No
último sábado, Dilma Rousseff foi recebida pelo Bispo de Jales, Dom
Demétrio Valentini. Ontem o bispo pagou a visita, em entrevista para o
jornal Valor Econômico, atacando Marina Silva. O Brasil vivendo uma
guerra religiosa. Pobre país!
A possível vitória na eleição presidencial da ex-ministra Marina
Silva (PSB), uma evangélica da Assembleia de Deus, já reaproximou a
presidente Dilma Rousseff (PT) da ala progressista da Igreja Católica. O
clima, entretanto, é de pessimismo e a relação com a petista ainda é
fria, como demonstra em entrevista ao Valor Pro o bispo de Jales (SP), dom Demétrio Valentini.
O prelado recebeu Dilma em sua diocese no último sábado, quando a
presidente foi ao interior paulista para um encontro com o PMDB. Dom
Demétrio é integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social
(CDES), instituído pela Presidência da República e que poucas vezes se
reuniu no governo Dilma. O bispo se manifestou no mesmo dia em que outro
expoente do pensamento progressista católico, o ex-frei Leonardo Boff,
chamou Marina de "Jânio de saias", em entrevista ao portal Brasil 247. A
seguir, a entrevista concedida por dom Demétrio, por telefone, ao Valor:
Valor: Marina Silva é a primeira política
pertencente a outra religião com chances concretas de se eleger
presidente da República. Que tipo de efeito essa circunstância pode
gerar para a Igreja Católica e para a sociedade brasileira?
Dom Demétrio Valentini: Caso ela seja eleita, a
Marina também será a primeira governante egressa das antigas Comunidades
Eclesiais de Base. Ela tem origem católica, ingressou na vida social
pela sua origem católica. Agora, a gente tem medo do fundamentalismo que
ela pode proporcionar. Existe na Marina uma tendência ao radicalismo,
pela convicção exagerada ao defender seus valores e suas motivações, que
pode derivar para o fundamentalismo.
Valor: O que seria este fundamentalismo?
Valentini: É o risco de fazer da religiosidade um
instrumento de ação política. No Brasil, cada igreja evangélica tem seu
candidato. No caso da Igreja Católica, isto é de um tempo anterior ao
Concílio, isto acabou.
Valor: O que o senhor sente entre os fiéis da comunidade católica de Jales?
Valentini: Sinto um somatório de fatores favoráveis a
Marina. A comoção pelo desastre que vitimou Eduardo Campos, a vontade
de se ter algo diferente, o desejo de mudança. Estou intuindo que a
situação é irreversível. A não ser que haja uma reviravolta em que
comecem a pesar as fragilidades de Marina, que não estão no fato de ela
não ser católica. Estão em ela ter pouca articulação política e portanto
existirem dúvidas sobre como ela vai governar.
Valor: Surpreendeu ao senhor o fato da presidente Dilma o ter procurado?
Valentini: A você surpreendeu? Dilma foi bastante
reticente com as instituições que fazem a intermediação política da
sociedade. Ela não estabeleceu muitas pontes, mas comigo se sentiu
acolhida, as portas para ela ficaram abertas. Em 2010 eu escrevi um
artigo rebatendo posições dentro da Igreja contrárias à sua eleição.
Aquilo foi importante, porque havia manifestações na hierarquia católica
contra o voto em Dilma. Restaurou-se um ambiente de confiança no
equilíbrio político da CNBB. Foi há quase quatro anos. Ela sabia que
estava me devendo um gesto e lembrou aqui deste episódio. Para mim,
todos os candidatos merecem apoio. Um candidato está sujeito a muitas
ciladas, é uma posição extremamente difícil.
Valor: Por que o senhor diz que ela não estabeleceu pontes?
Valentini: A Dilma tem um estilo mais autoritário,
ela pouco nos convocou. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o
fazia com muita frequência. Em 2005, quando estourou a crise do
mensalão, ele convocou uma reunião do Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social, o 'Conselhão'. Era um momento em que a possibilidade
de 'impeachment' era muito palpável. Pediram que eu abrisse a reunião,
que fosse um dos três conselheiros a falar antes do presidente e eu fiz
uma manifestação a favor da continuidade do governo. Dilma delegou a
terceiros certas formalidades. Ela se sente muito segura em suas
posições e acha que pode prescindir de certos contatos, tem um
temperamento fechado. Quem se manteve firme no diálogo foi o ministro
Gilberto Carvalho (da Secretaria Geral da Presidência).
Valor: A eleição de um novo papa no ano passado facilitou o diálogo do governo com a Igreja?
Valentini: Dilma ao chegar aqui viu o retrato do
papa Francisco e falou: 'Agora temos um papa que nos apoia". Ela também
viu o retrato do papa emérito Bento XVI. Nós tivemos no Brasil aquela
circunstância dos protestos populares de junho e para Francisco foi um
desafio vir ao Brasil logo depois. Ele esconjurou o temor de que iríamos
para o caos e mostrou que existe uma juventude que está disposta a
colaborar, a construir algo. Construiu-se um ambiente de respeito ao
papa que vai muito além das fronteiras da Igreja.
Valor: Mas Dilma está certa em achar que Francisco a apoia e Bento XVI não o fazia?
Valentini: Não há porque fazer esta comparação e
Dilma não a fez. Mas Francisco motivou a Igreja para ser mais aberta, a
dialogar com setores que estão fora.
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