domingo, 1 de fevereiro de 2015

Petrobrás: nunca tão poucos roubaram tanto de tantos


Pedro do Coutto
Este título, os leitores de mais idade já identificaram, está inspirado na frase histórica de Winston Churchill ao destacar a ação dos pilotos ingleses que abatiam as bombas voadoras de Hitler, impedindo assim que explodissem em toda Londres. O episódio pertence ao passado. No presente, em relação à roubalheira que envolveu a Petrobrás, pode-se afirmar com segurança que nunca, em nosso país, tão poucos ladrões roubaram tanto de tantos, no caso a população brasileira.
Basta ler a reportagem de Ramona Ordonez e Bruno Rosa, O Globo, edição de 30, focalizando o escândalo e reproduzindo as declarações feitas pela própria Graça Foster ao tentar explicar as i9ncertezas de sua administração sobre os delirantes assaltos praticados. Enfatizou suas palavras, ao anunciar suspender as obras da segunda etapa da refinaria Abreu Lima, vai rever todos os contratos com as empreiteiras do Complexo Petroquímico (Comperj), no Rio de Janeiro, além de fazer um ajuste maior nos ativos, pois no rastro maligno dos ladrões os roubos podem ter ultrapassado até a escala de 88 bilhões de reais, incluindo-se os prejuízos decorrentes de ineficiências técnicas.
Claro. Pois a ânsia de roubar cada vez mais, foram tocando os empreendimentos de qualquer maneira. Por isso, até agora, Graça Foster não consegue ainda sequer estimar o montante exato dos assaltos, dos desvios, das subtrações, dos seus efeitos concretos no valor dos ativos que constituem o patrimônio da empresa. Inacreditável, porém verdadeiro.
BAIXA NOS ATIVOS
Se necessário, disse ela, de acordo com o texto de Ramona e Bruno, vamos dar baixa nos ativos em que acharmos correto fazer.
Os 88 bilhões de reais são os grandes projetos questionados internamente. Mas não sei o que pode vir pela frente. Se Graça Foster não sabe, digo eu, quem poderá saber? Só o tempo definirá. Enquanto isso os acionistas ficam sem receber dividendos referentes aos resultados de 2014. A diretoria por seu turno não sabe se houve lucro ou prejuízo no exercício passado. Um dos diretores, se houver lucro, admitiu o pagamento dos dividendos a pelo menos médio prazo. Ou então a longo prazo. Sentido vago. O que assinala que a Petrobrás também não está conseguindo estabelecer um sistema pelo menos cordial em matéria de comunicação pública.
ADMITINDO OS ROUBOS
As afirmações da presidente Graça Foster ajustam-se à perfeição ao roteiro das acusações proferidas até este momento pelo Ministério Público Federal, chefiado por Rodrigo Janot, e também às decisões tomadas pelo juiz Sérgio Moro. Evidente. Pois se a presidente da estatal disse publicamente ter dúvida quanto ao volume dos roubos e das propinas, tacitamente confirmou a existência dos crimes. Pois ela não contesta que existiram, apenas não consegue calcular ainda seu verdadeiro volume, sua verdadeira extensão e profundidade. Inclusive porque está revendo tardiamente os contratos em torno das obras de Abreu Lima e do Comperj. Certamente a Procuradoria Geral da República adicionará a reportagem de O Globo ao enorme processo já existente.
Processo, inclusive, que inclui as delações premiadas de diversos participantes do esquema destrutivo montado durante vários anos na principal empresa brasileira. Os ladrões, corruptos e corruptores, já tiveram suas faces reveladas. Mas os omissos ainda não. São também parcialmente responsáveis pelo descalabro e pelo que passou a ser um marco na história da administração pública e na economia brasileira. Pois nunca tão poucos roubaram tanto de tantos. Todos nós, de uma forma ou de outra, fomos roubados.

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