Duas ótimas reportagens publicadas na edição de 29 em O Globo, uma sem assinatura, outra de Vera Araújo, destacam fortemente e sintetizam o panorama de falência que envolve a segurança pública no Rio de janeiro, ameaçando cada vez mais a população carioca e fluminense, já sufocada e até acuada por tantos episódios que vão dos roubos e assaltos constantes até a morte pelos bandidos que agem dia e noite, além das balas perdidas, mensageiras de tragédias que se repetem.
Só neste mês de janeiro, as chamadas balas perdidas fizeram, até o momento em que escrevo na quinta-feira, nada menos que 19 vítimas. Portanto, representam a média absurda de quase um ser humano alcançado por dia, geralmente por disparos de fuzis, que são armas de longo alcance. O Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que tal absurdo decorre das ações de criminosos, que formam uma verdadeira nação do crime dentro do país. Há – assinalou – uma quantidade enorme de fuzis e pistolas no Rio porque falta patrulhamento nas fronteiras do Brasil. Disse, também, já ter cobrado providências do governo federal.
Muito bem. Mas como esses fuzis e pistolas chegam ao alto dos morros que praticamente cercam a cidade, subjugando as pessoas de bem? Um mistério. Pois fuzis, drogas e pistolas não descem por avião ou helicóptero no cume dos morros. Têm que subir pelas encostas, transportadas maciçamente pelos traficantes da morte e da destruição de pessoas. Porque não se fixam pelotões nas entradas dos acessos para impedir o comércio macabro? Beltrame não deixa de, em parte, ter razão, quando se refere à vulnerabilidade das nossas fronteiras. Mas não ilumina o enigma assinalado na passagem final dos armamentos às mãos da bandidagem. Este ponto está exigindo uma explicação pública.
CORTE DE VERBAS
De outro lado, Beltrame já reagiu diretamente ao corte de 1 bilhão e 300 milhões de reais. O governo voltou atrás. Aliás, por falar em situação financeira, a reportagem de Vera Araújo expõe, com total clareza, o que e o quanto a Polícia Militar não paga desde setembro do ano passado nas contas de água e energia elétrica. Com dívidas atrasadas no montante de 19 milhões de reais, encontra-se inadimplente.
Desastre total que transmite à corporação um clima de depressão e consequente desânimo. Um péssimo exemplo de desleixo administrativo e até menosprezo pela PM, acionada dia e noite para enfrentar os criminosos nas batalhas que se travam em todos os bairros, em todas as ruas, em cada esquina da cidade que já foi maravilhosa até um passado não muito distante.
Podia-se andar pelas calçadas, frequentar as praias, visitar jardins, parques, museus, ir-se a cinema e ao teatro com tranquilidade. Hoje, não. A tranquilidade foi para o espaço cortado de balas perdidas ou dirigidas nas lutas entre grupos rivais, ou nos confrontos entre os agentes da morte e integrantes da PM e da Polícia Civil. A tragédia não escolhe endereço. Cada passo que se dá constitui um problema a mais, a um novo desafio a ser superado.
A linha entre a vida e a morte está se tornando a cada dia menos nítida. A diferença entre a segurança e a insegurança passou a ser um enigma. A síntese de todo o drama encontra-se também na omissão dos poderes públicos em efetuar investimentos sociais nas áreas críticas. Mas como? Se o governo Pezão não destina recursos para a Polícia Militar pagar suas contas? Está tudo errado. Apertem o cinto, o piloto sumiu.
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