| 29 Agosto 2014
Artigos - MÍDIA SEM MÁSCARA
Artigos - MÍDIA SEM MÁSCARA
A
eventual consagração de Marina Silva como presidente da República
significará o passo final para o caos, pois a possibilidade de
governança ou governabilidade tende a desaparecer.
A boutade de Abílio Diniz, o empresário que aderiu de mala e cuia ao PT, vem muito a calhar aqui: “o país não é ingovernável, mas é ‘ingerenciável’.”
Esse tem sido o resultado das sucessivas administrações esquerdistas,
desde 1985. Os governos Lula e Dilma aprofundaram a transformação do
Estado, de tal sorte que se criou sua incapacidade gerencial, de
gerenciar-se a si mesmo e de prover os serviços públicos que dele o povo
espera.
Não
é à toa que a inflação está voltando forte, irresistível, inexorável.
Os desequilíbrios governamentais sempre se transformam, com o passar dos
dias, na peste inflacionária. Podemos ver o fenômeno a olhos vistos, no
Brasil, que virou um grande laboratório a céu aberto. É possível ver o
que está predito por economistas sensatos quando os governos saem dos
seus próprios sapatos e crescem além da conta.
Da
mesma forma, a notícia sobre o encolhimento rápido das expectativas do
crescimento do PIB confirma o estrago que o ímpeto petista fez sobre a
realidade social e econômica brasileira. A desordem parece tomar conta
de tudo e, quanto mais o faz, mais vemos o governo querendo governar
tudo. Mas como o governo é “ingerenciável”, então a desordem é a
consequência natural dessa expansão estatal. Puro movimento irracional.
A
diferença entre os governos Lula e Dilma é que o ex-metalúrgico
conseguiu se manter dentro dos parâmetros da realidade, mesmo
“avançando” na agenda socialista. Já Dilma Rousseff foi mais ideológica e
programática, mais “pura”, dando as costas para a realidade. O efeito
econômico foi imediato e devastador, a combinação de inflação com
recessão, conforme previsto nos manuais de economia. O caráter não
gerenciável do mastodôntico estado se impôs com vigor. O Brasil é a Casa
da Mãe Joana.
É
nesse contexto que estamos, às vésperas das eleições. A parte mais
consciente do eleitorado, que esperava que Aécio Neves pudesse ser o
nome para tirar o PT da Presidência, parece que se frustrou. O acidente
que vitimou Eduardo Campos matou a candidatura de Aécio Neves, fazendo
surgir a estrela ascendente de Marina Silva. O que esperar dela
governando?
Antes,
é preciso registrar aqui que Marina Silva é uma história particular de
sucesso, que tem em si o sorriso da Roda da Fortuna. Maquiavel, homem
renascentista, falou dela no famoso O Príncipe. O avião poderia tê-la
matado também, mas os deuses foram com ela generosos. A Fortuna foi
duplamente favorável: deu-lhe a vida e a oportunidade de ganhar, de
forma sensacional, a Presidência da República.
Não
se pode subestimar alguém assim bafejado pela sorte. Todos achavam que
ela estava fora do palco e eis que ela retornou para vencer,
provavelmente. Marina tem a favor de si o recall da última eleição, tem
uma boa imagem junto à opinião pública e tem mantido sua “pureza”
ideológica intacta. Como o eleitorado brasileiro está amestrado para as
causas esquerdistas, Marina Silva passou a representar a possibilidade
de avanço em relação ao PT. Atropelou Aécio Neves.
Nisso
consiste a principal contradição de Marina Silva, se eleita: a
impossibilidade de governar bem. Não se pode governar o país sem a
acomodação com o Centrão, os interesses estabelecidos e a própria
realidade ela mesma. Todavia, como ela é “sonhática”, ou seja, “pura”,
terá grandes dificuldades para se compor com o Congresso Nacional, do
qual dependerá para todas as decisões relevantes. O Congresso Nacional
reúne as chamadas “forças vivas da Nação”.
Uma
única medida anunciada por ela, a de carimbar 10% da verba orçamentária
para a saúde, mostra o tamanho do despreparo da candidata. O Estado não
tem que gerenciar apenas a saúde, mas também suas funções outras,
inclusive a educação, que também tem sua gorda verba carimbada, e
diplomacia, defesa, justiça, etc. Promessas deste tipo não são
exequíveis, embora fáceis de falar no palanque, sob aplausos dos
eleitores desavisados. Essas promessas pressupõem que as demais funções
deverão encolher pela transferência de recursos orçamentários.
Os
carimbadores de verbas orçamentárias pensam assim transferir para as
outras funções do Estado a dureza da lei da escassez, mas é um equívoco:
a realidade sempre se imporá, dando a proporção correta na alocação dos
recursos. Um governante sensato jamais poderia se comprometer com
tamanha parvoíce, mas em se falando de “sonháticos” tudo se pode
esperar.
A
eventual consagração de Marina Silva como presidente da República
significará o passo final para o caos, pois a possibilidade de
governança ou governabilidade tende a desaparecer. Um presidente da
República precisa governar para todos os brasileiros e não apenas para
sua corriola política. Tem que ter grandeza, ao menos um verniz de
estadista, mínimo que seja.
A
mensagem que Marina Silva passa é essa, a de que de “governável, mas
ingerenciável” o Brasil finalmente será “ingovernável e ingerenciável”.
Há o perigo de se contemplar perigosamente o fundo do abismo trazido
pelo caos. Em um cenário assim, tudo pode acontecer, além da elevação
inflação e da queda do PIB.
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