sábado, 29 de novembro de 2014

Professora do ES cria projeto com crianças sobre a consciência negra


O 'Karingana' valoriza a história e a cultura da África em sala de aula.
Fabíola mudou a decoração da sala e conta histórias de pessoas negras.

Do G1 ES, com informações da TV Gazeta
A aula da professora Fabíola Fraga leva muito mais do que os conhecimentos básicos aos alunos da Escola de Educação Infantil Jacyntha Ferreira Souza Simões, em Vitória. Ela criou um projeto chamado "Karingana", que valoriza a história e a cultura da África, em ensina às crianças entre quatro e cinco anos que todas as pessoas têm sua beleza, independente da cor. Através da contação de histórias e de uma exposição de bonecas, ela conseguiu conquistar esse pequeno público e acredita que com pequenos atos é possível diminuir o preconceito racial.
O nome diferente do projeto é uma palavra africana que significa "contar uma história". "Em Moçambique, no continente Africano, antes de se iniciar uma história, as crianças pedem por essa história falando 'Karingana wa Karingana'. Quando termina essa história, elas cantam 'Karingana wa Karingana'", explicou a professora Fabíola.
De acordo com a educadora, os alunos já estão entendendo bem a intenção do projeto e sempre elegem suas histórias preferidas. Mas um cantinho da sala se tornou o mais especial. Nele, os alunos e a professora montaram uma exposição com fotos de reis, rainhas e princesas africanas, mas também de outras pessoas negras, que servem de inspiração para as crianças.
Algumas até levaram fotos da própria família, o que emocionou Fabíola. "Na nossa sala de aula, aprendemos que nós descendemos de reis e rainhas, príncipes e princesas, e que o turbante é a nossa coroa", contou.
Fabíola contou que precisou importar bonecas negras (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)Fabíola contou que precisou importar bonecas
negras (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)
'Cadê as bonecas negras?'
Em um outro canto da sala, uma mesa enche os olhos das meninas. Ela está cheia de bonecas negras, vestidas como princesas africanas, roupas típicas baianas, e até princesas da Disney. Mas acima dessa mesa, um cartaz com uma pergunta chama a atenção: "Onde estão as bonecas negras?". Apesar de um bom acervo de brinquedos, a professora contou que precisou importá-los, com dinheiro do próprio bolso, pois não encontrou no Espírito Santo.
Ela disse que chegou a ouvir, em algumas lojas, que as bonecas não eram vendidas porque não tinham saída. "Eu encontrava bonecas tipo bebês, mas não era isso que eu queria. Queria princesas africanas, bonecas que servissem de inspiração. Importei a princesa Tiana em três versões, dos Estados Unidos. Também encomendei uma boneca jamaicana, outra do Quênia, outra de Gana, e até uma princesa egípcia", explicou a educadora.
Literatura
Para o projeto, Fabíola também comprou mapas da África, produziu com os alunos esculturas de bonecas, máscaras e criou todo um universo de discussão, com contribuição das crianças, que costumam compartilhar experiências. Mas a literatura é o principal elo de todo o trabalho em sala.
Um dos livros que encantou os alunos foi o "Bruna e a Galinha D'Angola". "Eu gosto da galinha d'Angola. 'Coitada, coitadinha, da galinha-d'Angola. Não anda ultimamente, regulando da bola'", recitou a estudante Amanda, de cinco anos.
Um projeto como esse é tratado com muito carinho e emoção pela professora Fabíola, que faz tudo baseado na Lei 10639/ 2003 (art. 26 - LDB), que promove a educação infantil e a igualdade racial. Assim, ela acredita que seus objetivos estão sendo alcançados.
"Tudo foi pensado e repensado para ser levado ás crianças de uma maneira gostosa, prazerosa, de acordo com a faixa etária deles. Nada que viesse a traumatizá-los. Nós temos que ser felizes como somos. Nós negarmos essa oportunidade, da criança afrodescendente e negra, de se sentir amada e se amar, de se sentir bela, é uma maldade. Então é uma responsabilidade nossa, de fazer essas crianças se sentirem bem como são", finalizou a educadora.
Toda a decoração da sala foi mudada para aproximar os alunos da cultura africana (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)Toda a decoração da sala foi mudada para aproximar os alunos da cultura africana (Foto: Reprodução/ TV Gazeta)

Nenhum comentário:

Postar um comentário