A economia brasileira continua a caminho do brejo, perdendo feio para os
outros emergentes. Aliás, com o petismo seremos cada vez mais
submergentes. Editorial do Estadão:
A economia brasileira vai continuar anêmica,
sem fôlego para crescer como outros emergentes e sem força, ainda por
um bom tempo, para enfrentar os principais competidores. O Brasil
seguirá perdendo o jogo por falta de eficiência e de capacidade
produtiva.
Esta é a pior notícia embutida nas contas nacionais do primeiro
trimestre, balanço de um desempenho abaixo de pífio, com crescimento de
apenas 0,2% em relação aos três meses finais de 2013. Projetada para um
ano, essa taxa corresponde a pouco mais de 0,8%, em termos acumulados,
mas até esse resultado já parece acima das possibilidades, segundo
alguns analistas. Mas o detalhe mais negativo é outro: o País permanece
condenado a crescer muito menos do que poderia, se fosse governado com
alguma competência, porque a taxa de investimento produtivo, já muito
baixa nos últimos anos, voltou a cair.
Nos primeiros três meses deste ano o governo e o setor privado
investiram em máquinas, equipamentos, instalações e obras de
infraestrutura apenas 17,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa
proporção, um ano antes, era de 18,2%. Em outros emergentes essa
proporção raramente fica abaixo de 24% e em muitos casos passa de 30%.
Na China, tem superado os 40%.
Uma comparação mais completa, e até mais negativa para o Brasil,
deveria incluir os números e a qualidade da mão de obra disponível. Não
basta gastar mais em educação e promover a multiplicação de vagas de
grau superior, se a formação é ruim nos cursos fundamental e médio e a
maior parte das faculdades produz mais diplomas do que competências.
O investimento em queda e a indústria estagnada são os detalhes mais
assustadores do quadro divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), com os novos números do Produto Interno
Bruto. A taxa de investimento chegou a 19,5% no primeiro trimestre de
2011, quando a presidente Dilma Rousseff ainda se acomodava no gabinete
principal do Palácio do Planalto. Caiu, a partir daí, para 18,8%, nos
primeiros três meses de 2012; para 18,2%, um ano depois; e para 17,7%,
no trimestre inicial de 2014.
A queda comprova mais uma vez o fracasso, nada surpreendente, da
estratégia seguida neste governo e em parte implantada no governo
anterior. Falhou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O plano
de concessões de infraestrutura, mal concebido e mal executado, demorou a
deslanchar e pouco avançou. Os financiamentos com recursos federais
privilegiaram grandes empresas do próprio governo e grupos selecionados
para tornar-se campeões. Os estímulos fiscais beneficiaram indústrias
selecionadas e favoreceram muito mais o consumo do que a produção. O
sistema tributário, irracional e absurdamente oneroso, permaneceu quase
intacto.
Enquanto isso, o governo continuou gastando, intervindo na economia de forma desastrada e perdendo credibilidade.
O péssimo desempenho da indústria, com recuo de 0,8% nos primeiros
três meses e crescimento de apenas 2,1% em quatro trimestres, também
mostra a falência de um estilo de política econômica. O protecionismo
foi incapaz de impedir a conquista de fatias crescentes do mercado
interno pelos produtores estrangeiros. Além disso, seria inútil como
instrumento de competitividade para os fabricantes nacionais atuarem no
mercado externo. Isso foi sempre óbvio. Mas o governo, com apoio de
parte do empresariado, preferiu reeditar um modelo defensável, há
décadas, quando ainda tinha sentido falar de indústria nascente.
Mais uma vez a agropecuária impediu um desastre maior. Sua produção
no primeiro trimestre foi 3,6% maior que nos três últimos meses do ano
passado. Em 12 meses, o crescimento acumulado chegou a 4,8%, enquanto a
expansão do PIB total continuou em 2,5%, a mesma taxa de 2013. Este é o
número revisto. O dado anterior (2,3%) foi revisto depois de atualizada a
pesquisa do setor industrial. Essa atualização pouco afetou o quadro
geral do ano passado e as perspectivas deste ano. A estatística
melhorou, mas a política é tão ruim.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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