segundo ela, as pessoas conhecem os riscos de contrair doenças, mas pensam "que nunca vai acontecer com elas".
"Tudo o que eu quero quando vou a uma festa é curtir com os amigos e dançar muito, e isso eu faço em todos os sete dias de Carnaval. Essa coisa de beijar, para mim, não faz diferença alguma. Me divirto do mesmo jeito ou até mais", diz.

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