Julio Pereira/APF/Arquivo
Em 1993, o tricampeão mundial vencia o GP do Brasil, em Interlagos
Só há uma palavra para descrever o estilo de Ayrton Senna: ousado. Ele
fazia seus carros irem além do que eram capazes. Foi assim que deu
inúmeras alegrias ao povo brasileiro e fez história na Fórmula 1, até o
fatídico 1º de maio de 1994. Na curva Tamburello, do GP de San Marino,
na Itália, despediu-se, fazendo o que mais amava. Há exatos 20 anos, o
país perdia um dos maiores pilotos do automobilismo mundial.
Sobrinho do tricampeão, Bruno Senna, de 29 anos, conta que as primeiras
experiências no kart foram por influência do tio. E a morte do ídolo
foi um grande trauma na vida dele, que se afastou das pistas por dez
anos. Porém, conseguiu superar e até chegou à F-1, onde disputou três
temporadas.
Nesta quinta-feira (1º) competindo em provas de Endurance, ele se
recorda de histórias curiosas e até da famosa frase proferida por Senna:
“Se acham que sou rápido, esperem até ver meu sobrinho.” Suas
lembranças mais antigas são da época em que o tio morava no exterior e
regressava ao Brasil ao final da temporada. “Sempre trazia brinquedos
incríveis para mim e minhas irmãs, principalmente do Japão. Ganhei
vários carrinhos rádio-controlados, com os quais eu começava a brincar
imediatamente”, comenta.
Bruno confessa que, por ter seguido carreira no automobilismo, o “peso”
do parentesco é enorme. “O nome Senna sempre foi motivo de orgulho, mas
também fator de pressão extra. Mas é claro que me ajudou muito a
conquistar apoios no início da minha carreira”, afirma.
Ele pontua que a marca de Ayrton Senna vai muito além das pistas.
“Todos os fãs têm as memórias inesquecíveis de disputas por posição,
grandes corridas na chuva, além, é claro, das classificações. Mas o
grande legado está voltado à personalidade. Características como
determinação, obstinação, perfeccionismo, senso de justiça e patriotismo
fizeram dele alguém muito diferenciado num esporte onde a política
sempre reinou”, conclui.
Ele conta uma história que ouviu de Nigel Mansell. “Me disse que,
quando venceu o campeonato de 1992 e estava saboreando a conquista no
pódio, meu tio estava ao seu lado e falou pra ele: Tá curtindo né? Por
que você acha que me esforço tanto?”
Mãe de Bruno, Viviane Senna diz que nunca imaginou que o filho pudesse
seguir os rastros da velocidade. “Achei que era brincadeira de criança.
Fiquei um pouco assustada, mas, após algum tempo, decidi apoiá-lo”,
confessa.
Ela relembra o lado humanitário do irmão. “Ayrton era um ser humano
simples, com coração enorme e muito brincalhão. Sempre que estávamos
juntos, nos divertíamos. Sempre o vi como uma pessoa diferenciada, que
cultivava um amor imenso pelo povo brasileiro”, observa.
A inquietação enorme diante da desigualdade social era outra forte
característica. “Ele tinha o sonho de fazer algo para mudar essa
realidade. Esse desejo foi o embrião do trabalho do Instituto Ayrton
Senna, que hoje leva educação pública de qualidade a mais de 2 milhões
de crianças e jovens do país”, lembra.
Acidente é marco para segurança na Fórmula 1
A morte de Ayrton Senna mudou para sempre os rumos da Fórmula 1. Para o
bicampeão mundial da categoria, o brasileiro Emerson Fittipaldi, que já
havia se aposentado no auge da carreira de Senna, o acidente foi um
marco. “Ajudou os construtores a descobrirem novas formas de melhorar a
segurança dos carros”, argumenta o ex-piloto.
Uma das primeiras atitudes, de acordo com ele, foi subir o cockpit para
proteger a cabeça dos atletas. “Houve mais consciência sobre a questão
da segurança. Se vale pensar como consolo, sua morte ajudou a melhorar a
modalidade”, pontua. Vários outros acidentes ocorreram na F-1 desde
1994, mas nenhum terminou com a morte de pilotos.
Fittipaldi acrescenta ainda que a morte do ídolo causou a perda do
interesse dos brasileiros por esse esporte. “Ayrton era espetacular. Ele
ia ao limite dele, da pista e do carro. Infelizmente, morreu no topo da
carreira. Isso, inclusive, esfriou o interesse do público pela F-1.
Quem tem menos de 25 anos hoje não conviveu com aqueles momentos
fantásticos e não sabe da magnitude de tal piloto”, lamenta.
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