domingo, 3 de agosto de 2014

Festival celebra a Idade Média em Charqueadas


Participantes do evento só podiam entrar vestindo trajes da época

ZERO HORA
Festival celebra a Idade Média em Charqueadas Félix Zucco/AgênciaRBS
Corrida com tronco foi um dos momentos mais intensos do festival Foto: Félix Zucco / AgênciaRBS
"Entrar no mundo da fantasia. Viver os heróis da infância. Sair do mundo real e entrar no mundo da magia". Com as pálpebras inferiores pesadamente maquiadas, como aqueles de vilão de filme mudo, uma barba negra longa estilo hispter, a cabeça raspada e uma longa túnica azul turquesa, Santto Nerva, 29 anos, definiu o porquê de estar no festival de cultura medieval no sábado à tarde em Charqueadas.
Como ele, quase 300 pessoas de diversas regiões do Estado se reuniram para celebrar uma versão água com açúcar do que foi um período sombrio e sangrento da história — a Idade Média.
Os ingressos para a Epic!, que se esgotaram, variavam entre R$ 70 e R$ 90 e davam direito a comida e bebida a la farta. Estes também não eram muito fidedignos: queijo, mortadela, cuca, geleias, pães, cerveja e vinho. Havia também hidromel, um fermentado de mel e água, muito apreciada pelos vikings entre um saque e outro às terras europeias e bebido em chifres cuja origem é algum animal não identificado pela reportagem.

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Na hora da inscrição da festa, feita pela internet, parte dos presentes aderiu a algum clã — um tipo de unidade social familiar do passado — mas que no evento funcionava como uma equipe de competição para as gincanas medievais. A prova com maior grau de virilidade e força física era a corrida com tronco. Funcionava assim: uma dupla representando cada clã tinha que arrastar na lama um enorme tronco de madeira amarrado uma corda em cada extremidade. Quem fizesse em menos tempo o trajeto determinado, vencia. Como os organizadores não souberam informar o tamanho da madeira nem a distância do percurso (até porque sistema métrico é coisa da Revolução Francesa), eu medi as distâncias com os meus passos: o tronco tinha 3 e o trajeto, 43. O peso da barra foi determinado de modo mais subjetivo: entre 100 e 200 quilos, de acordo as duplas que o arrastaram. O melhor tempo foi 8,8 segundos; o pior 13,7. Detalhe: o tempo foi medido no cronômetro de um telefone celular.
Apenas uma mulher participou da modalidade. Juliana Anderson, de Porto Alegre, uniu-se a um dos organizadores, segurou o vestido amarelo e vermelho de taberneira com uma das mãos e, com a outra, segurou a corda amarrada a uma das extremidades da madeira. Quando o sinal foi dado, ela praticamente arrastou o companheiro:
— Fiquei revoltada quando, antes da prova, ele disse que não queria ter que me puxar!
O tempo foi de 10,8 segundos.
Ainda vermelho depois de ter participado da prova de arremesso de lanças, o gerente de vendas Carlos Samuel Schorr disse que gostou tanto do festival que pensa em promover algo semelhante em Nova Prata, cidade onde mora. Ele veio de van com mais seis amigos e estava vestido de mago.
— Só faltou a bola de cristal — lamentou.
Como muitos dos presentes, foi Shorr, 30 anos, quem pesquisou e fez a fantasia — uma longa túnica com dois tons de marrom daquelas parecidas com monges de filmes épicos medievais. Ele não soube dizer o nome do tecido utilizado na vestimenta:
— Daí eu vou ter que perguntar para a fábrica de cortinas.
Karen Loss, uma estudante de psicologia de 24 anos, também participou da prova, mas acabou não atingido o alvo e, pior, ficou lesionada. Ela contou gostar da estética medieval e que até cantava um estilo musical da época chamado madrigal. Vestida de sacerdotisa pagã misturada com camponesa dos bosques, Karen conta como se machucou no lançamento:
— Quando eu atirei, a parte de trás da lança bateu na minha cabeça. Ficou doendo umas duas horas.
Afora esse acidente, o evento foi desidratado de qualquer tipo de violência. Espadas, adagas, martelos e foices eram feitos de papelão ou plástico. É a maneira que a cultura da segurança dos tempos de internet, onde a coragem é demonstrada em posts e likes no Facebook, tem para demonstrar o fascínio com um tempo brutal, de coragem física, mas, idealizadamente, honrado.

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