segunda-feira, 28 de julho de 2014

Trecho de mais de 80 km não tem sinal de telefonia móvel no RS


Região de fronteira é a mais prejudicada pelo problema, segundo usuários.
Moradores acabam usando chips de operadores estrangeiras.

Do G1 RS
Produtor rural Eduardo Soares usa chip de uma operadora estrangeira para sair do isolamento  (Foto: Giovani Grizotti/RBS TV)Produtor rural Eduardo Soares usa chip de uma operadora estrangeira  (Foto: Giovani Grizotti/RBS TV)
Por causa de falhas no sinal da telefonia móvel celular, ocorrências de acidentes de trânsito demoram a ser atendidas em algumas regiões na fronteira do Rio Grande do Sul. Em muitos trechos de estrada, o socorro pode demorar a chegar simplesmente pela falta de comunicação entre usuários e policiais, como mostra a reportagem do Teledomingo, da RBS TV (veja o vídeo).
Sem alternativa para pedir ajuda, um grupo de pessoas precisou esperar por horas para ser socorrido após um acidente na BR-293, em Quaraí, na Fronteira Oeste do estado. Na manhã do dia 3 de junho, a professora Daiane e três colegas capotaram o carro na rodovia quando seguiam viagem para Santana do Livramento.
“Fomos desviar de um animal e perdemos o controle do carro. Eu fui a primeira a sair do veículo e tentar pedir ajuda. Nesse momento alguns carros já haviam parado, mas não funcionou o telefone celular , nem o meu nem o das outras pessoas”, relata. “A gente tentou o número da emergência já que no celular diz chamadas de emergência, mas realmente não conseguimos nenhuma ligação”, sustenta.
O motorista de um ônibus parou para ajudá-las. Carregou as vítimas, uma a uma, para dentro do coletivo, que serviu de ambulância. “O que nós íamos fazer, esperar? Se piorasse a situação ou perdesse sangue até morrer ou ate que alguém chegasse perto da cidade pra pegar o número, o sinal?”, questiona o motorista Jairo Borges Duarte.
O trecho de 80 quilômetros ganhou o apelido de Triângulo das Bermudas. “Diversas vezes a gente recebeu comunicados mais de hora depois do fato ocorrido”, confirma o inspetor da PRF, Valmir de Souza.
Chips de outro país
Além disso, moradores da fronteira acabam usando chips de operadores estrangeiras para poder efetuar as ligações. O vereador de Roque Gonzales, na Região Noroeste, Egidio Irineu Szivelski só consegue fazer ligações de qualquer lugar da região porque descobriu que as operadoras argentinas funcionam melhor que as brasileiras. Por isso, usa um chip comprado na vizinha San Javier, do outro lado da fronteira.
“Atribuo isso à distância, porque em linha reta nos estamos a 1,5 quilômetros do Rio Uruguai, dá 3, 4 quilômetros das torres. Os argentinos têm um padrão que a cada 15 quilômetros existe uma torre, bem mais alta que a nossa e que se sobrepõe. Então o sinal da Argentina é muito forte”, detalha ele.
Em Santana do Livramento, na divisa com o Uruguai, a prática se repete. A 400 quilômetros dali, o produtor rural Eduardo Soares também usa chip de uma operadora estrangeira para sair do isolamento.
“Não fosse a rede uruguaia não haveria comunicação e qualquer coisa em termos de saúde, em termos de segurança dos funcionários ou de necessidades que a propriedade pudesse ter. Teria que, cada vez que a gente vem aqui, voltar à cidade para buscar os mantimentos necessários”, avalia.
Cansadas de esperar uma ação das operadoras brasileiras, um grupo de produtoras rurais de Santana do livramento decidiu agir para forçar as autoridades a resolver o problema. “Já fiquei uma semana incomunicável”, queixa-se Soila Mar Correa Ribeiro.
No entanto, além da cobertura precária das operadoras brasileiras, o especialista em telecomunicações Rafael Kunst diz que a origem do problema pode estar do outro lado da fronteira.
“A primeira questão tem a ver com a legislação, uma operadora uruguaia ou argentina, em tese, não deveria invadir o espaço brasileiro. Se isto está acontecendo, provavelmente a operadora está transmitindo com parâmentos maiores do que deveria para evitar a invasão do espaço brasileiro. Isso pode estar interferindo com as operadoras brasileiras e estar fazendo com que o sinal da operadora estrangeira seja mais forte e por esse motivo iniba o funcionamento da operadora brasileira naquele ponto”, explica o professor de ciências da computação Rafael Kunst.
Segundo a operadora Vivo, as regiões mostradas na reportagem da RBS TV não fazem parte da obrigação da operadora, que é atender as áreas rurais distantes até 30 quilômetros dos municípios das regiões Nordeste e Sudeste do país.
Já a operadoras Tim, Claro e Oi afirmaram que  o serviço de telefonia móvel está de acordo com as metas estabelecidas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que determina cobertura de pelo menos 80% da área urbana do município. De acordo com Anatel, as empresas têm prazo até dezembro de 2015 para ampliar os serviços em áreas rurais e regiões mais remotas.

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