O fiasco fiscal do mês de maio, um déficit
de R$ 10,5 bilhões nas contas públicas anunciado no final da semana passada pelo
Tesouro Nacional, mostra queda da arrecadação de 6% em termos reais em relação
ao mesmo mês de 2013: a pior taxa para aquele mês desde 2009, quando vivíamos
uma grave crise. Só para lembrar, os valores reúnem as contas do Tesouro, do
INSS e do Banco Central e deveriam apresentar superávit para honrar os
pagamentos da dívida pública.
Agora, antes desse infortúnio fiscal e
depois de três anos de baixo crescimento, o Brasil parece se encaminhar para
mais um ano de desempenho digno de lástima. O Banco Central revisou sua projeção
de alta do PIB em 2014 para 1,6%, mas o mercado cravou 1,10%, segundo o último
boletim Focus. Estamos à beira de outra crise, agora
escondida?
Nas contas públicas, o governo federal
continua gastando mal e mais do que deve, tambem insiste em manobras contábeis
exóticas para tentar equilibrar suas enormes despesas e suas cada vez mais
minguadas receitas decorrentes de desonerações fiscais enviesadas, da falta de
investimentos públicos e privados e da queda da atividade
econômica.
Agora em maio, o governo já contou com
receitas extras de dividendos da Caixa Econômica Federal, Eletrobrás e Banco do
Brasil, além de receitas de concessões. Também deverá contar com juros sobre o
capital próprio do lucro do BNDES, com o parcelamento de débitos tributários
(Refis), o leilão de dos serviços de telefonia e o bônus que a Petrobrás pagará
à União pelas áreas de exploração do pré-sal recebidas sem licitação na semana
passada.
Apesar das caras de paisagem dos porta-vozes
do governo federal, dos discursos sobre estarmos vivendo no melhor dos mundos e
das acusações gratuitas de que o inferno são os outros está difícil mascarar o
desarranjo cada vez maior da nossa economia e os sinais evidentes de que as
coisas não vão bem.
Os brasileiros começam a temer o desemprego
e os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do
Ministério do Trabalho mostram que de janeiro a maio, o saldo acumulado de
admissões e demissões foi o menor desde 2009 e o segundo mais baixo em 11 anos.
Nos 12 meses acumulados até maio, as contratações líquidas ainda são positivas,
mas nas contas anualizadas dos últimos três meses entraram na área
negativa.
Também em maio, segundo a Pesquisa
Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) divulgada na quarta-feira 2/07 pelo
IBGE, a produção industrial brasileira recuou 0,6% na comparação com abril e
3,2% em relação a maio do ano passado. É a terceira queda seguida tanto em
relação ao mês anterior quanto na comparação anual. É também a maior baixa do
ano. A última vez em que a indústria encolheu por três meses seguidos foi no
segundo semestre de 2011. Embora em 12 meses o resultado acumulado seja positivo
em 0,2%, é menor do que nos meses anteriores: 0,7% em abril e 2% em
março.
O panorama não permite equívocos: estoques
elevados, maior concorrência com produtos importados; consumo mais fraco por
causa da inadimplência em níveis elevados, que compromete a renda familiar;
encarecimento e aperto de crédito com juros mais altos. Tudo presidido por uma
inflação alta que corrói a renda dos cidadãos e aumenta as incertezas políticas
e econômicas da sociedade.
A balança comercial de junho mostra o menor
ritmo da atividade doméstica sobre as importações, mas reforça os sinais de
queda do investimento. E a pior notícia é o movimento em bens de capital, que
sinalizam intenções positivas de novos negócios ou aumento de produção. Além de
um desempenho já ruim nos primeiros três meses do ano (queda de 2,5%), a
aquisição de máquinas e equipamentos do exterior aprofundou a queda para 7,5% no
segundo trimestre de 2014 em relação a igual período de 2013.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI)
brasileira caiu 3,9% em junho sobre o fim de maio, sexta queda consecutiva, de
acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). E vários indicadores de confiança de
diferentes instituições, que revelam o ânimo de empresários e consumidores estão
em patamares críticos, muito semelhantes àqueles dos tempo da
crise.
O Índice de Confiança dos Consumidores da
FGV, por exemplo, está abaixo da média histórica, com seu o pior resultado desde
2008. O similar da Fecomércio de São Paulo está em queda livre desde 2012 e
agora em nível mais baixo que o de 2009: em dez anos, mostra seu pior
desempenho, bem próximo do observado no terceiro trimestre de 2005, no auge do
escândalo do mensalão.
Não há dúvida sobre a necessidade de
mudanças enérgicas na política econômica do País, especialmente quanto ao
restabelecimento da credibilidade fiscal e da transparência política nas ações
governamentais em todos os níveis: um caminho bem diferente do que o governo
federal vem trilhando.
03/07/2014
Arnaldo Jardim. Deputado
Federal PPS/SParnaldojardim@arnaldojardim.com.br
www.arnaldojardim.com.br
Facebook: Deputado Arnaldo Jardim
Twitter: @arnaldojardim
Nenhum comentário:
Postar um comentário