Essa façanha
só podia, mesmo, acontecer na América Latina. Não é só o relógio que
gira no sentido anti-horário: na política, o desastre é ainda maior.
Boliviano ou bolivariano, pouco importa: perdoem a expressão, mas isto
aqui é o cu do mundo:
O relógio da fachada do edifício do Legislativo boliviano, em La Paz, foi alterado na meia-noite da última sexta-feira e passou a girar no sentido anti-horário, para reforçar que a Bolívia
é uma nação do sul e não do norte, segundo afirmaram nesta terça-feira
(24) ministro das Relações Exteriores, David Choquehuanca, e o
presidente do Senado, Eugenio Rojas.
A
numeração do relógio também foi invertida, surpreendendo quem passava
pela rua e provocando o ceticismo da imprensa e nas redes sociais.
"Não
temos que complicar, simplesmente nos conscientizar que vivemos no sul.
Não estamos no norte", disse Choquehuanca, que insistiu que a
iniciativa, longe de pretender "causar algo a alguém", pretende
revalorizar a cultura nacional.
"Quem
disse que o relógio tem que girar desse lado sempre? Por que sempre
temos que obedecer, por que não podemos ser criativos?", questionou o
ministro boliviano.
O relógio foi invertido na últimas sexta, quando começou o inverno no hemisfério sul, explicou Rojas.
Choquehuanca
revelou que na recente celebração da Cúpula dos países do G77 e a
China, na Bolívia, quase todas as delegações receberam um relógio de
mesa com estas características, em forma de mapa boliviano e que incluía
o território litorâneo que o país perdeu em uma guerra contra o Chile
em 1879.
O
chanceler boliviano admitiu que a ideia não é absolutamente original
porque ele ganhou um relógio de pulso com essas características em
Londres, mas ressaltou que essa foi uma criação vinculada à identidade
do sul.
As
autoridades bolivianas devem trabalhar para aumentar essa consciência,
mas não impor nenhuma mudança para as pessoas, porque o relógio
anti-horário representa "uma sacudida no cérebro".
Segundo o
ministro, a iniciativa está no contexto de outros avanços do
reconhecimento da cultura andina, como o uso da bandeira indígena
whipala, hoje um símbolo nacional reconhecido na Constituição.
Choquehuanca
também citou a folha de coca, protegida pela Carta Magna, as campanhas a
favor da Madre Tierra, ou Pachamama, e a revalorização da quinoa.
O
chanceler boliviano ressaltou a necessidade de uma mudança de
mentalidade para entender essas propostas e de estimular o funcionamento
dos dois hemisférios do cérebro para entender "os relógios do sul".
(G1).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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