Euro Tourinho, 92 anos, e Maria Kang, 87, se casaram na década de 1940.
'Nunca pensei em ir embora daqui', diz Euro.
Euro e Maria Tourinho na festa de Bodas de Vinho (Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)
Prestes a completar "Bodas de Zinco”, 71 anos de casados, Euro
Tourinho, de 92 anos, e a esposa Maria Kang Tourinho, 87, acompanharam
juntos grande parte da história e do crescimento de Porto Velho.
Apaixonados pela capital rondoniense, que completou 100 anos na última
quinta-feira (2). O casal afirma que nunca pensou em deixar a cidade.
Eles chegaram ao município na década de 1940, final do segundo Ciclo da
Borracha. De lá pra cá, formaram uma família com nove filhos, 34 netos,
27 bisnetos.Com o acumulo de funções precisou de um local para se alimentar entre as atividades. O estabelecimento escolhido foi o restaurante do chinês Kang, pai de Maria. "Meu pai era bom cozinheiro, cozinhou até para o presidente. O Euro foi lá pra fechar um valor mensal e o velho chinês foi com a cara dele e aceitou. Eu estudava e tomava conta do caixa. Nos entrosamos bem. Parece que já estava tudo calculado", lembra dona Maria. "Ele gostava de comer bem e eu recomendava lá para o pessoal da cozinha pra dar uma caprichada", completa ela, sorrindo. Com o tempo eles se aproximaram aos poucos e começaram a namorar, até se casarem em 1943.
Casal e a família, ao todo são mais de 70 decendentes (Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)
A capital de Rondônia entrou na vida do casal no fim de 1944, quando já
tinham o primeiro filho, com um ano de idade. O pai de Euro havia
morrido em um seringal, na região de Jaci-Paraná. Foram 16 dias de
viagem de barco de Manaus a Porto Velho. Ele precisou cuidar do Seringal
Minas Novas, que pertencia ao pai falecido. "Maria me ajudou bastante e
ajuda até hoje. No seringal fez as pessoas baratearem os custos. Os
ensinou a fazer caldo de cana, rapadura, farinha, bolo de macaxeira",
diz.Após seis meses, o seringal foi vendido e Euro se tornou comerciante em Porto Velho, abrindo um salão de sinucas. "O maior da Região Norte", garante ele. A esposa foi contrata como funcionária pública do Território Federal do Guaporé, como era chamado Rondônia na época.
Na década de 1950, Euro fez amizade com jornalistas, e após insistência deles começou a escrever para o jornal Alto Madeira, que pertencia ao seu amigo, o empresário e jornalista Assis Chateaubriand. Tourinho se tornou proprietário do impresso em 1962 e escreve até hoje. Segundo ele, foi o primeiro colunista social do estado e usava o pseudônimo Eurly Tourinho, nome de uma filha.
Maria do Carmo trabalhou como servidora pública do estado, exercendo a função de contadora, por 46 anos e ressalta que só parou de trabalhar com a aposentadoria compulsória. "Só deixei de trabalhar porque disseram: ‘Maria, de amanhã em diante a senhora não vem mais’. Eu não chorei porque tenho sangue de chinês e aguentei, mas não queria parar", expõe.
Casal diz que era festeiro e curtu clubes da cidade
(Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)
Lembranças de Porto Velho(Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)
"Festeiros", o casal sente saudades dos antigos clubes de bailes de Porto Velho. "Os clubes Ypiranga, Internacional, tinha o Ferroviário também. Éramos os primeiros a chegar e os últimos a sair das festas", comenta Euro. "...E dançávamos muito", completa dona Maria.
Euro sente falta da tranquilidade de viver em Porto Velho. "Você dormia de janela aberta, podia andar a pé por todos os lados. Todo mundo se conhecia. Não existia violência", descreve.
O trabalho como comunicador o fez ter um grande acervo de imagens da cidade. "As melhores máquinas de bater foto que tinham em Porto Velho de primeira eram minhas. Eu andava acoplado à máquina, tirava foto de tudo", releva.
Ele lembra com orgulho do passado, desde quando chegou ao município, com os pais e os irmãos, na década de 1930. "Eu vi isso aqui crescer. Quando cheguei aqui tinham três mil habitantes. Dois guardas cuidavam da segurança da cidade. Aqui foi o lugar que me deu a chance de educar todos os meus filhos. Somos felizes aqui. A gente poderia estar morando no Rio de Janeiro, temos um filho lá, mas eu gosto é daqui de Porto Velho", afirma.
Bodas de Zinco
O casal comemorou Bodas de Vinho em dezembro de 2013. Este ano, no mês de dezembro, comemoram 71 anos de casados. "Compreender, gostar e, primeiro de tudo, é ter aquele amor sincero. Esse é o segredo”, relata. Euro acredita que não existe mágica. "É muito fácil de administrar um casamento longo. Ainda mais uma mulher que te ama, te ajuda, te compreende", finaliza.
Aos domingos o casal mantém a rotina de ir ao Mercado Central pela manhã tomar mingau e comer tapioca. Segundo eles, há festas de aniversário entre os familiares toda semana. “Mas também foram nove filhos, 34 netos, 27 bisnetos. Quando não é um filho, é neto, bisneto ou genro, são muitas pessoas, mais de 80”, diz Maria.
Euro e Maria durante comemoração de 70 anos de casados (Foto: Euro Tourinho/Arquivo Pessoal)
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