terça-feira, 29 de abril de 2014

Partido faz manifesto por "Volta Lula", mas permanece na base do governo Dilma


Apesar de não apresentar risco imediato de desembarque do governo, o movimento do partido na Câmara constrange a presidente Dilma
CORREIO 24 HORAS

A bancada do PR na Câmara fez hoje um apelo pelo “Volta Lula” nas eleições deste ano. Em uma carta aberta lida pelo líder da legenda, deputado Bernardo Santana (MG), a bancada afirma que somente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode “inaugurar um novo ciclo virtuoso de crescimento pela via da conciliação nacional”. Ele anunciou ainda que o partido não sairá da base de apoio governista. “Certos de que nossos compromissos não se esgotam na obra de um governo, entendemos que o país precisa do reencontro com os princípios daquela aliança de 2002”, afirma a carta, em referência às eleições em que o PR foi importante na viabilização da eleição de Lula para seu primeiro mandato.
De acordo com Santana, a situação econômica do país levou a bancada na Câmara a tentar sensibilizar o ex-presidente para que ele se candidate ao Palácio do Planalto neste ano. “Ninguém é tão capaz quanto ele. Foi [ele] quem enfrentou o tsunami como marolinha”, disse. “Sabemos que o Lula tem condições. O Lula provou isso lá atrás quando tivemos que, como essa que se avizinha, era uma crise de vulto mundial. É uma crise que se avizinha e nos preocupa bastante”, complementou. Após ler a carta em uma coletiva de imprensa, Santana se levantou e colocou um quadro de Lula na parede com sua foto oficial de quando era presidente.
Dos 32 deputados do partido, 20 assinaram a carta. Segundo Santana, a posição oficial da sigla só será definida na convenção do PR. No entanto, os deputados que apoiam o “Volta Lula”, representam, de acordo com ele, cerca de 75% dos delegados que tem poder de escolha na convenção. Santana afirmou, no entanto, que a legenda pode manter o apoio a Dilma caso Lula não se convença diante do apelo do partido. “Não estamos rifando Dilma. Vamos ficar com ela até o final”, disse.

Apesar de não apresentar risco imediato de desembarque do governo, o movimento do partido na Câmara constrange a presidente Dilma ao afirmar que ela não tem capacidade de gerenciar crises e manter a estabilidade econômica. “Não estamos contra a Dilma e nem vamos sair do governo. Estamos apoiando a presidente Dilma. Achamos que ela fez um governo excepcional e honrou o legado do Lula. Mas nós estamos com uma crise, que não é culpa dela, é uma crise mundial terrível que exige uma pessoa com a experiência que o presidente [Lula] tem”. De acordo com Santana, Lula não foi consultado sobre uma possível candidatura. “Se ele soubesse, não precisaríamos fazer esse ato”, disse.
O deputado afirmou também que o presidente do partido, senador Alfredo Nascimento (AM), não foi procurado para se manifestar sobre o ato. Santana afirmou ainda que as recentes denúncias de má administração e desvio de recursos da Petrobras não influenciaram a decisão da bancada. Apesar da defesa de Lula, o partido deverá enfrentar uma discussão mais ampla em sua convenção. O senador Magno Malta (ES) já expressou sua vontade de lançar sua candidatura à presidência como nome único do partido. Para Santana, a posição dele é respeitada pela bancada da Câmara mas será discutida dentro do partido.
Em entrevista uma emissora de televisão portuguesa, Lula afirmou ontem que não será candidato a nenhum cargo eletivo e reiterou o apoio à Dilma. “Em política, a gente nunca pode dizer não. Mas eu acho que eu já cumpri com a minha tarefa no Brasil”, disse. “Não vou ser candidato.” Questionado sobre seu futuro, ele afirmou que continuará fazendo política mesmo sem ocupar nenhum cargo político: “Vou para a rua fazer campanha para a Dilma. Eu quero ser importante pela minha capacidade de trabalho. Eu não preciso de cargo. Eu vou fazer política”. 

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