domingo, 28 de setembro de 2014

Inseminação ou adoção: o sonho é o mesmo


Casais que não podem ou têm dificuldades em engravidar precisam estar dispostos a enfrentar uma jornada trabalhosa para ter filhos, seja por tratamento ou pela via judicial
JORNAL O HOJE - GO | Por: Luiz Redação
Cynthia Costa

Luís e Marcela conheceram as dificulades de tratamento de fertilidade e do processo de adoção  (Danilo Bueno)
Luís e Marcela conheceram as dificulades de tratamento de fertilidade e do processo de adoção (Danilo Bueno)
No começo do casamento, o assunto não chega a ser uma prioridade, mas, com o passar do tempo, o desejo da grande maioria dos casais se acende e quando a gravidez não vem o sonho de se ter um filho vira uma luta difícil de ser enfrentada. A primeira alternativa a ser explorada são os tratamentos de reprodução assistida, que, além de caros, requerem muita dedicação por parte da mulher e do marido. Mas quando a medicina não consegue ajudar a realizar esse sonho, muitos casais enfrentam a frustração de não conseguir ter um filho biológico e partem para uma outra batalha, a adoção.
Como a grande maioria dos casais, Luís Gonzaga e Marcela Maria do Prado Lopes, ambos com 41 anos e cirurgiões dentistas, e casados há 11 anos, tentaram a reprodução assistida. O casal sabia que não podia engravidar naturalmente e resolveu tentar, após um ano de casamento, ter filhos com a ajuda da medicina. Eles contam que por cinco anos insistiram no tratamento em Goiânia. “Após dois anos do começo, fomos amadurecendo a ideia da adoção, principalmente eu. O Luis já tinha bem claro em mente que queria ter filhos adotados, mesmo antes de casarmos”, conta Marcela.
Depois de cinco tentativas frustradas, Luis e Marcela começaram o processo para adotar. “E também decidimos que faríamos uma última tentativa de inseminação artificial, que não seria mais aqui em Goiânia, mas em São Paulo”. Marcela revela que, quando partiram para a capital paulista, o processo de adoção aqui já estava todo concluído. “Simultaneamente, estávamos na fila da adoção e realizando o processo denominado ICSI (injeção intracitoplásmatica), em que são colhidos óvulos e espermatozoides e a inseminação é feita in vitro em laboratório e o embrião resultante é transferido para o útero”, conta Luis.

Gestação
Marcela relata que o processo de adoção durou, coincidentemente, nove meses, foi quando o Juizado da Infância e da Juventude ligou para o casal, mas aí ela já estava grávida de nove semanas. “Nós estávamos na sala de espera para fazer o ultrassom para ver o coraçãozinho das gêmeas. Em um exame anterior, ficamos sabendo que eram dois bebês”. A mãe afirma que era a confirmação, já que, na maioria desses casos, a perda dos bebês é inevitável. “Eu mesma vivi esta situação, porque em algumas das inseminações eu perdi os embriões com oito ou nove semanas de gravidez.”
Sobre as idades e sexos das filhas, Marcela conta que, quando entra com o processo de adoção na Justiça, é preciso preencher uma ficha no Juizado com as características que os pais imaginam.
Luís diz que quando ele e a mulher deram entrada ao processo de adoção a expectativa era de adotar um bebê de até 1 ano de idade. Então, foram aconselhados a realizar um curso de preparação. “Entramos e saímos com outro pensamento, abrindo o leque para crianças de até 5 anos e a possibilidade de adotarmos irmãos”, o dentista.
Marcela e Luís argumentam que o fato de não saberem se iriam ter mais filhos os levou a querer adotar irmãos. “Não sabíamos nem mesmo se iríamos ter filhos nossos e, de todo jeito, queríamos mais do que apenas um”, conta Marcela. Luís revela que, quando veio o comunicado que havia duas irmãs à sua espera, aceitou tranquilamente o fato de ser pai de quatro meninas. “E foi muita emoção para o mesmo dia porque recebemos a notícia das duas filhas que iríamos ter em nossa casa e também ouvimos os corações das nossas filhas biológicas.”

Diferenças
Luís analisa a diferença entre os dois processos, de inseminação e adoção, e acredita que o primeiro costuma ser mais desgastante para a mulher. “A Marcela, por exemplo, engravidou e perdeu duas vezes e o desgaste emocional, além do financeiro, é muito grande!”. Foi nesse período, de acordo com ele, que conversou com a mulher para adotarem antes de um prazo pré-determinado. “Eu pensava primeiro em ter filhos biológicos e, depois, quando estivesse mais organizado financeiramente, adotaríamos”. Ele crê também que, na inseminação, se o casal não estiver em sintonia, dá até separação.
Já na adoção, Luís afirma que o casal tem de estar disponível, de coração aberto, para poder abraçar totalmente os filhos que virão. “Se preparar para receber as crianças é primordial, então os pais têm de fazer curso mesmo para que possam aceitar as crianças sem nenhum tipo de preconceito.” Ele diz que não é bom para as crianças chegarem a uma casa e, de repente, por incompatibilidade dos pais, elas serem devolvidas para o Juizado. “Por isso é importante o trabalho desenvolvido no grupo Conviver Geaago, que oferece total apoio aos pais que estão pensando em adotar, estão no meio do processo ou já estão com as crianças em casa”.
Além disso, o casal conversa sobre o assunto da adoção naturalmente com as filhas. “Já aconteceu de vir tarefinha da escola pedindo foto delas na barriga da mamãe, e eu explicar que elas foram geradas na barriga de outra mãe”, revela Marcela

Hospital das Clínicas é o único que atende baixa renda
Em Goiás, somente o Hospital das Clinicas da Universidade Federal de Goiás (UFG) oferece tratamento gratuito para quem não tem condições de pagar. O que torna mais difícil para muitos casais goianos que optam pelos tratamentos de reprodução assistida. O Centro de Reprodução do HC oferece por ano 220 vagas para famílias que queiram tentar ter filhos através da fertilização assistida. Como a procura é muito grande, as vagas para 2014 foram todas preenchidas no ano passado.
O chefe do serviço de Reprodução Humana do HC, ginecologista e obstetra Mário Approbato, conta que o público alvo do centro são, normalmente, mulheres inférteis que não têm condições de pagar o tratamento em clínicas particulares. Ele lembra que o tratamento oferecido no local não é custeado pelo Sistema Único de Saúde, já que se trata de um projeto de extensão daUFG, intitulado como Programa de Fertilização Assistida de Baixo Custo. “Por esse motivo, as pacientes precisam comprar o material que irão utilizar no tratamento.” O médico revela que passam pelo centro mulheres do Brasil inteiro. “Vem pacientes do interior, como Itumbiara; de outros Estados, como Minas Gerais e até do exterior”.

Expectativa
A prestadora de serviços gerais Aline Marques Mendonça, 31 anos, está buscando tratamento no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Casada há 18 anos, ela conta que nunca evitou ter filhos, mas que também nunca engravidou. Aline conta que já fez uma inseminação artificial no próprio laboratório e que o resultado foi positivo já nessa primeira tentativa. “Infelizmente, com pouco tempo eu não consegui segurar a gestação. Mesmo assim, não desisto e tenho altas expectativas quanto ao tratamento ter uma boa consequência, ou seja, que eu possa me tornar mãe”.

Adoção
Muitos casais ainda sonham com a possibilidade de ter filhos e vão à Justiça para iniciar o processo de adoção. É o caso do servidor público Eduardo Fernando Nozella, 42, e sua mulher, a artesã Juliana Tavares, 39. Casados há dez anos, eles fizeram duas inseminações artificiais, sem êxito.. “Minha esposa tomava de uma a duas injeções por dia, já que cada ciclo tinha uma quantidade de medicamentos prescritos”, conta Eduardo.
Em janeiro de 2012, Eduardo diz que fizeram o cadastro para adoção em São Paulo. “No início do processo, já fizemos a escolha para a criança a ser adotada: menino, pode ter irmãos, até 3 anos de idade, branco ou pardo”. Ele revela que ainda não obtiveram resultado, nem mesmo foram chamados para ver nenhuma criança, mas a expectativa continua. “De vez em quando, converso com as psicólogas do Juizado que quero filhos e não netos”. Na opinião dele, o processo da adoção é muito longo e complicado e poderia ser mais simplificado.

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