Até hoje não publiquei textos neste blog que não fossem meus. Mas
estou abrindo uma exceção hoje para o excelente texto que minha esposa
me mandou hoje à tarde. Vale a pena ler sua análise bastante lúcida
sobre o que é igualdade na vida real, bem diferente do monte de mentiras
e baboseiras disseminadas pela esquerda. Segue na íntegra:
Antes de qualquer coisa eu gostaria de deixar claro que nunca fui
“paga pau” desse país. Aliás, até vir para cá, e quando eu ainda
acreditava nas mentiras do aquecimento global, eu nutria um certo
desprezo por saber que os Estados Unidos não tinham assinado o tratado
de Kyoto e, por ter estudado biologia, sempre achei isso um absurdo.
Enquanto o mundo todo lutava para reduzir as emissões de gases na
atmosfera, os americanos só pensavam em dinheiro.
Bastaram duas visitas para eu decidir por me mudar com meu marido
para cá. E hoje, vivendo aqui há quase 30 dias, minha percepção mudou
bastante, e posso dizer que a adaptação não tem sido uma das coisas mais
fáceis, mas que estamos conseguindo evoluir a cada dia.
Se eu resolvesse enumerar as coisas boas me faltaria memória para
colocar todas em um único texto, mas também poderia dizer que algumas
coisas não são legais. Não, não é o lugar mais perfeito do mundo, mas
está longe de ser o monstro que muita gente pinta no Brasil.
Muitos, só de ter ouvido falar, acham mesmo que os americanos têm o
rei na barriga e que são antipáticos. Algumas pessoas vieram me
perguntar e outras até insinuaram que eu poderia ser hostilizada de
alguma maneira por ser imigrante. MENTIRA! Todos com quem me relacionei,
desde as pessoas nos comércios até o nosso vizinho são extremamente
simpáticos e solícitos – transbordam simpatia. O ambiente não é nem um
pouco hostil, é na verdade bem convidativo a permanecer, de tão
confortável que é.
Quando você vive a vida comum aqui, frequentando os lugares que os
residentes frequentam como escola, mercado, academia, lojas,
restaurantes e até clinica de pronto-atendimento, você percebe quanta
desigualdade existe no Brasil e que por mais que se discuta sobre
inclusão social estamos longe de trilhar o caminho certo. Aliás, o que
estamos assistindo é a luta de classes cada vez mais acirrada e as
pessoas odiando cada vez mais as diferenças. O negro sempre se sentindo
preterido, o branco se sentindo hostilizado, as mulheres lutando por
“igualdade” e os homens sendo culpados de terem nascido homens, pobres
contra ricos e ricos contra pobres. É uma discussão sem fim que nunca
chega a lugar algum, provavelmente porque estamos fazendo isso errado.
Queria dividir com vocês algumas das “primeiras” impressões que venho
tendo e que têm me gerado reflexões sobre o tema: o que é igualdade na
vida real.
Uma das primeiras coisas que fui buscar aqui foi a academia. Quem me
acompanha no Facebook sabe que tenho hérnia de disco e preciso cuidar
dela com atenção e carinho. Essa academia é a LA Fitness, uma rede que
está presente em todos os Estados Unidos. Sua infraestrutura equivale a
uma Companhia Atlética, mas o preço, pasmem: US$20 por mês. Por esse
valor eu posso fazer todas as modalidades de treinos disponíveis, jogar
basquete, jogar squash em salinhas particulares e fazer hidroginástica
todos os dias, em qualquer horário. E o que me gera reflexão são as
pessoas que vejo lá. São americanos, indianos, latinos, brasileiros (eu e
o Flavio), chineses, japoneses e outras nacionalidades. Tem brancos e
negros na mesma proporção. Tem mulheres, homens e homossexuais. Donas de
casa, jovens moças e idosas, todas puxando ferro. Tem deficientes
físicos. Tem obesos e malhados. Todos tendo acesso à mesma
infraestrutura porque o preço é acessível a qualquer classe social.
No mercado que frequentamos, como o Wal Mart, o Publix ou mesmo o
Target, tem americanos brancos e negros e tem todo o tipo de gente, de
todos os lugares do mundo (mesmo estando em uma cidade menor), todos
consumindo os mesmos produtos, já que os preços são acessíveis. Além
disso os caixas são sempre sorridentes, são loiros, negros, jovens,
idosos, mulheres, homens, americanos ou imigrantes, mas sempre
solícitos.
Aliás eu nunca vi tantos idosos trabalhando. Ontem mesmo estive na
Apple Store e entre jovens brancos clássicos ou com dread no cabelo,
negros, orientais, mulheres, homens e gays tinha uma parcela de
atendentes da terceira idade, cabelos brancos, olhos azuis e pele rosada
(aqueles que um certo Lula já culpou pelas crises mundiais). Todos
comprometidos e trabalhando. Estar na Apple Store aqui não é privilégio
de uma única classe. Todo mundo tem iPhone. Além disso, não são poucas
as escolas públicas que são patrocinadas pela Apple e assim que você
matricula seu filho ele sai com um Mac Book Pro para usar durante o ano
letivo.
Outra coisa legal é que aqui quase não vemos criança na rua, só
quando estão esperando pelo ônibus escolar gratuito, porque crianças e
adolescentes aqui estão na escola. Vão pela manhã e chegam em casa às
14h, 15h e até às 16h. As escolas públicas são boas, e não existe a
necessidade de pagar escola para ninguém por conta do ensino fraco ou
pelo risco de traficantes ficarem na porta como moscas de padaria em
cima dos pequenos e dos adolescentes.
A quantidade de deficientes físicos (acho que por causa das guerras
muitos homens voltam literalmente sem algum membro do corpo) vivendo uma
vida normal, frequentando os shoppings e mercados, praticando esportes e
jantando em restaurantes é enorme. Aqui todos os lugares são
construídos com acesso para deficientes.
Mais uma coisa que me chamou a atenção é que qualquer pessoa,
independente de etnia e condição social, tem carro. Primeiro porque
carro custa barato demais. Segundo porque se você for cidadão você
compra um carro muito bom (um Toyota Camry, por exemplo) por míseros
US$150 mensais. Ontem mesmo vi uma senhora idosa andando de Camaro
(achei incomum porque é diferente vê-lo sendo dirigido por uma idosa), e
vejo centenas ou milhares de negros de BMW novo. Vi brancos de carro
velho e também de carros novos. E vejo as pessoas que prestam serviço
para nós aqui em casa chegando em seus carros gigantes e fazendo um
serviço que nós no Brasil consideramos “braçal”, como pintar paredes ou
instalar papel. Alguns são americanos e outros são imigrantes. Mas todos
trabalham sem preguiça.
E posso continuar falando de muitas outras coisas, como jogar tênis,
por exemplo, não ser uma atividade exclusiva dos mais abastados. Aqui
tem quadras espalhadas pelas cidades e basta você chegar, entrar e usar.
E já vi brasileiros, colombianos, americanos, brancos, negros e
amarelos jogando lado a lado. Ou o cara que estaciona um Mustang no
estacionamento grátis e o outro que estaciona seu carro mais simples no
Valet, curtindo as coisas boas da vida juntos.
Isso tudo tem me feito pensar sobre todo o mal estar que vivemos no
Brasil. E está me fazendo entender que igualdade e inclusão não se fazem
com favores do governo, com bolsa família, com ajudinha temporária.
Inclusão e igualdade se fazem com oportunidade de emprego, com salários
dignos e preços acessíveis.
Se o governo no Brasil tivesse como iniciativa estimular os
empresários a crescer e o mercado a expandir as coisas seriam sim muito
diferentes. Só vivendo aqui consegui entender como o plano Real
conseguiu levar tantas pessoas para a classe média e nivelar tanta
gente. Imagine como é bom você trabalhar em um local que te paga o
suficiente para você consumir como qualquer outra pessoa, dar do bom e
do melhor para sua família e se possível ainda doar seu tempo e algum
dinheiro para trabalhos voluntários e projetos da escola de seus filhos?
Estou aqui há muito pouco tempo, e me considero leiga em muitos
assuntos, mas o que vejo como maior indicativo de inclusão é uma
economia estável. Aqui não são só brancos e negros, magros e gordos,
mulheres, homens e homossexuais. Esse país abre oportunidades para gente
do mundo todo que está disposta a arregaçar as mangas e trabalhar.
A solução para o Brasil está longe de ser tantos projetos de leis
favorecendo uns ou outros. Se leis resolvessem de fato, 80% dos nossos
políticos estariam no mínimo cassados, para não dizer presos. Precisamos
de gente menos dodói, que consiga olhar o povo brasileiro como um só e
não de uma maneira tão segmentada. Precisamos de um governo que aja
para o aquecimento do mercado, da nossa economia, que cobre menos
impostos, e de empresários que estejam dispostos a lucrar um pouco menos
para vender mais. Isso tudo junto daria às pessoas mais acesso a
produtos e serviços que hoje no Brasil são exclusivos de classes mais
altas.
Estou com saudade do meu país. Sinto falta de ouvir as pessoas
falando no meu idioma e gosto de muitas coisas de onde eu vim. Mas
estamos em uma rota suicida e quase sem volta. Deus nos ajude nas
próximas eleições e espero de verdade que nos próximos anos a direita
brasileira retome a atividade de uma maneira mais efetiva para gerar
mais discussão e um outro tipo de mentalidade para o povo.
Como disse Abraham Lincoln um dia, eu quero um governo “do povo, pelo
povo e para o povo”, para todo o povo, com menos exceções. Quero um
governo que não atrapalhe e que se meta menos em nossas vidas. E que as
leis e as oportunidades sejam iguais para todos. É pedir muito?
Alê Quintela
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