LUIZ COSTA/HOJE EM DIA
Tiffany Hanke, de 28 anos, ficou impressionada com a hospitalidade das pessoas na Savassi
A Praça Diogo de Vasconcelos, juntamente com os quarteirões que a contornam, desbancou cartões-postais tradicionais da capital mineira, consagrando-se como principal atrativo da cidade.
A constatação não se baseia apenas na grande movimentação no local, que chegou a reunir 20 mil pessoas em dia de clássico da Seleção. Nesta semana, o Hoje em Dia entrevistou cem turistas, lançando a eles o desafio de escolher, espontaneamente, o lugar “do coração”. Trinta e um estrangeiros apontaram a Savassi, que venceu com folga o prêmio de melhor passeio turístico de BH. O Mineirão ficou em segundo lugar, com 20 votos, seguido pela Praça da Liberdade (14).
O clima boêmio proporcionado pelos bares e restaurantes da Savassi, é claro, chama muita atenção, mas o atendimento nos estabelecimentos e a receptividade dos belo-horizontinos contribuíram para conquistar os turistas.
“A comida é muito boa, e as pessoas são ainda melhores. Elas querem nos ajudar de qualquer forma. Chegaram a nos acompanhar de loja em loja só para nos servir como tradutores”, elogiou a norte-americana Tiffany Hanke, de 28 anos. A amiga de viagem, Dani Cullens, de 42 anos, completou: “É o melhor serviço que encontrei no Brasil”.
O Mineirão também foi muito lembrado pelos gringos, tanto pela estrutura do estádio quanto pela euforia da torcida durante uma partida de futebol. “Nunca vi tanta gente gritando junto, com tanto entusiasmo. Mesmo sem se conhecerem, abraçavam uns aos outros”, disse o irlandês Ryan Jones, de 44 anos.
O resultado da eleição, analisa a pesquisadora e professora da faculdade de turismo da UFMG, Ana Paula de Oliveira, reflete o tipo de público que visita a cidade por causa da Copa. “São, na maioria, homens que não vieram pelos atrativos culturais, mas que querem aliar futebol, farra e diversão. A Savassi e o Mineirão resumem isso tudo”.
Surpresa
A preferência pela Savassi foi uma surpresa até mesmo para a Prefeitura de Belo Horizonte. “Sabíamos, sim, que seria uma área visitada, mas não imaginamos que tanta gente iria se interessar por esse local”, afirmou Mauro Werkema, presidente da Belotur.
As características da Praça Diogo de Vasconcelos podem ter favorecido esse sucesso, observa Cláudia Tonaco, pesquisadora na área de turismo. “É um ponto onde as pessoas encontram restaurantes, comércio e acessibilidade. É um lugar convidativo para caminhar e com muitos hotéis próximos”.
Essas mesmas peculiaridades, explica Cláudia, também são encontradas facilmente em outros locais do mundo, o que faz com que o estrangeiro se sinta familiarizado e crie uma identidade com o local. “É uma zona de conforto para eles”, diz.
Praça da liberdade
Próximo da Savassi, a Praça da Liberdade também chama a atenção, pela tranquilidade, o verde e a arquitetura. “Foi um dos meus lugares preferidos. A vontade que dá é sentar em um banco e ficar horas conversando com um amigo”, disse a norte-americana Andrea Castaño, de 21 anos.
Os museus que compõem o Circuito Cultural da praça também têm recebido milhares de pessoas. Balanço divulgado pela Prefeitura de Belo Horizonte mostrou que o número de visitantes, em apenas um dos 12 espaços, ultrapassou 40 mil em junho. Normalmente, a média é de 5 mil por mês.
Investimento em infraestrutura é a aposta para incrementar visitação
Embora a capital mineira tenha recebido muitos elogios dos turistas, a cidade ainda está longe de integrar o hall de melhores destinos brasileiros para se visitar. “É fato que os gringos aprovaram a nossa hospitalidade. No entanto, isso não quer dizer que a satisfação com a cidade é plena. Os serviços públicos ainda deixam a desejar, os preços são altos, ainda mais se comparados com os praticados nos países deles”, afirma a professora de turismo da UFMG Ana Paula de Oliveira.
Na opinião da pesquisadora da área de turismo Claudia Tonaco, qualidades para atrair o turista existem, mas falta investimento em infraestrutura para incrementá-las. “Temos beleza cênica, acervo cultural fantástico, gastronomia de primeira. Isso precisa ser mais divulgado”, diz.
Se nada for feito, os turistas que hoje enchem Belo Horizonte irão embora após a Copa e, dificilmente, a capital voltará a ter oportunidade de receber tanta gente de novo. “Os turistas viraram atração. As pessoas saem de casa para ver gringo passeando nas ruas”, brinca.
Presidente da Belotur, Mauro Werkema vislumbra melhorias em curto prazo. “A cidade está em transformação e, agora, mostrou que tem vitalidade para grandes eventos. Há estudos que mostram que, em cinco anos, BH será o terceiro grande polo nacional de turismo de eventos e negócios”. Dentre as vantagens que a capital mineira oferece está a localização central no Brasil, a proximidade com os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, e preços mais acessíveis em relação a essas duas cidades.
Em parceria com a Secretaria Estadual de Turismo e a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-MG), a Belotur está investindo em duas pesquisas para medir o grau de satisfação do turista com Belo Horizonte. Os resultados serão divulgados até o fim do Mundial.
Para os chilenos, o Mercado Central
Considerado um dos principais e mais charmosos pontos turísticos de Santiago, no Chile, o mercado de variedades próximo à emblemática Plaza de Armas parece ter influenciado na preferência dos chilenos que vieram conhecer BH. Mais de um terço dos entrevistados do país vizinho apontou o Mercado Central da capital mineira como o lugar que mais gostaram durante a estadia por aqui.
A gama de aromas, desde as ervas aos temperos e quitutes típicos, fascinou o aposentado Alfonso Aranda, de 70 anos. Ele está em Belo Horizonte há uma semana e já foi duas vezes ao espaço da avenida Augusto de Lima. “Lindo e muito acolhedor. Lembra também o querido mercado chileno, mas o nosso forte é o pescado, e o de vocês têm muitas outras opções, como comidas e bebidas”, disse Aranda.
Pesquisa
Sete dos 20 participantes da pesquisa nem precisaram pensar na hora de escolher o Mercado Central como local preferido. Porém, outros que citaram o Mineirão ou a Savassi também fizeram menção ao espaço belo-horizontino que reúne o que há de melhor em comidas, bebidas, artesanato, serviços e utensílios.
“Apesar da nossa derrota contra a Seleção Brasileira, fiquei encantado com o Mineirão, uma belíssima arena. Mas se pudesse escolher um lugar para voltar, nessa curta passagem por Belo Horizonte, seria o Mercado Central, um lugar agradável e que representa bem a culinária mineira. Fui um dia e permaneci apenas duas horas lá dentro, mas fiquei encantado”, conta o empresário chileno Sebastian Diaz, de 47 anos, que veio para a capital mineira na sexta-feira passada, para ficar apenas cinco dias.
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