terça-feira, 29 de julho de 2014

Ariano Suassuna: um esquerdismo transitando entre a safadeza e a loucura

joaogrilo
Um texto publicado pelo blog chapa branca Pragmatismo Político dá uma dimensão de como o esquerdismo faz alguns de seus funcionais perderem o juízo. O recém falecido Ariano Suassuna também foi uma vítima desta doença mental. É hora de avaliarmos alguns pedaços do texto Ariano Suassuna: esquerda e direita, escrito por ele.
Não concordo com a afirmação, hoje muito comum, de que não mais existem esquerda e direita. Acho até que quem diz isso normalmente é de direita.
Ele está errado. O truque de dizer que não existe mais esquerda e direita é usado pelos esquerdistas, pois estes são os que defendem a prática de coação. Nada mais lógico (e imoral) que eles tenham que defender o abandono dos conceitos. Se um dia surgir alguém dizendo que não há mais diferença entre estupro e não-estupro, podemos apostar que isso vem de quem está afim de sair estuprando por aí. Mas justiça seja feita: a discordância em relação ao discurso de “superação de esquerda e direita” é o único ponto de lucidez no texto de Suassuna.
Talvez eu pense assim porque mantenho, ainda hoje, uma visão religiosa do mundo e do homem, visão que, muito moço, alguns mestres me ajudaram a encontrar. Entre eles, talvez os mais importantes tenham sido Dostoiévski e aquela grande mulher que foi santa Teresa de Ávila. Como consequência, também minha visão política tem substrato religioso. Olhando para o futuro, acredito que enquanto houver um desvalido, enquanto perdurar a injustiça com os infortunados de qualquer natureza, teremos que pensar e repensar a história em termos de esquerda e direita.
É por isso que o esquerdismo é a forma mais completa de religião política. E com certeza é a mais irracional e perigosa. No caso dos socialistas, então, nem se fala: a coisa se encaixa em um nível bem pior que o fundamentalismo islâmico.
Temos também que olhar para trás e constatar que Herodes e Pilatos eram de direita, enquanto o Cristo e são João Batista eram de esquerda. Judas inicialmente era da esquerda. Traiu e passou para o outro lado: o de Barrabás, aquele criminoso que, com apoio da direita e do povo por ela enganado, na primeira grande “assembléia geral” da história moderna, ganhou contra o Cristo uma eleição decisiva.
Não, mil vezes não. Mas de jeito nenhum. Ninguém em seu juízo perfeito pode escrever tamanha sandice. Ou está se fingindo de maluco. Basicamente, ele está nos dizendo que “do bem” é de esquerda, e “do mal” é de direita.
Alias, Herodes e Pilatos eram burocratas do estado, enquanto Cristo e João Batista defendiam ações voluntárias (longe da coerção estatal). Judas se vendeu para um estado, ou seja, é exatamente igual a qualquer Black Bloc. E Barrabás? Era o típico marginal que a esquerda adora. Quer dizer, Suassuna virou a Bíblia do avesso. Isso até mesmo um ateu como eu é capaz de perceber.
 De esquerda eram também os apóstolos que estabeleceram a primeira comunidade cristã, em bases muito parecidas com as do pré-socialismo organizado em Canudos por Antônio Conselheiro. Para demonstrar isso, basta comparar o texto de são Lucas, nos “Atos dos Apóstolos”, com o de Euclydes da Cunha em “Os Sertões”. Escreve o primeiro: “Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Não havia entre eles necessitado algum. Os que possuíam terras e casas, vendiam-nas, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade”. Afirma o segundo, sobre o pré-socialismo dos seguidores de Antônio Conselheiro: “A propriedade tornou-se-lhes uma forma exagerada do coletivismo tribal dos beduínos: apropriação pessoal apenas de objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota parte, revertendo o resto para a companhia” (isto é, para a comunidade).
É preciso ter problemas sérios de caráter para usar uma rotina tão imunda quanto essa. Dá até preguiça de refutar… mas, ei, espere, eu já refutei isso aqui antes! Veja a rotina Jesus e seus apóstolos viviam em comunidade onde repartiam bens, logo o cristianismo é marxista.
Concluo recordando que, no Brasil atual, outra maneira fácil de manter clara a distinção é a seguinte: quem é de esquerda, luta para manter a soberania nacional e é socialista; quem é de direita, é entreguista e capitalista. Quem, na sua visão do social, coloca a ênfase na justiça, é de esquerda. Quem a coloca na eficácia e no lucro, é de direita.
No léxico desse aí, “soberania nacional” significa não vender estatais, para facilitar a vida de quem mamar nas tetas do governo sem trabalhar. Um exemplo disso está na recente notícia da Folha, mostrando que computadores do Planalto foram utilizados para elogiar a Dilma (e atacar seus opositores) em páginas da Wikipedia. Vida fácil.
Alias, o truque de imputar “capitalismo” nos oponentes não engana mais ninguém. Países socialistas sempre se aproveitam do capitalismo de estado. E isso resulta em muitos lucros para os “amigos do rei”. Difícil imaginar atividade mais lucrativa do que arrumar posição de poder em estados inchados socialistas. Nota-se que quase todo discurso de Suassuna pode ser compreendido pelo “avesso”.
Eu acho que Suassuna deveria ter assinado seu  texto com o nome João Grilo, seu personagem enrolador de “O Auto da Compadecida”. Enfim, ou ele foi cínico ao estado da tarde, ou pirou de vez.

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