A menos de uma semana para as eleições, a
responsável pelo Instituto Brasil, Dalva Sele Paiva, continua sendo uma
das estrelas da campanha eleitoral, uma espécie de bucha de canhão para
partidos de diferentes matizes, cada um querendo empurrá-la no colo do
opositor. Embora ela tenha irrompido na cena eleitoral a menos de um mês
das eleições, entrou para a história política da campanha 2014.
No entanto, se o cidadão comum fizer as devidas
considerações sobre o histórico do episódio que catapultou Dalva ao
estrelato no horário eleitoral baiano, ou seja, como uma organização não
governamental, o instituto recebe milhões dos cofres públicos para
concretizar um projeto de habitação, as casas não saem do chão (pelo
menos a maioria delas) e o dinheiro vai parar nem Deus sabe nos bolsos
de quem, o que sobra é indignação e incredulidade.
Indignação e incredulidade diante dos métodos tão
inexplicavelmente ineficazes usados pelo poder público para fiscalizar
desde as primeiras fases de execução de projetos que financia mediante a
gestão de terceiros, como ONGs e Oscips, dando-lhes recursos do
contribuinte. O dinheiro é desviado e somente quando tudo já deu errado é
que vem à tona o Deus nos acuda. E isso quando o caso chega à
imprensa ou ao Ministério Público e há indícios da trajetória do
“malfeito”.
Essa ineficácia, no entanto, sempre tem padrinhos
políticos, sejam lá quais forem, pois uma ou duas pessoas sozinhas à
frente de organizações não governamentais, sem o apoio de gente poderosa
na máquina burocrática do poder, não consegue(m) jamais fazer com que
tanto dinheiro seja desviado dos fins para os quais estava destinado.
Não há inocentes no caso Instituto Brasil. No calor das vésperas
eleitorais, quem colocou Dalva no poder e quem a desapeou dele, pode,
sim, interessar ao eleitor.
Mas importa muito mais ao cidadão, pois para este
as eleições passam, seu voto pode até ir para A ou B em função da briga
de foice partidária que Dalva Sele motivou, mas a lesão financeira,
sempre irreversível, essa se deu concretamente foi no bolso do
cidadão-contribuinte. Sim, todo eleitor é cidadão, mas as sequelas da
corrupção e do desvio de recursos públicos para bolsos privados têm
consequências que se estendem para além do processo eleitoral.
Cadê o dinheiro que o contribuinte gerou e alguma
instância do poder público atribuiu ao Instituto Brasil confiança o
suficiente para geri-lo? O instituto, por sua vez, o fez desaparecer e
deixou literalmente ao Deus dará aqueles a quem foi prometido um teto
para viver sob? É lindo ouvir Toquinho cantando “era uma casa muito
engraçada, não tinha teto, não tinha nada. Ninguém podia entrar nela
não, porque na casa não tinha chão”. Foi exatamente isso que sentiram os
possíveis beneficiários do projeto habitacional que o Instituto Brasil
geria, com autorização do estado.
Quem permite que recursos públicos, em casos iguais
ou semelhantes a esse, escoem para ralos pessoais, na prática nunca tem a
devida responsabilização exposta e tampouco devolve o dinheiro. Aparece
sempre um boi de piranha, uma Geni, a quem a sociedade adora apedrejar
na falta concreta e comprovada dos verdadeiros donos da caneta sem cuja
assinatura o dinheiro não ultrapassaria a fronteiras do público para o
privado. A Geni da vez é Dalva Sele. Quem tem dúvida disso? Quem, na
prática, se beneficiou de fatias e fatias do bolo que coube a ela
repartir, talvez nunca apareça de forma proporcional ao nível de
beneficiamento que teve ou, no máximo, sumirá do noticiário e do
imaginário da sociedade em questão de meses.
* Malu Fontes é jornalista e professora de Jornalismo da Ufba
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