domingo, 28 de setembro de 2014

Índios fazem cerimônia de passagem da infância para adolescência no MA


Festa do Ceveiro foi realizada na aldeia São José, em Montes Altos.
Ritual dos índios Krikati marcou passagem de 21 jovens, de 12 a 17 anos.

Do G1 MA com informações de O Estado MA
Cerimônia de passagem da adolescência para a vida adulta dos índios krikatis (Foto: João Rodrigues/ O Estado)Cerimônia de passagem de fases da vida
(Foto: João Rodrigues/ O Estado)
Índios krikatis realizaram a tradicional Festa do Ceveiro, na aldeia indígena São José, localizada no município de Montes Altos, no sudoeste do Maranhão. A cerimônia marca a passagem da infância e adolescência para a fase adulta, e integra um conjunto de rituais, realizado periodicamente, para reforçar a identidade dos Krikatis.
Conforme matéria de João Rodrigues, publicada pelo jornal O Estado do Maranhão deste domingo (28),  21 pessoas, na faixa etária de 12 a 17 anos, participaram do ritual de passagem. Elas ficaram confinadas em uma oca móvel (ceveiro), feita de palha de palmeira, com aproximadamente três metros quadrados, durante três meses.
Nesse período, meninos e meninas só tiveram contato com seus guias, geralmente líderes de grupo, que ficam responsáveis por servir a alimentação, entregue na moradia improvisada, mas com direito a banheiro. A aldeira que sediou a cerimônia tem população aproximada de 1.080 índios.
Após o periodo de confinamento, eles são organizados em grupos ou partidos, todos identificados com nomes de caça, os índios se posicionaram no pátio da aldeia, local de festa. Um a um saem para o ceveiro para a cerimônia de libertação dos confinados.
Ao chegar até a moradia, parte do grupo aguarda enquanto o líder entoa uma cantoria, geralmente de braços levantados, uma espécie de louvação. Ato contínuo, as crianças e os adolescentes pertencentes àquela família e grupo deixam a oca e seguem o líder em direção a um local distant,e cerca de um metro da sede da aldeia, onde são pintados com tinta extraída de jenipapo e urucum (frutos). Os libertos também têm direito a uma refeição de cardápio variado, com caça, peixe e frutas.
De acordo com o professor Alfredo Krikati, designado pelo cacique André para acompanhar os jornalistas durante o evento, um dos pontos mais importantes da festa é quando cada grupo diz o nome de seus ancestrais. A partir desse momento, nenhum integrante pode migrar para outro grupo.
O processo de pintura é a primeira vez durante a cerimônia em que as mães participam. Toda a cerimônia é realizada pelos homens e lideranças como o ex-cacique João Grande. Depois de receberem as pinturas relativas ao grupo que pertencem, crianças e adolescentes são levados pelos líderes para um local afastado cinco quilômetros da sede da aldeia, onde ocorre outra cerimônia.
Lá, os futuros adultos ficam em fila de frente para duas toras de madeira pintadas, de aproximadamente 20 quilos cada uma, e os líderes voltam a cantar como se estivessem agradecendo aos deuses por aquele momento.
Na fase seguinte, os escolhidos são carregados nas costas por índios de seus grupos até a sede da aldeia. Dois homens carregam as toras nos ombros e correm pela estrada com destino a aldeia, mas no caminho há vários pontos ou barreiras demarcadas com folhagens, onde outra dupla leva as toras, como ocorre nas provas de revezamento de bastão.
Mesmo com o peso, os índios não demoram muito para retornar à sede da aldeia. Diferentemente do início da cerimônia, a partir desse momento, no pátio, as mocinhas se apresentam vestidas com blusas para a última etapa do ritual. Líderes cantam e danças diante dos novos adultos em fila. Pela tradição indígena, a partir desse momento os novos adultos terão permissão para casar, participar de reuniões com as lideranças, mas continuam dependentes de suas famílias.
Preservação cultural
O líder indígena João Grande comentou que sua participação na Festa do Ceveiro tem um motivo nobre: incentivar os jovens a manter viva a cultura krikati. "A gente está falando com os mais novos, que têm que andar com a gente, para poder aprender a cantar, a fazer tudo", justificou João Grande, que completa 60 anos este mês, mais de 20 desses atuando como cacique.
Cada cantiga entoada na porta do ceveiro e diante das toras, segundo João Grande tem um significado. A que ele entoou foi uma saudação a raposa, animal que identifica seu grupo ou partido. "Eu tenho muito preocupação. Não estou mentindo, porque as coisas estão mudando demais. Está diferente e eu estou mais preocupado com meu povo. Alguém tem de aprender comigo para quando eu morrer", disse o ex- cacique, salientando que quem não aprender a tradição não é mais índio.

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