Conselheiros ameaçaram denunciar estatal na CVM, se perdas de R$ 88,6 bi não fossem divulgadas.
(Valor) R$ 88,6 bilhões é a cifra que os brasileiros devem ter em mente, a
partir de agora, para avaliar o tamanho do problema provocado pela
gestão da Petrobras nos últimos anos - não apenas por corrupção, mas
também por ineficiência, orientação política e risco do próprio negócio.
Esse número foi apurado após um pente-fino em 52 empreendimentos da
estatal, que tiveram como fornecedores empresas citadas na Operação
Lava-Jato. O valor foi obtido a partir de um estudo individual de cada
ativo, como se não fizessem parte da mesma companhia. Portanto, ele
exclui as sinergias da operação conjunta - fato que pode levar a uma
redução do ajuste e, num extremo pouco provável, torná-lo desnecessário.
A partir desse número, a diretoria da Petrobras terá de chegar a um
entendimento com sua auditora, a PricewaterhouseCoopers, sobre o efetivo
ajuste nas demonstrações financeiras - se ele será feito e qual seu
montante. Os R$ 88,6 bilhões representam a diferença entre o valor pelos
quais os ativos estão registrados no balanço da Petrobras e o preço que
um terceiro aceitaria pagar por eles, conceito conhecido como "valor
justo".
A divulgação dessa cifra bilionária dominou as discussões da reunião
do conselho da Petrobras, presidida pelo ex-ministro da Fazenda Guido
Mantega, na segunda feira, que durou quase dez horas. O Valor
apurou que representantes do governo não queriam inicialmente divulgar o
número, ainda não definitivo. Os conselheiros independentes ameaçaram
denunciar o caso à CVM e renunciar aos cargos caso o dado não fosse
divulgado. A decisão de informar prevaleceu, porque a cifra, apurada nas
avaliações de duas empresas independentes - Deloitte e BNP - foi
considerada, ao final, um "fato relevante". A Petrobras espera publicar
seu balanço completo, auditado, no fim de maio.
O Valor também apurou que a presidente da estatal,
Graça Foster, deve ser substituída quando ficar claro que ela não teve
envolvimento no esquema de corrupção. Na avaliação do Planalto, o
afastamento de Graça, neste momento, poderia deixar dúvidas sobre sua
participação nas irregularidades.
Investidores se decepcionaram com o fato de a Petrobras não ter
realizado a tão aguardada baixa contábil em seu balanço e venderam ações
da estatal, que lideraram a lista de baixas de ontem na bolsa de São
Paulo - Petrobras PN caiu 11,2% e ON, 10,47%. Em nota, o presidente da
gestora americana Aurelius Capital Managment, Mark Brodsky, afirmou que a
empresa corre o risco de entrar em default técnico.
BLOG DO CORONEL
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