FLÁVIO TAVARES / ARQUIVO
Queima e depredação de ônibus estão entre as 569 ocorrências registradas em todo o Estado
As ações de vandalismo no transporte público em Minas têm causado
rombos milionários. Os prejuízos com ônibus depredados, objetos furtados
e pichações em estações do Move, além de abrigos para passageiros
destruídos, muitas vezes acabam sendo pagos pelos próprios usuários.
Só para se ter uma ideia, mais de 40 ônibus são depredados todos os
meses em Minas, sendo uma média de 18 apenas em Belo Horizonte. Os
veículos são alvos de todo o tipo de vandalismo, como pichações, ataques
com pedras e incêndios criminosos. Entre agosto de 2013 e agosto deste
ano foram 569 ocorrências deste tipo em todo o Estado. Na capital, foram
232 casos no mesmo período, de acordo com a Secretaria de Estado da
Defesa Social (Seds).
Um problema que gera prejuízos não apenas para as empresas, mas também
para o usuário de transporte coletivo. “Muita gente não tem consciência,
mas, na prática, é o passageiro que paga esta conta da depredação.
Esse valor está embutido nas altas tarifas cobradas. O empresário
mantém o seu lucro e nós arcamos com os gastos”, afirmou a diretora da
Associação dos Usuários de Transporte Coletivo de Belo Horizonte e
Região Metropolitana (AUTC), Gislene Gonçalves dos Reis.
A própria BHTrans reconhece que o vandalismo provoca aumento nos custos
das concessionárias, que podem repassar esse índice para o consumidor.
Segundo a empresa, “os custos operacionais, assim como as receitas e os
investimentos envolvidos na operação do sistema de transportes fazem
parte do fluxo de caixa previstos nos contratos de concessão que
resultam na taxa interna de retorno (TIR) estipulados nos referidos
contratos”.
Embora a BHTrans confirme o contrário, o Sindicato das Empresas de
Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) alega que o gasto
com a recuperação de veículos depredados não consta na planilha de
composição de custo tarifário. Em nota, o sindicato informou que “os
prejuízos são integralmente absorvidos pelas empresas, que, por
exigências operacionais, mantêm veículos reservas para a imediata
substituição de veículos sinistrados, avariados ou que demandem
manutenção preventiva”.
Além da questão financeira, o passageiro ainda é penalizado com a
diminuição no número de ônibus por causa do vandalismo. Dependendo da
quantidade de ocorrências e da extensão do estrago, pode ocorrer a
inviabilidade de substituição de veículos no prazo necessário para
manter o nível de qualidade exigido para prestação do serviço aos
usuários.
“A frota atual já é pequena para atender a demanda e a situação fica
ainda mais crítica quando isso acontece. É a ação de alguns que
prejudica a vida de todo mundo”, avalia Gislene. Um problema registrado
com maior frequência após partidas de futebol. De acordo com a BHTrans,
nesses casos, dependendo do grau de vandalismo, a paralisação do veículo
para reparos pode exigir dias subsequentes aos jogos.
A queda na qualidade dos serviços prestados aos usuários pela
utilização de veículos reservas para substituição daqueles depredados,
também é reconhecida pelo Setra-BH. O sindicato não soube informar o
valor estimado do prejuízo causado pelo problema na capital mineira.
Nas estações do Move, pichações e furtos de fechaduras e tampas de vasos sanitários
As estações do Move já sofrem com as depredações, que vão desde
pichações, furto de fechaduras de portas e tampas de vasos quebradas ou
retiradas. Em muitos casos também são levadas as papeleiras,
saboneteiras, válvulas de descarga e até as louças do banheiro. A
fiscalização insuficiente leva à impunidade dos vândalos.
Na plataforma Pampulha, as fechaduras das portas do banheiro não
existem mais, bem como as tampas dos vasos sanitários, que foram
quebradas. As válvulas das torneiras foram arrancadas. Segundo um
funcionário do local, que não quis se identificar, o problema vem
ocorrendo desde a inauguração do terminal, há cinco meses. “Não há quem
fiscalize isso”.
A parede de uma das escadas está completamente pichada e com marcas de
calçados. Os pisos táteis começaram a soltar e alguns pontos e os
degraus das escadas foram quebrados.
Nessa quinta-feira (2), na estação São Gabriel, em operação desde
abril, um dos banheiros femininos estava fechado devido ao furto da
válvula da descarga. Para controlar a entrada nos banheiros das
estações, a BHTrans começou a cobrar R$ 0,50. A verba será será usada na
manutenção dos espaços.
O vandalismo tem causado revolta em quem depende do transporte
coletivo.“Para que pagamos impostos? A obra é feita e as pessoas
quebram, mas o dinheiro para reparar os danos também sai do nosso
bolso”, desabafou o vendedor Victor Abreu,de 27 anos.
Nas estações da avenida Antônio Carlos, as portas automáticas, que só
deveriam abrir quando o ônibus chega ao local, ficam abertas o tempo
todo. Alguns pessoas chegam a colocar a cabeça para fora, aumentando o
risco de acidente. “Outras aproveitam para ter acesso à estação sem
pagar a tarifa”, afirmou a farmacêutica Priscila Oliveira, 27 anos.
De acordo com a BHTrans, a responsabilidade pela manutenção dos ônibus é
do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo
Horizonte. A reportagem tentou entrar em contato com a assessoria de
imprensa do órgão, mas as ligações não foram atendidas.
Em relação às pichações, furtos e depredações, a BHTrans informou que
são casos de segurança pública e que aciona a Polícia Militar para
atender às solicitações, mas não detalhou como é feita a vigilância para
coibir esse tipo de crime.
Informou ainda que a cobrança pelo uso do banheiro “não está relacionada a depredações”.
Por ano, reparo em abrigo de ônibus custa R$ 3,6 mi
Reparos em abrigos de ônibus destruídos por atos de vandalismo,
desgastes e batidas de veículos na capital mineira custam, por ano,
cerca de R$ 3,6 milhões aos cofres públicos. A média é de 20 unidades
danificadas por mês, gerando um custo de manutenção em torno de R$ 300
mil. Em toda a cidade estão instalados 2.300 abrigos – 480 deles na área
central.
Atualmente, os reparos são pontuais, de acordo com a BHTrans. Com o fim
do contrato com a empresa responsável pelo serviço, uma nova licitação
foi aberta no primeiro semestre deste ano. No entanto, não há previsão
de finalização do certame.
Na opinião de Gislene Gonçalves dos Reis, diretora de comunicação da
Associação de Usuários do Transporte Coletivo da Grande Belo Horizonte, a
depredação dos pontos de ônibus acontece porque as pessoas estão
revoltadas com a ineficiência do serviço oferecido. “Atrasos e
superlotação indignam os usuários. Porém, não se resolve um problema
criando outro. Quem paga o prejuízo somos nós”.
O período da noite é o preferido pelos vândalos para agirem. “É quando o
policiamento diminui. Eles picham, quebram tampos e as coberturas de
acrílicos. Muitas vezes, quem estraga reclama depois na associação”,
frisa Gislene.
A proteção dos espaços públicos, incluindo os abrigos de ônibus, é de
responsabilidade da Guarda Municipal, que conta com 2.200 homens para as
rondas. Em caso de ocorrência, o agente aciona a Polícia Militar.
Se o valor gasto com a manutenção hoje é considerado alto, antes o
custo era bem maior: R$ 500 mil por mês. A redução foi possível porque
houve troca no tipo de material usado na confecção dos abrigos. Muitas
chapas metálicas, alvo dos vândalos para venda em ferro-velho, foram
substituídas por material do tipo policarbonato.
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