terça-feira, 29 de abril de 2014

Potência? Torque? Consumo? Saiba o que considerar ao comprar carro


Colunista do G1 chama atenção para importância do torque no veículo.
Já o chamado '0 a 100 km/h' não vai fazer grande diferença.

Denis Marum Especial para o G1

etiqueta inmetro carros (Foto: Divulgação)Etiqueta do Inmetro (Foto: Divulgação)
Propagandas de carros adoram recorrer a frases como "o mais potente da categoria", "menor consumo no segmento", "motor 16 válvulas", "mais torque em baixa rotação"... Para os superesportivos, a briga é entre quem acelera de 0 a 100 km/h em menos tempo: "2,9 segundos", "4,7 segundos"... Mas, para o consumidor comum, o que interessa? Veja abaixo o que esses dados significam e que peso devem ter na decisão da compra.
1) Consumo
Nem todas as montadoras costumam fazer alarde, a não ser com carros "verdes" (que têm um motor elétrico predominante ou auxiliar), mas vale saber a média de consumo de combustível informada pela montadora, em quilômetros por litro.
Os números se tornaram mais conhecidos com a crescente adesão das fabricantes ao Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBE Veicular), conduzido pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
Anualmente, são divulgadas as médias de consumo de centenas de carros, além da média de emissão de gases e poluentes, e o Inmetro oferece uma etiqueta que pode ser pregada no modelo, com nota que vai de A, para os mais eficientes, e E, para os menos. Assim como faz com geladeiras e máquinas de lavar roupa.
Mas, diferente do que ocorre com os eletrodomésticos, nem todas as marcas de caro fazem uso dessa etiqueta nas lojas.
É válido ressaltar que os números do Inmetro são obtidos com testes em laboratório, simulando as situações de estrada e cidade. E que o consumo de combustível é influenciado por uma série de variáveis, como: estilo de condução, tipo de trajeto (mais ou menos trânsito, mais ou menos subidas, etc), peso que o carro carrega (carga ou ocupantes), entre outros. Por isso, a média mostrada pelo Inmetro ou pela montadora pode não corresponder exatamente à que um motorista faz com aquele modelo.
potência (Foto: Denis Marum/G1)1.0, 1.4, 2.0... número está relacionado ao volume
do motor e era normalmente associado a potência
maior. Mas isso já está mudando
(Foto: Denis Marum/G1)
2) Torque
No Brasil, geralmente ele é medido em kgf.m (quilograma força vezes metro). É uma medida de força do motor: quanto maior o torque, melhor ele responderá às acelerações.
Assim, o torque é muito importante na escolha não só de veículos leves, mas principalmente de veículos de transporte, como caminhões e ônibus.
Nem torque nem potência são constantes: eles variam de acordo com a rotação do motor. Se o uso do veículo for urbano, procure escolher motores que possuam seus picos de torque com baixas rotações (entre 1.500 e 2.500 rpm, rotações por minuto, rpm). Dessa forma, você terá um carro "mais esperto" em baixas velocidades.
Nos carros 1.0, o valor do torque fica próximo dos 9,5 kgfm. Já em veículos maiores e mais pesados, pode ultrapassar os 60 kgfm.
3) Potência
No Brasil, ela é definida em cavalos (cv, de cavalo vapor) – que uma famosa propaganda chamou de pôneis, lembra? Ela é um item importante e, sem entrar em detalhes matemáticos e físicos, podemos dizer que a potência do motor é responsável por transformar o combustível do tanque em velocidade.
Todo carro veloz possui grande potência. Porém, nem todo veículo com grande potência necessariamente é veloz. Exemplo disso são os caminhões, trens e navios, que necessitam de mais potência por conta do grande peso que os motores precisam movimentar. Para se ter uma ideia, a potência começa por volta dos 70 cavalos nos carros "populares" e pode passar dos 1.000 cv nos superesportivos.
Mas, ao comparar modelos semelhantes, lembre-se que diferenças de até 10% são difíceis de serem percebidas pela maioria dos motoristas. Então não serão necessariamente sete cavalos a mais que irão definir uma compra.
Motor 3 cilindros do Up! tem 999 cm³ (Foto: Divulgação)Motor 3 cilindros do Up! tem 999 cm³ (Foto: Divulgação)
4) Cilindrada
É aquela informação em litros que costuma ser propagandeada na tampa do porta-malas (1.0 litro = 1.000 cilindradas). Ela representa a soma dos volumes úteis de cada cilindro do motor. Normalmente, motores com grandes cilindradas possuem potências maiores, mas hoje em dia, com novas tecnologias, como comando de válvulas variáveis e turbinas de baixa inércia, é possível encontrar, por exemplo, dois motores com cilindradas diferentes, um 1.8 e o outro 2.0, com praticamente a mesma potência. Este é mais um dado que não pode ser avaliado isoladamente.
5) Peso do carro
Não é sempre, mas de vez em quando uma ou outra montadora solta um “carrão” com um motorzinho e aí é só reclamação: o carro é grande e bonito, mas não anda. É óbvio que, quanto mais leve o carro, menos energia será gasta para alcançar a velocidade desejada (menos potência). Mas carros maiores, via de regra, oferecem maior conforto. Portanto, o que se lê muito em comparativos é a chamada relação peso potência: esta, sim, deve ser bem avaliada.
6) 8 ou 16 válvulas?
Para poder escolher um carro pelo número de válvulas, é importante entender que elas são responsáveis pelo fluxo de entrada de ar no motor e saída dos gases queimados para o escapamento. Se você anda apenas em trânsito urbano, 8 válvulas serão suficientes para um bom desempenho. Se você vive na estrada (em altas rotações), as 16 válvulas permitirão melhores retomadas em ultrapassagens. Se uma das opções de sua lista for um carro 16 válvulas com comando variável, você estará bem servido na cidade e na estrada.

Audi RS4 em teste de aceleração no Autódromo de Interlagos, em São Paulo (Foto: Divulgação)Audi RS 4 vai aos 100 km/h em 4,7 s (Foto: Div.)
7) Turbo
O uso do turbo eleva a potência e o torque do motor através do aumento da densidade do ar dentro do cilindro. Os resultados são realmente expressivos. O ponto negativo é o custo.
Teoricamente, os novos carros que trazem a turbina de fábrica são até mais econômicos. Mas quem tem um carro turbinado não se aguenta e, quando se pisa mais forte no acelerador, o dono do posto de gasolina é que agradece.
8) 0 a 100 km/h
Esta uma medida é ilustrativa, encontrada para “fotografar” a potência e o torque juntos. Os apaixonados por carros dão muito valor para este indicador, principalmente em arrancadas e na preparação de motores. Se você não se inclui neste grupo, relaxe, pois quem mora em uma cidade grande, como São Paulo, não terá nem os 100 metros disponíveis à frente e, se tiver e tentar fazer o teste nessa velocidade, acabará multado.
Finalizando, além de comparar a ficha técnica dos modelos de seu interesse, faça um test drive antes de bater o martelo. Sem exagerar, tente mudar o trajeto sugerido pelo vendedor: procure uma subida íngreme e dê uma "esticadinha", para confirmar o resultado de sua pesquisa. E boa compra.
Denis Marum coluna Oficina do G1 (Foto: Fábio Tito/G1)

Dono de oficina em São Paulo, Denis Marum é formado em engenharia mecânica e tem 29 anos de experiência com automóveis. Nesta coluna no G1, dá dicas sobre cuidados com o carro.

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