| 26 Junho 2014
Artigos - Mídia sem Mascara
Artigos - Mídia sem Mascara
Uma
avaliação das limitações humanas não está presente em lugar algum nas
ações ou teorias neoconservadoras. Deste modo, é improvável que eles
evitem aventuras estrangeiras, déficits de orçamento ou aquele tipo de
conservadorismo compassivo (que significa o derradeiro colapso da
própria civilização).
Parece que estamos a testemunhar uma operação de distração que alveja a fronteira dos EUA com o México (que por sinal está abarrotada de pessoas). Qualquer pessoa com faro estratégico deveria estar alarmada com o rumo que esse caso está tomando. É um fato objetivo, queiram ou não, que alguém investiu muito para bagunçar nossa fronteira. Agora, inclusive, a patrulha de fronteira enviou pessoas do Arizona para o Texas. Entretanto, as principais rotas do tráfico de drogas que chegam aos EUA passam pelo Arizona. E como bem sabemos, esses são os mesmos caminhos usados por Moscou no passado para contrabandear armas de destruição em massa (ADM) sem que fossem detectados pelos nossos serviços de segurança. Sendo assim, há razão para nos preocuparmos, especialmente se considerarmos que a Rússia voltou ao seu elevado estado de alerta e à consequente mobilização e exercício de tropas. Ao mesmo tempo, o Iraque está sendo perdido para um tipo de blitzkrieg terrorista. Tudo isso é muito desconcertante, embora Washington continue com sua costumeira estupidez. Enquanto o inimigo se movimenta em todos os fronts, nossos líderes em Washington estão como gatinhos cegos: perdidos e condenados. Eles não sabem o que estão fazendo e não conseguem vislumbrar a ameaça letal que se forma no horizonte.
Em
termos de política externa, a interação fatal entre elementos
marxistas, esquerdistas (1) e neoconservadores não pode ser negada. Eis
uma combinação de matar qualquer nação. Em termos da exploração da
esquerda, os mais proeminentes políticos marxistas nunca foram
seguidores doutrinários de uma doutrina fixa, dado que eles acreditam em flexibilidade tática.
Eles usam o nazismo se for preciso mobilizar a Europa rumo a um
ambiente de loucura xenofóbica após um suposto uso “islâmico” de ADMs
contra a América ou contra cidades da Europa Ocidental. Lênin uma vez
disse: “Não existe dogma marxista”. Mao também jamais acreditou num
marxismo estrito e Stálin o ajustou para suas necessidades estratégicas.
Com algum humor, pode se dizer que todas essas figuras foram
neoconservadoras, exceto pelo fato de que eles aderiram a um princípio
que os neoconservadores aderem apenas esporadicamente. Os verdadeiros
comunistas acreditam no auto-engrandecimento homicida. Os neocons
empreendem assassinatos em massa apenas em nome da democracia (o
que faz com que fique por isso mesmo). E quanto ao interesse nacional
americano? E quanto a defender nossas costas contra a Rússia e China?
Mesmo George W. Bush não pôde fazer muito por isso. Ele tinha de lutar
pela democracia no Oriente Médio enquanto nos deixava sem defesa em
casa. Foi uma ação sem resultados favoravelmente práticos em que
milhares morreram, para que enfim, o Iraque se tornasse um satélite do
Irã; e nós pagamos bilhões por isso.
Não
sei da história toda acerca do neoconservadorismo da administração
Bush, portanto o que for dito em seguida deve ser lido com algum
ceticismo. Sendo assim, se a ideologia pode ser considerada como fator
justificante para certos instintos ou predisposições políticas, qual
instinto justifica o neoconservadorismo? Suicídio político? Karl Marx
era evidentemente um narcisista pernicioso, senão um sociopata (ou
talvez até um psicopata). Esses neoconservadores que outrora foram marxistas
são mais bem descritos se forem considerados ex-crentes desiludidos,
que são flexíveis em vários sentidos. Após terem sido peças descartáveis
do marxismo (e se percebido como tais), eles deixaram essa atmosfera.
Entretanto, esse abandono do marxismo e a conversão a um outro modelo
aconteceu porque eles pretendiam acreditar em alguma forma de verdade ideológica.
Essencialmente dizendo, eles queriam acreditar na fada dos dentes,
apesar de a fada “vermelha” tê-los desapontado profundamente. E aqui
estamos... O marxista Obama está na Casa Branca e os neoconservadores
pavimentaram o caminho dele em nome da democracia.
O marxismo real é um crime na mais alta escala, e sua teoria
é apenas o Primeiro Crime de uma série de crimes contra a decência e a
verdade. É um embuste intelectual que abre um caminho rumo ao poder
absoluto. O crente neoconservador não é do mesmo grau de periculosidade
que o líder marxista. O neocon é perigoso porque ele faz de si mesmo uma peça descartável. Com notáveis exceções, o perigo vem do fato de que o neocon acredita nas sandices que profere.
Além disso, ele também se mantém inconsciente dos seus verdadeiros
motivos, que são invariavelmente projetados em seu inimigo. É triste que
a maior parte da humanidade não pensará seriamente nesses assuntos, e a
porcentagem de “pensadores” próximos ao topo da pirâmide política tem
diminuído desde o século XIX. O que temos hoje, em vez de pensamento
sério, é um falatório inconsequente que quase sempre ofende
simultaneamente o senso comum e o bom gosto e nos traz até à ridícula
situação política que vemos em torno.
Na
maior parte das vezes, os nossos líderes não podem identificar o
interesse nacional nem se for colocada uma arma na cabeça deles e for
feita uma contagem regressiva começando do número 100. Eles simplesmente
são incapazes de pensar além de um emaranhado de imperativos
pseudo-religiosos disfarçados de princípios políticos. A maior parte das
pessoas está absorta em ideias abstratas, embora sejam por causa destas
que ou uma civilização se mantém viva ou se arruína. Penso que chegamos
a um ponto em que quase ninguém em posição de tomar as decisões é capaz
de entender as ideias e a “ciência” as quais se basearam de fato nossa
civilização, e que tampouco sabe da tecnologia política da Antiguidade a
qual nossos Pais Fundadores se basearam. Em vez disso, nossos líderes e
analistas que estão na mídia estão obcecados por ideias abstratas que
são autodestrutivas. Uma avaliação das limitações humanas não está
presente em lugar algum nas ações ou teorias neoconservadoras. Deste
modo, é improvável que eles evitem aventuras estrangeiras, déficits de
orçamento ou aquele tipo de conservadorismo compassivo (que significa o
derradeiro colapso da própria civilização).
O
líder marxista é mais prático que seu joguete enquanto tenciona saquear
uma determinada economia. O neocon se engrandece psicologicamente ao
acreditar sinceramente que ele está do lado dos anjos. Esse tipo de
gente confusa se encaixa naquela expressão de Churchill: “ovelha em pele
de ovelha”. Eles não podem derrotar um inimigo verdadeiro, dado que
eles representam na estratégia nacional o que os New Dealers
representaram na economia, isto é, o idealismo barato, o slogan barato e
um regime em que os resultados são os opostos dos esperados. A esse
respeito, podemos considerar Woodrow Wilson o primeiro presidente
neoconservador, especialmente se considerarmos sua “guerra para acabar
com todas as guerras”. Sabemos o quão bem isso funcionou. (Após isso veio a Guerra contra a pobreza, a Guerra contra as drogas, e agora, a Guerra contra o terrorismo.)
O
desperdício ao qual pode ser atribuído a esse pessoal não é mensurável
em bilhões, mas em trilhões. Os esquerdistas e neoconservadores irão
estragar tudo, e os marxistas (ou um bando de lobos nazistas redivivos
[dependendo da região]) irão coloca-los contra a parede quando o sistema
se tornar anárquico (o que eventualmente acontecerá). O verdadeiro
marxista tem instintos, mesmo que homicidas. Esses instintos são
insanos, mas não obstante são parte de uma coerência operacional,
especialmente em se tratando de tomar o poder. Do outro lado vemos que
os esquerdistas e neoconservadores são artistas do suicídio político,
pois possuem uma criatividade infinita para se matarem lentamente. A
razão pela qual não podemos levar a democracia ao Iraque é que,
fundamentalmente, a democracia não é uma panaceia sequer para nós mesmos. Conforme Robert Michels provou em seu livro Political Parties,
“a democracia é apenas mais uma maneira de organizar a oligarquia”. E
que tipo de oligarquia! Veja o tipo de gente que está sendo elevada ao
poder!
Os Founding Fathers
e os filósofos da antiguidade não acreditavam na democracia. O que eles
acreditavam eram nos “freios e contrapesos”. O elemento democrático em
uma constituição serve apenas como freio ao poder dos ricos ou ao poder
do Executivo. Celebrizar a democracia como se fosse algo quintessencial é
como celebrizar a monarquia ou advogar o poder desenfreado dos
aristocratas. Esse tipo de defesa desmoraliza a sociedade e corrompe
aquela classe de pessoas designada como a toda-poderosa do Estado. Sob a
democracia, portanto, observamos aquilo que Diana West chamou de a
“morte do adulto”. O povo é o Nero da nossa era, mimado pelo poder e
votando em nome de qualquer benefício ou direito da ordem do dia. Mas é
melhor que você não diga nada contra a democracia universal, a paz
universal ou qualquer outra dessas absurdidades.
Rastrear
o pedigree do neoconservadorismo nos leva a um ambiente psicológico
desolador. Falamos de um tipo de pessoa que gravita em torno de certas
crenças. Os esquerdistas (e os neocons) comunicam o espírito do fiel em
tudo que eles dizem e fazem, ou seja, eles propagam a justeza — e até a
necessidade — da crença no equivalente político da fada dos dentes. E
você pode arrancar todos os dentes da boca dele, que ainda ele os
colocará fielmente embaixo do travesseiro esperando uma recompensa na
manhã seguinte. Mas temo que na manhã seguinte ele estará sem dentes e
sem recompensa.
Bem feito para ele.
Notas:
[1]
N.T.: A esquerda americana chamada de ‘liberal’, que não é
necessariamente marxista, por isso o autor separa em dois termos os liberals dos marxistas.
N.T.: Para contextualizar o leitor acerca do neoconservadorismo e da contenda deste artigo, citamos o Dicionário do Pensamento Político de Roger Scruton. Segundo ele, o neoconservadorismo é:
“O
tipo de conservadorismo intelectual que surgiu nos Estados Unidos, em
parte como reação aos movimentos sociais e políticos da década de 1960, e
em parte como apoio à política externa americana durante a Guerra Fria.
As figuras mais proeminentes do neoconservadorismo eram intelectuais
urbanos, acadêmicos e publicitários. Muitas dessas figuras vieram da
social democracia, que havia sido abalada por aquilo que foi visto como o
colapso imanente da sociedade americana, que por sua fez fora provocado
pela liberação sexual, pelo multiculturalismo, pelo politicamente
correto e pela cultura de dependência do Estado. [...]
[Mais recentemente], nascido das posições neoconservadoras, tem surgido um movimento no mundo político que visa pôr em prática certos princípios e aspirações que surgiram nas origens dos debates neoconservadores. Alguns dos membros desse movimento têm obtido posições de destaque no governo dos EUA, fato esse que trouxe maior atenção à filosofia por eles defendida (que nem sempre coincide com o neoconservadorismo stricto sensu). (1) Predomina a ideia que a sociedade americana deve seu sucesso à sua tradição democrática e ao seu respeito pela liberdade individual. Ameaças à América vêm de pessoas que invejam esse sucesso e que não possuem as instituições e costumes que os permitem emular esses valores. A resposta, então, não é contê-los (como se fazia no passado) em suas fronteiras. A resposta é, sempre que possível, depor regimes que fomentam essa inveja, para que assim se possa espalhar as instituições democráticas e a liberdade de mercado, para que assim todo o mundo possa desfrutar dos privilégios que são atualmente desfrutados na América. A guerra do Iraque trouxe inevitavelmente olhares atentos a esse tipo de pensamento, e boa parte desses olhares são hostis. Parte da hostilidade vem de conservadores mais tradicionais (também descritos como “paleoconservadores”), que defendem uma política externa mais isolacionista e uma abordagem mais cética e introspectiva do legado democrático”.
[Mais recentemente], nascido das posições neoconservadoras, tem surgido um movimento no mundo político que visa pôr em prática certos princípios e aspirações que surgiram nas origens dos debates neoconservadores. Alguns dos membros desse movimento têm obtido posições de destaque no governo dos EUA, fato esse que trouxe maior atenção à filosofia por eles defendida (que nem sempre coincide com o neoconservadorismo stricto sensu). (1) Predomina a ideia que a sociedade americana deve seu sucesso à sua tradição democrática e ao seu respeito pela liberdade individual. Ameaças à América vêm de pessoas que invejam esse sucesso e que não possuem as instituições e costumes que os permitem emular esses valores. A resposta, então, não é contê-los (como se fazia no passado) em suas fronteiras. A resposta é, sempre que possível, depor regimes que fomentam essa inveja, para que assim se possa espalhar as instituições democráticas e a liberdade de mercado, para que assim todo o mundo possa desfrutar dos privilégios que são atualmente desfrutados na América. A guerra do Iraque trouxe inevitavelmente olhares atentos a esse tipo de pensamento, e boa parte desses olhares são hostis. Parte da hostilidade vem de conservadores mais tradicionais (também descritos como “paleoconservadores”), que defendem uma política externa mais isolacionista e uma abordagem mais cética e introspectiva do legado democrático”.
http://jrnyquist.com
Tradução: Leonildo Trombela Junior
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