segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Maior baía do país tem ilhas, esconde naufrágios e é retrato da desigualdade


Baía de Todos-os-Santos tem 1.233 km e é a segunda maior do mundo.
G1 mergulhou em navio, flagrou ação da Marinha e visitou praia paradisíaca.

Do G1 BA*
Baía de Todos-os-Santos (Foto: Ruan Melo/G1)G1 navega pela Baía de Todos-os-Santos; na foto, vista da Avenida Contorno (Foto: Ruan Melo/G1)
O ano era 1501 quando as primeiras embarcações colonizadoras navegaram por águas amplas, límpidas e calmas. Hoje, 513 anos depois, elas resistem com ecossistema singular e guardam naufrágios que remontam à chegada dos portugueses. O "grande mar" Tupinambá, tradução de "kirimurê", batismo dado pelo povo indígena, abrange 1.233 km de extensão e mais de 50 ilhas. É a maior baía do país e a segunda maior do mundo, atrás apenas do Golfo de Bengala.
Em mais um 1º de novembro, data em que a Baía de Todos-os-Santos foi descoberta, a equipe do G1 navegou nesse mar, mergulhou em suas profundezas, visitou praia desconhecida, que já foi reduto de artistas da MPB, conversou com marinheiro, pescadores e pesquisadores. As ilhas revelam igrejas, como a de Itaparica, fundadora da matriz religiosa católica no Brasil, ou a Igreja de Nossa Senhora de Loreto, símbolo da atuação dos jesuítas, responsáveis pelo processo de catequização indígena. “Tivemos sorte. Se os portugueses atrasassem um dia, ela se chamaria Baía de Finados", brinca o historiador Ricardo Carvalho.
Assim ele explica a origem do nome dado pelos europeus. "A tradição era batizar as grandes descobertas com o nome do santo do dia ou do acontecimento religioso daquela data, e 1º de novembro é Dia de Todos os Santos". Ainda como "kirimurê", a grande baía era utilizada para funções de subsistências como a pesca e a caça de baleias para a extração do óleo, valioso e utilizado em construções da época. Hoje ela é fonte de exploração de petróleo e um dos mais importantes roteiros turísticos do país.
É sobre a área da baía que será erguida a ponte Salvador-Ilha de Itaparica, ligando a capital às regiões do Recôncavo Sul e o Baixo Sul. De acordo com o governo, a estrutura terá 12,2 km de extensão e ficará na 23ª posição no mundo entre pontes sobre mar, rio ou baía, sendo ainda a segunda maior da América Latina. O edital de licitação deve ser lançado até o fim de 2014.
Considerada a Amazônia Azul, dessas águas saem a subsistência de ribeirinhos e pescadores, bem como servem de "piscinas" particulares de píers de prédios de luxo situados no Corredor da Vitória, em Salvador, ou "tapete" para desfile de lanchas e veleiros.
Visita ao fundo do mar
É fim de semana e a praia de Boa Viagem, uma das mais procuradas da Cidade Baixa, está lotada. Do barco, é possível ouvir a música e ver banhistas animados. Foi ali, bem em frente ao Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat, imponente na paisagem, que a equipe encarou o primeiro mergulho. A atração era o Blackadder, nome do navio norueguês que não resistiu a uma forte tempestade e naufragou em 1905. Desde 1999, quando foi descoberto, a embarcação estruturada em metal se tornou ponto certo de visita na baía.
Equipados com máscara, nadadeiras, colete equilibrador, respirador, cilindro de oxigênio, e depois de instruções sobre como respirar debaixo d´água, começa finalmente o mergulho, que chegou a quase 10 metros de profundidade. Não é possível ver a forma exata do navio, no entanto, nos destroços, há ainda partes como proa, mastro, âncora e convés, perceptíveis a aventureiros mais experientes. O tempo de fundo levou pouco mais de 30 minutos.
Cavalo-marinho no fundo da Baía de Todos-os-Santos (Foto: Genser Freire/Arquivo pessoal)Cavalo-marinho no fundo da Baía de Todos-os-
Santos (Foto: Genser Freire/Arquivo pessoal)
De volta ao barco, a parada seguinte foi um ponto atrás do Porto de Salvador. O paredão que delimita a área portuária é a referência. Embaixo da superfície, o quebra-mar serve de guia para o percurso de 1 km a favor da correnteza. Em uma das pedras, quase confundido com o colorido dos corais, lá estava um cavalo-marinho de cor vermelha. Cardumes com peixes de tamanhos e cores variadas são vistos a todo instante.

Entre os naufrágios, também há um navio chinês pesqueiro chamado Ho Mei III, a 15 metros de profundidade, e o Cavo Artemidi, cargueiro grego distante uma hora da costa. Quem mergulha pode se deparar com moluscos em geral, como polvos ou lula, e até animais mais desconhecidos, a exemplo dos ctenóforos - transparente, parecem uma medusa e tem pontos de luminosidade. Golfinhos não são raros e peixes recifais são companheiros constantes. Para quem gosta de recifes, os mais recorrentes são Mussismilia hispida e Mussismilia cavernosa, que ficam na Ilha de Itaparica, Ilha dos Frades, Ilha de Maré, por exemplo.
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Tubastrea tagusensis no naufrágio Cavo Artemidi, na Barra, em Salvador (Foto: Carla Menegola/ Instituto de Biologia da UFBA)Tubastrea tagusensis no naufrágio Cavo Artemidi,
na Barra, em Salvador
(Foto: Carla Menegola/ Instituto de Biologia UFBA)
Coral-sol: o invasor - Em meio a gramas marinhas, manguezais, recifes, corais e fundo mole, a vida marinha convive há pelo menos sete anos com a bioinvasão do coral-sol, que pertence ao gênero Tubastraea e é temido por pesquisadores pela forma como destrói espécies nativas. Carla Menegola, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e coordenadora local do Projeto Coral-Sol, cuja sede é no Rio de Janeiro, conta que, na luta por espaço, esse tipo de coral ameaça a variedade de espécies originais – algumas inclusive desconhecidas - da flora subaquática.
“Sabemos que tem a possibilidade de diminuir a biodiversidade. Não temos aqui registro formal de algum organismo que estivesse predando o coral-sol. Eles são corais exóticos, carnívoros. Podem estar em regiões sem luz, de águas turvas, como Estuário do Paraguaçu. Outra questão é a rapidez que ele mostra em colonizar a parte inferior das colônias. É uma guerra química por espaço. Se colocarmos um coral nativo como a Mussismilia hispida e um dele, por exemplo, do mesmo tamanho, o nativo leva de 30 a 60 dias para desaparecer. A grande preocupação, aqui na baía, é porque temos Abrolhos com corais imensos”, afirma Menegola.
Segundo a pesquisadora, o Coral-Sol partiu da América do Norte e chegou ao Atlântico ainda na década de 1980, entrelaçado em estruturas de plataformas de petróleo. No fundo do mar, chama atenção pela coloração, entre amarelo-ouro e tons alaranjados. É composto por pólipo central e envolvido por tentáculos. Pesquisadores apontam o Estuário do Paraguaçu como ponto de foco dele na baía, tendo em vista a quantidade de plataformas de petróleo paradas.
Da varanda, uma baía
É da sua varanda, uma construção de dois andares "espremida” entre outras tantas casas na comunidade humilde da Gamboa, centro de Salvador, que Carla de Jesus Santos contempla diariamente a sua baía. Uma residência simples, bem diferente dos grandes edifícios acima, mas uma das poucas a oferecer o prazer de estar tão perto de um dos maiores patrimônios da cidade.
"Dormir e acordar apreciando tudo isso aqui é o mesmo que estar nos braços de uma mãe. Isso aqui é um privilégio. Quem não queria dormir e acordar apreciando essa vista maravilhosa? Isso é uma coisa única, que muitos querem e não podem. O pessoal desses prédios grandes paga uma fortuna para ter isso. Eu me sinto orgulhosa de viver na Gamboa. Não me imagino vivendo em outra lugar”, garante Carla.
Baía de Todos-os-Santos (Foto: Ruan Melo/ G1)Carla garante que não troca vista de casa por nenhuma oferta em dinheiro (Foto: Ruan Melo/ G1)
Carla e seus vizinhos podem contemplar o nascer e o pôr-do-sol realçado pela Baía de Todos-os-Santos. Entre as praias preferidas por ali está a “Prainha”, como é popularmente conhecida, ou “Shangrilá”, como descreve o escritor baiano Jolivaldo Freitas, no livro “Histórias da Bahia”. Uma praia formada em um trecho de pedras nas proximidades da comunidade da Gamboa, que oferece uma água transparente e uma vista única.
“A lenda urbana diz que ela teria sido batizada [de Shangrilá] por Caetano Veloso. É uma praia pouco conhecida porque nunca houve divulgação. Ela não pertence ao circuito turístico pela dificuldade de acesso. Mas quem passa de lancha, de veleiro, acaba vendo e fica vislumbrado”, conta o escritor.
Além das suas belezas naturais, a baía também oferece aos moradores da Gamboa meios de subsistência. “Aqui tem de onde tirar nosso sustento. Não é só da beleza que a gente vive. A gente vive da pesca e, claro, aproveita a beleza para trazer as pessoas de fora para conhecer a comunidade. Não tem nada que pague isso. Se me oferecerem um milhão, não vendo minha casa porque estaria abrindo mão de tudo aquilo que vivi e continuo vivendo”.
Gamboa (Foto: Ruan Melo/ G1)Moradores da Gamboa 'dividem' a vista com vizinhos de prédios mais ao alto (Foto: Ruan Melo/ G1)
Uma ilha-estrela
O dia começa cedo e, antes mesmo da noite chegar, muitos já dormem. Por conta da pesca, fonte principal de renda da maioria dos moradores, a ida para o mar começa na madrugada. É dessa rotina que o barraqueiro e pescador Antônio Moreira, 58 anos, tira seu sustento. Ele mora na Ilha dos Frades, um território formado por 15 pontas que se parece uma estrela, detalha o historiador Ricardo Carvalho.
Vista da Ilha dos Frades a partir do local onde fica a Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe. (Foto: Maiana Belo/G1 BA)Vista da Ilha dos Frades a partir do local onde fica a Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe (Foto: Maiana Belo/G1 BA)
Os visitantes chegam geralmente pela praia de Nossa Senhora de Guadalupe. No local, há um monte que abriga igreja do mesmo nome. Receptiva, a comunidade produz artesanato ou abre as portas da casa como pousadas para abrigar turistas. Um casal paga, em média, R$ 80, com café da manhã.
“Os turistas vão e voltam. A gente não. Nós ficamos aqui sempre, nascemos e continuamos morando aqui. Isso tudo é maravilhoso, não tem dinheiro que pague essa beleza. A vida aqui é tranquila. Quando vou para a cidade, me sinto mal, tenho até dor de cabeça”, fala, em tom de brincadeira, Antônio Moreira. Ao redor da Ilha dos Frades, há outras diversas, entre elas a de Itaparica, que se divide em dois municípios: Itaparica e Vera Cruz. A viagem dura 40 minutos. Lá, facilmente se encontra alguém para ser o guia da região.
Edison trabalha como guia turístico, em Itaparica. (Foto: Maiana Belo/G1 BA)Edison trabalha como guia turístico em Itaparica
(Foto: Maiana Belo/G1 BA)
Edison Sacramento, 33 anos, por exemplo, atua na função desde os cinco anos. “Comecei cedo a trabalhar para ajudar em casa. Minha mãe era gari e meu pai açougueiro. Tenho nove irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe. Mas meu pai tem 33 filhos na rua. Conheço uns 20, alguns moram aqui [Itaparica], outros eu não conheço”.
Aos 12 anos, Edison fez um curso de guia, com uma seleção que disponibilizava 54 vagas. Ele passou em segundo lugar. Depois, não quis mais parar. “Eu faço a coisa mais gostosa do mundo. Gosto demais desse contato com o público. Falo francês, espanhol e italiano, aprendi sozinho. Consegui construir uma casa com três quartos, que mora eu, minha mãe e mais três irmãos”, conta. O passeio guiado custa R$15 e ele leva turistas para verem a casa de João Ubaldo Ribeiro, a orla da praia de Ponta de Areia, a casa de veraneio que era de Vinicius de Moraes, além da Fonte da Bica, conhecida como "fonte da juventude".
Ponte construída para facilitar entrada e saída de passageiros na Ilha de Maré (Foto: Maiana Belo/G1)Ponte construída para facilitar entrada e saída de passageiros na Ilha de Maré (Foto: Maiana Belo/G1)
Preservação e arte
O artista plástico Marcos Bulhões aproveita o lixo recolhido por mergulhadores do Projeto Fundo Limpo para criar o “Mosaico de Lixo Marinho”, montagem feita com material reciclável, que está em exposição em uma das paredes ao lado do Forte de Santa Maria, no Porto da Barra. Em pouco mais de 15 minutos de mergulho, oito sacolas cheias foram retiradas por mergulhadores do fundo do mar da Barra, observou a equipe do G1.
"Comecei a utilizar o material recolhido para aplicar nas imagens, com temas relacionados à vida marinha: o polvo, a baleia, o cavalo-marinho. Eu projeto a imagem e faço um desenho no papelão. Depois, corto, revisto com tecido e agrego todo o restante do material recolhido”, diz. O artista aproveita desde latas e sapatos a roupas descartadas indevidamente no mar. “É um trabalho de reflexão para que as pessoas deem sua contribuição. Se cada um fizer sua parte e não descartar lixo no mar a situação vai melhorar bastante”, acredita.
Arte com lixo retirado da Baía de Todos-os-Santos (Foto: Ruan Melo/G1)Marcos Bulhões transforma em arte o lixo retirado da Baía de Todos-os-Santos (Foto: Ruan Melo/G1)
Bruno Rocha, diretor geral do Projeto Fundo Limpo, estima que cerca de 2,6 mil kg de lixo foram retirados de quatro pontos da praia da Barra por mergulhadores em 2014 - 483 kg somente no mês de setembro. Entre os materiais mais encontrados, estão sacos de lixo e garrafas, mas até máquina de lavar industrial e enceradeiras já foram retiradas do mar. Mais de 70 mergulhadores atuam no projeto. A parte reciclável é levada a uma ONG e o restante entregue à prefeitura.
Forte proteção
Um dos mais bonitos e importantes cartões-postais da Baía de Todos-os-Santos está fechado para visitação desde 2011. Em reforma, o Forte São Marcelo deve voltar ao roteiro turístico até o final de 2015. O projeto prevê um restaurante com espaço multiuso e um centro de referência da memória.
Forte São Marcelo, na Baía de Todos os Santos, em Salvador. (Foto: Maiana Belo/G1 BA)Forte São Marcelo, em formato circular, é atração da Baía de Todos os Santos. (Foto: Maiana Belo/G1 BA)
O forte passará por restauração nas fundações, estabilização da estrutura, além de recuperação e conservação dos ambientes. De acordo com o Iphan, o projeto será financiado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas com custo de R$ 7,6 milhões. O patrimônio é um dos mais importantes do ponto de vista histórico, turístico e arquitetônico da Bahia. A justificativa da sua construção foi aumentar as defesas da cidade diante da ameaça de nova invasão holandesa, em 1650.
A planta, de forma aproximada circular, é constituída por um torreão central envolvido por um anel de mesma altura formado pelo terrapleno perimetral e quartéis. A construção do forte foi iniciada pelo engenheiro francês Felipe Guiton e continuada pelo conterrâneo Pedro Garcin. É em cantaria de arenito até a linha de água e o restante em alvenaria de pedra irregular. Possui teto em abóboda de berço e, no interior, podem ser encontrados bancos embrechados de conchas.
Erguido sobre um pequeno banco de arrecifes a cerca de 300 metros da costa, fronteiro ao Centro Histórico de Salvador, destaca-se por estar dentro das águas, como o Forte Tamandaré da Laje, no Rio de Janeiro, e ser o único de planta circular no país, inspirado no Castelo de Santo Ângelo, na Itália, e na Torre do Bugio, de Portugal. O forte foi inscrito nos Livros de Belas Artes e Histórico, em 25 de maio de 1938.
Olhos atentos
A segurança da baía é responsabilidade da Capitania dos Portos, que da parte sul à norte exerce a função de prevenir, fiscalizar e ordenar o tráfego aquaviário. Os locais com maior incidência de infrações são as praias do Porto da Barra e de São Tomé de Paripe, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, que recebem o maior número de turistas e embarcações ao longo do ano. “Condutor desabilitado, embarcação sem inscrição na Capitania dos Portos, sem extintor de incêndio, com colete em número insuficiente são os casos mais corriqueiros”, conta o capitão de fragata Edson Lima Cordeiro.
Baía de Todos-os-Santos (Foto: Ruan Melo/G1)Segurança na baía é feita por olhos atentos de homens da Marinha (Foto: Ruan Melo/G1)
Diante de todo trabalho na proteção à baía, o capitão se considera privilegiado em poder trabalhar em local de beleza "inestimável". “Sou vibrante por minha carreira e com um ambiente desse as minhas tarefas ficam muito mais fáceis”, elogia.
Entre abril a novembro, oito pessoas, entre marinheiros e sargentos, fazem abordagens diárias a diversos tipos de embarcações, seja de uso pessoal ou transporte de turistas. Entre dezembro e março, o número dobra em razão da Operação Verão, quando aumenta a chegada de turistas e embarcações. “A intenção é verificar se as embarcações estão registradas, se o condutor está credenciado, se possui colete salva-vidas, se tem balsa salva-vidas para todos, sinais sonoros e luminosos, tudo isso visando a salvaguarda da vida humana no mar”, explica o capitão de fragata Edson Lima Cordeiro.
Em situações de poluição ambiental, causadas por embarcações, plataformas ou instalações de apoio, a Marinha é responsável por colher amostras e enviar para análise. A capitania também é responsável pelo resgate em casos de naufrágios. “Em 2013, tivemos conhecimento de 12 casos de naufrágio e, em 2014, três. Isso de nosso conhecimento, porque pode naufragar em área deserta”.
Baía de Todos-os-Santos (Foto: Ruan Melo/G1)Baía de Todos-os-Santos (Foto: Ruan Melo/G1)

Expediente - Especial Baía de Todos-os-Santos
Produção: Rafaela Ribeiro
Textos: Maiana Belo, Rafaela Ribeiro, Ruan Melo e Tatiana Dourado
Edição: Rafaela Ribeiro e Tatiana Dourado
Colaboração: Egi Santana, Lílian Marques e Valma Silva

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