sexta-feira, 3 de outubro de 2014

‘Campanhando’ com a própria verba


Com baixo orçamento, maratona para angariar votos exige criatividade e improviso para Juninho, jovem candidato a deputado estadual
por Joseh Silva publicado CARTA CAPITAL
Divulgação
Juninho
Sem recursos, Juninho faz campanha para deputado estadual
“Se o eleitor quiser saber como será seu candidato quando eleito, ele tem que observar a sua campanha. As empresas, os bancos, não são doadores: são investidores. Investem. E depois cobram o dobro com obras superfaturadas e desvios [de verbas]. O financiamento das campanhas é a grande base da corrupção no Brasil.”
O candidato do PSOL a deputado estadual, Juninho, tem 28 anos, mora em Embu das Artes, é casado, tem uma filha de 2 anos e desde os 14 anos atua politicamente. Mas revela que desde muito novo já tinha posições. A prova disso, recorda, é o registro em vídeo dele com “três ou quatro anos xingando o Collor, dizendo que ele é um safado.”
A aptidão precoce por temas sociais e militância é hereditário. O pai e mãe foram sindicalistas, e o casamento deles aconteceu dentro do Sindicato do coureiros e dos sapateiros de São Paulo. Por conta disto, o candidato ressalta que passou parte de sua infância “dentro de reuniões e congressos”. No entanto, mesmo imerso neste universo, Juninho, a principio, rejeitou qualquer contato mais profundo com a política partidária.
A primeiro relação mais densa com a política partidária foi em 2000 durante a campanha do Professor Toninho, que na ocasião era candidato a vereador em Embu das Artes. Em 2001, fundou um grêmio estudantil e, com 18 anos, foi trabalhar com assessor do já eleito vereador Toninho. Onde ficou até 2008. “Este foi o ano em que perdemos o mandato, não conseguimos a reeleição e fui para o mandato do Ivan [Valente](PSOL), onde estou até hoje”.
A primeira vez que foi indagado para ser candidato foi em 2010. “Eles queriam uma representação jovem. Mas declinei na época, achava que não era o momento, estava com outras demandas.” Na ocasião, Juninho ressalta que passava por uma “tomada de consciência” e por conta disso, em 2012, foi inevitável: “Toninho se candidatou à prefeito, e a gente precisava eleger uma chapa de vereadores”.
Para aquela campanha, o candidato contou com uma estrutura básica e conseguiu angariar 383 votos. Para deputado estadual, Juninho enxerga mais votos. Acredita que mesmo com as limitações de uma campanha com baixo financiamento faz um trabalho consistente, de base e por ideologia.  “A nossa opção de fazer uma campanha mais simples, não é só por uma questão de `ah, coitadinho`, lógico que também temos dificuldades, somos trabalhadores. Mas é uma postura ideológica, onde o único compromisso que a gente tem de fato é com os eleitores, e não com os financiadores que depois vão cobrar uma fatura alta”.
A postura do candidato exige que ele use a criatividade para conseguir verba para financiar sua campanha. Diz que, para conseguir dinheiro, faz rifas, organiza jantares, encontro de amigos e, literalmente, “passa o chapéu”. Tem a convicção que é o caminho mais difícil, diante de uma concorrência desproporcional, mas estrategicamente enxerga um caminho mais sólido.
As dificuldades que Juninho passa em sua campanha são consequência da sua convicção de se comprometer somente com o povo. Para ele, a população tem que “ficar de olho” nas campanhas dos candidatos, “pois somos nós que pagamos a conta. Às vezes acham que estão tirando alguma vantagem, porque estão ganhando um troco por colocar uma placa no muro, ou para fazer boca de urna, e com isso não conseguem perceber que esta vantagem imediata custa caro a médio prazo: depois vai no posto de saúde e não tem médico. Tentar matricular o filho na escola e não tem vaga”.
O que pode mudar este cenário é o financiamento público de campanha, projeto que proíbe a doação de empresas e cidadãos a candidatos.  A ideia é que as campanhas sejam bancadas com o fundo partidário, onde uma parte do valor é dividido igualmente para todos os partidos e a outra é dividida proporcionalmente de acordo com a representatividade de cada partido. Para Juninho, com essa medida “se consegue ter campanhas mais equilibradas, onde você não tem uns gastando bilhões e outros tostões”.
Leia abaixo trechos de entrevista com o candidato:
Joseh Silva: Você acha que alteração das leis que regem o financiamento campanha podem transformar muito o cenário político?
Juninho: Seria muita presunção minha afirmar isso. Acho que dá um passo, equilibra mais, fortalece as candidaturas ideológicas e quem tem ideias para apresentar. Porque você ve candidatos que são eleitos por conta do volume de campanha e na ponta não representam absolutamente nada. Ou estão ali por algum interesse - ou alguém indicou ou financiou. Não porque de fato tem uma ideologia, ideias ou propostas concretas.
Outro elemento que é interessante pontuar é quando se tem uma campanha mais estruturada, ai o candidato só se preocupa em pedir voto. Mas numa campanha como a nossa, que é pequena e tem pouca estrutura, você acaba sendo tudo. Além de pedir voto, você tem que ser designer, tem que manjar da parte administrativa, de cotar preço, de rodar material. É uma função multiuso. Acaba tendo que ser polivalente.
A gente acabou optando por fazer uma campanha mais simples, mas obviamente que queremos ter uma campanha melhor estruturada, seria importante, pois se acaba gastando muita energia com coisas operacionais e aquilo que é  mais importante: que é a disputa do voto, o diálogo com o eleitor, fica prejudicado. Claro que eu gostaria de ter condições de fazer uma campanha melhor estruturada.  Não faraônica, como a gente anda por ai.
Joseh Silva: Você acha que é loucura fazer uma campanha assim?
Juninho: Tem que ter muita disposição. Tem hora que começa a bater o desespero, porque não tem grana, não tem gente. Mas ao mesmo tempo você percebe que as pessoas estão aceitando a sua campanha e que tem espaço para uma campanha alternativa, só que falta pernas. Tem que ter muita ideologia, muito pé no chão, muita disposição militante para segurar a bronca.
Joseh Silva: O que mais pesa?
Juninho: O que o candidato mais gosta de fazer, é pedir voto. Eu estou desde cedo na rua: fui na porta do almoxarifado, fui na porta da prefeitura, tomei café com alguns amigos. Eu preferia estar na rua pedindo votos enquanto uma equipe cuidasse da parte mais operacional e logística. Cuidar de tudo em uma candidatura acaba deixando o braço mais forte de lado, que é ir à conseguir votos. E tem uma diferença: Quando a pessoa é abordada pelo candidato é diverso que por um militante. Mesmo que seja um militante qualificado, que faz uma abordagem bem feita.
Joseh Silva: Qual é a estrutura ideal de uma campanha?
Juninho: Você precisaria ter uma boa equipe de comunicação, três pessoas. E é necessário uma equipe de rua, fazendo o operacional e uma mais administrativa, cuidando da burocracia. Outra cuidando da agenda, para onde você vai, organizando tudo.
As campanhas bem estruturadas têm financiadores. E esses não são doadores, são investidores: grandes empreiteiras, bancos, latifundiários.
Um exemplo disso: 70% das doações de campanha de 2012 para a disputa da prefeitura de São Paulo veio das construtoras. E qual foi um dos principais projetos votados pelo Haddad? O Plano Diretor, que tem como objetivo definir o desenvolvimento da cidade pelos próximos 10 anos. Defini-se onde pode haver moradia popular, grandes empreendimentos, ou seja, fez todo um projeto, dialogando com as grandes construtoras que foram os principais financiadores da campanha de 2012.
As pessoas que trabalham comigo são todas militantes, voluntários. Tem um ou outro que a gente dá uma ajuda de custo para condução e alimentação.
Joseh Silva: Você está fazendo campanha no Embu e no Centro de São Paulo, você sente diferença na recepção do eleitor?
Juninho: O discurso é diferente. Aqui [em Embu] você acaba fazendo um discurso mais regionalizado. De qualquer maneira, a disputa eleitoral aqui está muito associada aos projetos políticos da Cidade.
A reação do eleitor depende muito do local. Quando é no nosso bairro, a gente é conhecido, as pessoas sabem até onde você mora, as coisas que você faz, o movimento em que participa, e a receptividade é muitas vezes maior.
Em outros locais você deve estar preparado um pouco para tudo. Desde pessoas muito receptivas que param para ter ouvir, saber das propostas, até a total rejeição. Isto vale tanto para o centro de São Paulo, onde venho fazer campanhas semanalmente, até  nos bairros da periferia. Vejo que tem um nível de descontentamento político um pouco maior.
O Candidato tem que se preparar para todo o tipo de abordagem e às vezes você ganha o cara na brincadeira. Às vezes o cara reage de uma forma ignorante ou despolitizada, e aí você entra na onda e tenta não revidar, para não criar uma antipatia. Mas quando você leva no bom humor, até ganha a atenção da pessoa.
Uma vez ou outra acabo me estressando. Ninguém tem sangue de barata.
Joseh Silva: O que você diz para uma pessoa quando ela pergunta o que faz um Deputado Estadual?
Juninho: O deputado estadual, acima de tudo, é um representante do povo. Ele é eleito para representar o povo na Assembleia Legislativa. Qual é a atividade básica? Primeiro, ele é um legislador. Ele cria e vota em leis. Então todas as leis, tudo que interfere na dinâmica social do Estado de São Paulo, são votadas pelos deputados estaduais. A primeira função de um deputado estadual é criar e votar leis.
Segundo: ele é um fiscalizador. O papel dele é fiscalizar o poder executivo, no caso o Governo do Estado, para ver se os recursos estão sendo aplicados de forma correta; reivindicar que se faça onde há mais necessidades.
Terceira função: pode destinar verbas, assim como os federais também. Ele tem uma cota de emendas ao orçamento estadual, onde ele pode designar, eu não sei a cifra hoje, mas, por exemplo, um deputado federal, pode destinar até 25 milhões de reais em coisas que ele acha importante.
Além disso, nós do campo da esquerda, construímos mandatos populares. Um mandato comprometido com as lutas dos movimentos sociais. Ele tem um papel de tanto recuar da amplitude das demandas populares, como também ajudar a estimular o fortalecimento de movimentos sociais de lutas populares que visam melhoria na qualidade de vida. No nosso caso, o mandato também tem essa função, de ser uma trincheira, digamos assim, de luta e de resistência dos movimentos sociais. Porque algumas coisas não dependem só do deputado, depende da dinâmica do parlamento. Então, por exemplo, para aprovar uma CPI contra o Alckmim, só um deputado não consegue fazer. Tem que ter vários para montar uma CPI.

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