Apesar de não
apresentar risco imediato de desembarque do governo, o movimento do
partido na Câmara constrange a presidente Dilma
A bancada do PR na Câmara fez hoje um apelo
pelo “Volta Lula” nas eleições deste ano. Em uma carta aberta lida pelo
líder da legenda, deputado Bernardo Santana (MG), a bancada afirma que
somente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode “inaugurar um
novo ciclo virtuoso de crescimento pela via da conciliação nacional”.
Ele anunciou ainda que o partido não sairá da base de apoio governista.
“Certos de que nossos compromissos não se esgotam na obra de um governo,
entendemos que o país precisa do reencontro com os princípios daquela
aliança de 2002”, afirma a carta, em referência às eleições em que o PR
foi importante na viabilização da eleição de Lula para seu primeiro
mandato.
De acordo com Santana, a situação econômica do país
levou a bancada na Câmara a tentar sensibilizar o ex-presidente para que
ele se candidate ao Palácio do Planalto neste ano. “Ninguém é tão capaz
quanto ele. Foi [ele] quem enfrentou o tsunami como marolinha”, disse.
“Sabemos que o Lula tem condições. O Lula provou isso lá atrás quando
tivemos que, como essa que se avizinha, era uma crise de vulto mundial. É
uma crise que se avizinha e nos preocupa bastante”, complementou. Após
ler a carta em uma coletiva de imprensa, Santana se levantou e colocou
um quadro de Lula na parede com sua foto oficial de quando era
presidente.
Dos 32 deputados do partido, 20 assinaram a carta.
Segundo Santana, a posição oficial da sigla só será definida na
convenção do PR. No entanto, os deputados que apoiam o “Volta Lula”,
representam, de acordo com ele, cerca de 75% dos delegados que tem poder
de escolha na convenção. Santana afirmou, no entanto, que a legenda
pode manter o apoio a Dilma caso Lula não se convença diante do apelo do
partido. “Não estamos rifando Dilma. Vamos ficar com ela até o final”,
disse.
Apesar de não apresentar risco imediato de
desembarque do governo, o movimento do partido na Câmara constrange a
presidente Dilma ao afirmar que ela não tem capacidade de gerenciar
crises e manter a estabilidade econômica. “Não estamos contra a Dilma e
nem vamos sair do governo. Estamos apoiando a presidente Dilma. Achamos
que ela fez um governo excepcional e honrou o legado do Lula. Mas nós
estamos com uma crise, que não é culpa dela, é uma crise mundial
terrível que exige uma pessoa com a experiência que o presidente [Lula]
tem”. De acordo com Santana, Lula não foi consultado sobre uma possível
candidatura. “Se ele soubesse, não precisaríamos fazer esse ato”, disse.
O deputado afirmou também que o presidente do
partido, senador Alfredo Nascimento (AM), não foi procurado para se
manifestar sobre o ato. Santana afirmou ainda que as recentes denúncias
de má administração e desvio de recursos da Petrobras não influenciaram a
decisão da bancada. Apesar da defesa de Lula, o partido deverá
enfrentar uma discussão mais ampla em sua convenção. O senador Magno
Malta (ES) já expressou sua vontade de lançar sua candidatura à
presidência como nome único do partido. Para Santana, a posição dele é
respeitada pela bancada da Câmara mas será discutida dentro do partido.
Em entrevista uma emissora de televisão portuguesa,
Lula afirmou ontem que não será candidato a nenhum cargo eletivo e
reiterou o apoio à Dilma. “Em política, a gente nunca pode dizer não.
Mas eu acho que eu já cumpri com a minha tarefa no Brasil”, disse. “Não
vou ser candidato.” Questionado sobre seu futuro, ele afirmou que
continuará fazendo política mesmo sem ocupar nenhum cargo político: “Vou
para a rua fazer campanha para a Dilma. Eu quero ser importante pela
minha capacidade de trabalho. Eu não preciso de cargo. Eu vou fazer
política”.
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