Mas com Mercadante! E isso é um perigo para todos! Agora ela quer adiar pagamento do PIS…
A presidente Dilma
Rousseff está perdidaça! Quase emendo um “coitada!” aqui, seguido da inevitável
exclamação, mas me lembrei depois que ela venceu a (re)eleição há meros três
meses. De súbito, vieram-me à memória suas promessas sobre o novo umbral do
desenvolvimento, que seria possibilitado por seu segundo mandato. Mais do que
isso: o dedo acusatório contra seus adversários se fez de novo presente. Eles
queriam a fome do povo brasileiro. Eles queriam provocar recessão. Eles queriam
aumentar juros. Eles queriam cortar benefícios sociais. Pois é…
Já nem se trata de
acusar o estelionato apenas. É claro que ele está aí, de maneira acachapante.
Confesso que começa a me preocupar a suspeita de que a dita “presidenta” não
bata bem dos pinos mesmo — ou será que tudo o que está aí é só uma articulação
de Aloizio Mercadante, o ministro da Casa Civil? Bem, uma coisa e outra são
iguais…
Em mensagem enviada
ao Congresso, Dilma afirmou, pasmem!, que seu pacote de medidas não é recessivo,
o que nem Joaquim Levy, o técnico que deu formato ao conjunto de ações, ousou
dizer. Ao contrário: em entrevista em Davos, ele previu, sim, ao menos um
trimestre de encolhimento da economia. Dilma, não! E ela fez essa afirmação no
dia em que o Boletim Focus apontou um possível crescimento neste ano de,
atenção, 0,03% — contra 0,13% na semana passada. Pode não parecer, mas a
previsão desta semana é 77% inferior à da semana passada. Isso para uma inflação
anualizada que já furou a casa dos 7%, com taxa de juros, hoje, em 12,25% — lá
na estratosfera. E é assim antes do efeito das tais medidas. Imaginem
depois.
Na mensagem ao
Congresso, Dilma repetiu a ladainha, na qual ninguém acredita, segundo a qual
tudo se deve a uma soma de conjunturas desfavoráveis — a externa, com baixo
crescimento de países ricos e China, e a interna, com a crise hídrica, que
impacta também o setor de energia. Tudo muito ligeiro, buscando dourar a pílula.
E acenou com reformas — sem dizer quais — que seriam a solução mágica para todos
os problemas.
A oposição,
evidentemente, criticou a sua mensagem nefelibata, que está nas nuvens. Disse,
por exemplo, o senador José Serra (PSDB-SP): “[A presidente] Não apresenta uma
estratégia coerente para tirar o Brasil desta situação de crise econômica. Ela
novamente abusa da ideia de propor reformas sem explicar do que se trata, como
no caso das reformas tributária e política”. Na mosca!
E tudo pode ser um
pouquinho pior. Segundo informa nesta segunda a Folha, o governo quer diluir o
abono do PIS, correspondente a um salário mínimo, em 12 meses. O benefício é
creditado na conta do trabalhador ou numa conta da Caixa em quatro datas, no
segundo semestre de cada ano. Tem direito ao pagamento quem recebeu, em média,
até dois salários mínimos mensais no ano anterior. Estima-se que 21 milhões de
pessoas estejam nessa condição. A proposta não está nas duas Medidas Provisórias
que alteram o seguro-desemprego, as pensões e o seguro-defeso.
Dilma está num mato
sem cachorro, mas com Mercadante. E isso quer dizer que continuará perdida. O
resultado das eleições para as Mesas da Câmara e do Senado indica que ela
encontrará severas dificuldades no Congresso. Mas seu ministro da Casa Civil,
com as habilidades de negociador que lhe são inatas, filosofou, com o pensamento
sombreado pelo bigode: “Já recebemos as solicitações dos partidos. [...] A
partir desse momento, começam as negociações com os partidos para definir o
segundo escalão e buscar combinar o critério técnico da competência com o
critério político do apoio parlamentar no Congresso”. Tudo entendido, é
claro!
Então ficamos assim:
Dilma quer o apoio do Congresso para, entre outras delicadezas, adiar o
pagamento do abono do PIS — sim, desta vez, é rebaixamento de benefício
trabalhista mesmo. Com coragem e determinação, envia uma mensagem aos
parlamentares que desafia as evidências factuais mais escancaradas, enquanto seu
homem forte da articulação política abre o balcão explícito da
chantagem.
Dilma, reitero, está
no mato sem cachorro, acompanhada de Mercadante. Acho que vai ficar por
lá.
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