terça-feira, 29 de julho de 2014

O adubo é dinheiro


O Pará disputa com a Bahia o primeiro lugar na produção de cacau no País. Por Mário Bittencourt
por Mário Bittencourt — publicado CARTA CAPITAL
cacau
O preço externo do cacau subiu 21% no ano passado, puxado pelo déficit na produção mundial
A literatura, a música e as novelas ligaram no imaginário popular o cacau e a Bahia. O estado nordestino continua a ser o maior produtor nacional, mas a expansão do plantio se dá em outra região. É no Pará, em meio à floresta, que o fruto tem se expandido com maior velocidade e mais eficiência (a produtividade chega ao dobro das plantações baianas). “O plantio aumentou muito nos últimos anos. O solo menos desgastado contribui para obtermos melhores resultados”, diz o agrônomo Jay Wallace da Silva e Mota, superintendente da Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira do Pará. A disponibilidade de financiamento é uma das principais explicações para os bons resultados. O estado é o único com mecanismo de apoio específico ao setor, o Fundo de Apoio à Cacauicultura. A área plantada deve aumentar em mil hectares neste ano.
O preço internacional do produto subiu 21% em 2013, terceiro ano de déficit de produção em relação ao consumo mundial. A defasagem deverá continuar. A produção africana enfrenta condições climáticas desfavoráveis e a demanda é puxada pelo aumento do consumo de chocolate na Ásia, de 6,9% no ano passado, com previsão de atingir 6,6% neste ano. O aquecimento do mercado e a utilização dos estoques deverão estimular a produção brasileira. O consumo mundial de cacau é de 4,2 milhões de toneladas.
Em 2013, a produção do Pará atingiu 79,8 mil toneladas (30% do total nacional) e a da Bahia, 158,1 mil toneladas. A produtividade paraense cresce 15% ao ano desde 2000 e atingiu 916 quilos de amêndoas por hectare, enquanto a baiana não chega a 500 quilos. O setor tem 17 mil produtores e gera 240 mil empregos diretos e indiretos.
A Bahia industrializa todo o cacau produzido no Brasil. As 15 fábricas de chocolate são remanescentes do período áureo da cultura, dizimada pela praga da vassoura-de-bruxa a partir da década de 1980. Muitos produtores não conseguiram se recuperar do endividamento gerado pela crise e ficaram sem recursos para investir em novas tecnologias e na recuperação do solo esgotado pela exploração intensiva.
Criado em 2008 para dar suporte ao Programa de Aceleração do Crescimento da Cacauicultura, conhecido no estado como o “PAC do Cacau”, o Funcacau viabilizou investimentos de 8,4 milhões de reais entre 2010 e 2013. “Se o Pará continuar no ritmo atual e a Bahia não fizer novos investimentos, acredito que em poucos anos se tornará o primeiro do Brasil em produção”, prevê o empresário e produtor baiano Marcos Lessa.
Uma das causas do aumento de produtividade da cultura do cacau no Pará é a utilização do método agroflorestal. A diversidade de espécies dificulta a propagação de pragas, ao contrário do que costuma ocorrer em plantações homogêneas.

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