sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Centenário: junto há 70 anos, amor por Porto Velho é contado por casal


Euro Tourinho, 92 anos, e Maria Kang, 87, se casaram na década de 1940.
'Nunca pensei em ir embora daqui', diz Euro.

Camilo Estevam Do G1 RO
Euro e Maria Tourinho na festa de Bodas de Vinho (Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)Euro e Maria Tourinho na festa de Bodas de Vinho (Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)
Prestes a completar "Bodas de Zinco”, 71 anos de casados, Euro Tourinho, de 92 anos, e a esposa Maria Kang Tourinho, 87, acompanharam juntos grande parte da história e do crescimento de Porto Velho. Apaixonados pela capital rondoniense, que completou 100 anos na última quinta-feira (2). O casal afirma que nunca pensou em deixar a cidade. Eles chegaram ao município na década de 1940, final do segundo Ciclo da Borracha. De lá pra cá, formaram uma família com nove filhos, 34 netos, 27 bisnetos.

O início da história de amor do casal começou em Manaus, em mais um desses encontros do acaso. Maria Kang tinha apenas 15 anos quando conheceu Euro. Ele havia saído de Porto Velho para estudar em um colégio da capital amazonense e durante esse período foi convocado para o Tiro de Guerra, instituição do Exército que formava reservistas.
Com o acumulo de funções precisou de um local para se alimentar entre as atividades. O estabelecimento escolhido foi o restaurante do chinês Kang, pai de Maria. "Meu pai era bom cozinheiro, cozinhou até para o presidente. O Euro foi lá pra fechar um valor mensal e o velho chinês foi com a cara dele e aceitou. Eu estudava e tomava conta do caixa. Nos entrosamos bem. Parece que já estava tudo calculado", lembra dona Maria.  "Ele gostava de comer bem e eu recomendava lá para o pessoal da cozinha pra dar uma caprichada", completa ela, sorrindo. Com o tempo eles se aproximaram aos poucos e começaram a namorar, até se casarem em 1943.
Casal e a família, ao todo são mais de 70 decendentes (Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)Casal e a família, ao todo são mais de 70 decendentes (Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)
A capital de Rondônia entrou na vida do casal no fim de 1944, quando já tinham o primeiro filho, com um ano de idade. O pai de Euro havia morrido em um seringal, na região de Jaci-Paraná. Foram 16 dias de viagem de barco de Manaus a Porto Velho. Ele precisou cuidar do Seringal Minas Novas, que pertencia ao pai falecido. "Maria me ajudou bastante e ajuda até hoje. No seringal fez as pessoas baratearem os custos. Os ensinou a fazer caldo de cana, rapadura, farinha, bolo de macaxeira", diz.
Após seis meses, o seringal foi vendido e Euro se tornou comerciante em Porto Velho, abrindo um salão de sinucas. "O maior da Região Norte", garante ele. A esposa foi contrata como funcionária pública do Território Federal do Guaporé, como era chamado Rondônia na época.
Na década de 1950, Euro fez amizade com jornalistas, e após insistência deles começou a escrever para o jornal Alto Madeira, que pertencia ao seu amigo, o empresário e jornalista Assis Chateaubriand. Tourinho se tornou proprietário do impresso em 1962 e escreve até hoje.  Segundo ele, foi o primeiro colunista social do estado e usava o pseudônimo Eurly Tourinho, nome de uma filha.
Maria do Carmo trabalhou como servidora pública do estado, exercendo a função de contadora, por 46 anos e ressalta que só parou de trabalhar com a aposentadoria compulsória. "Só deixei de trabalhar porque disseram: ‘Maria, de amanhã em diante a senhora não vem mais’. Eu não chorei porque tenho sangue de chinês e aguentei, mas não queria parar", expõe.
Casal diz que era "festeiro" (Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)Casal diz que era festeiro e curtu clubes da cidade
(Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)
Lembranças de Porto Velho
"Festeiros", o casal sente saudades dos antigos clubes de bailes de Porto Velho. "Os clubes Ypiranga, Internacional, tinha o Ferroviário também. Éramos os primeiros a chegar e os últimos a sair das festas", comenta Euro. "...E dançávamos muito", completa dona Maria.
Euro sente falta da tranquilidade de viver em Porto Velho. "Você dormia de janela aberta, podia andar a pé por todos os lados. Todo mundo se conhecia. Não existia violência", descreve.
O trabalho como comunicador o fez ter um grande acervo de imagens da cidade. "As melhores máquinas de bater foto que tinham em Porto Velho de primeira eram minhas. Eu andava acoplado à máquina, tirava foto de tudo", releva.
Somos felizes aqui. A gente poderia estar morando no Rio de Janeiro, temo um filho lá, mas eu gosto é daqui de Porto Velho"
Euro Torinho,  de 92 anos
Ele lembra com orgulho do passado, desde quando chegou ao município, com os pais e os irmãos, na década de 1930. "Eu vi isso aqui crescer. Quando cheguei aqui tinham três mil habitantes. Dois guardas cuidavam da segurança da cidade. Aqui foi o lugar que me deu a chance de educar todos os meus filhos. Somos felizes aqui. A gente poderia estar morando no Rio de Janeiro, temos um filho lá, mas eu gosto é daqui de Porto Velho", afirma.
Bodas de Zinco
O casal comemorou Bodas de Vinho em dezembro de 2013. Este ano, no mês de dezembro, comemoram 71 anos de casados. "Compreender, gostar e, primeiro de tudo, é ter aquele amor sincero. Esse é o segredo”, relata. Euro acredita que não existe mágica. "É muito fácil de administrar um casamento longo. Ainda mais uma mulher que te ama, te ajuda, te compreende", finaliza.
Aos domingos o casal mantém a rotina de ir ao Mercado Central pela manhã tomar mingau e comer tapioca. Segundo eles, há festas de aniversário entre os familiares toda semana. “Mas também foram nove filhos, 34 netos, 27 bisnetos. Quando não é um filho, é neto, bisneto ou genro, são muitas pessoas, mais de 80”, diz Maria.
Euro e Maria durante comemoração de 70 anos de casados (Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)Euro e Maria durante comemoração de 70 anos de casados (Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)

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