terça-feira, 30 de setembro de 2014

Malu Fontes: Dalva Sele - joga pedra na Geni


A menos de uma semana para as eleições, a responsável pelo Instituto Brasil, Dalva Sele Paiva, continua sendo uma das estrelas da campanha eleitoral, uma espécie de bucha de canhão para partidos de diferentes matizes, cada um querendo empurrá-la no colo do opositor. Embora ela tenha irrompido na cena eleitoral a menos de um mês das eleições, entrou para a história política da campanha 2014.
No entanto, se o cidadão comum fizer as devidas considerações sobre o histórico do episódio que catapultou Dalva ao estrelato no horário eleitoral baiano, ou seja, como uma organização não governamental, o instituto recebe milhões dos cofres públicos para concretizar um projeto de habitação, as casas não saem do chão (pelo menos a maioria delas) e o dinheiro vai parar nem Deus sabe nos bolsos de quem, o que sobra é indignação e incredulidade.
Indignação e incredulidade diante dos métodos tão inexplicavelmente ineficazes usados pelo poder público para fiscalizar desde as primeiras fases de execução de projetos que financia mediante a gestão de terceiros, como ONGs e Oscips, dando-lhes recursos do contribuinte. O dinheiro é desviado e somente quando tudo já deu errado é que vem à tona   o Deus nos acuda. E isso quando o caso chega à imprensa ou ao Ministério Público e há indícios da trajetória do “malfeito”.
Essa ineficácia, no entanto, sempre tem padrinhos políticos, sejam lá quais forem, pois uma ou duas pessoas sozinhas à frente de organizações não governamentais, sem o apoio de gente poderosa na máquina burocrática do poder, não consegue(m) jamais fazer com que tanto dinheiro seja desviado dos fins para os quais estava destinado. Não há inocentes no caso Instituto Brasil. No calor das vésperas eleitorais, quem colocou Dalva no poder e quem a desapeou dele, pode, sim, interessar ao eleitor.
Mas importa muito mais ao cidadão, pois para este as eleições passam, seu voto pode até ir para A ou B em função da briga de foice partidária que Dalva Sele motivou, mas a lesão financeira, sempre irreversível, essa se deu concretamente foi no bolso do cidadão-contribuinte. Sim, todo eleitor é cidadão, mas as sequelas da corrupção e do desvio de recursos públicos para bolsos privados têm consequências que se estendem para além do processo eleitoral.
Cadê o dinheiro que o contribuinte gerou e alguma instância do poder público atribuiu ao Instituto Brasil confiança o suficiente para geri-lo? O instituto, por sua vez, o fez desaparecer e deixou literalmente ao Deus dará aqueles a quem foi prometido um teto para viver sob? É lindo ouvir Toquinho cantando “era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada. Ninguém podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão”. Foi exatamente isso que sentiram os possíveis beneficiários do projeto habitacional que o Instituto Brasil geria, com autorização do estado.
Quem permite que recursos públicos, em casos iguais ou semelhantes a esse, escoem para ralos pessoais, na prática nunca tem a devida responsabilização exposta e tampouco devolve o dinheiro. Aparece sempre um boi de piranha, uma Geni, a quem a sociedade adora apedrejar na falta concreta e comprovada dos verdadeiros donos da caneta sem cuja assinatura o dinheiro não ultrapassaria a fronteiras do público para o privado. A Geni da vez é Dalva Sele. Quem tem dúvida disso? Quem, na prática, se beneficiou de fatias e fatias do bolo que coube a ela repartir, talvez nunca apareça de forma proporcional ao nível de beneficiamento que teve ou, no máximo, sumirá do noticiário e do imaginário da sociedade em questão de meses.
* Malu Fontes é jornalista e professora de Jornalismo da Ufba

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