Samuel Costa/Hoje em Dia
Na Drogaria Araújo, a máquina Cata Moeda premia os consumidores com bônus de 2%
Enquanto muitos conservam o hábito de “engordar o porquinho”, o comércio amarga a falta de moedas em circulação para dar troco ao consumidor. A queixa é geral e afeta, principalmente, o setor de alimentação.
De acordo com o superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues, as estatísticas da Casa da Moeda são corretas em relação ao número de “pratinhas” fabricadas, mas, na prática, elas não funcionam, por causa do hábito dos brasileiros de deixar as moedas em casa.
“As pessoas consideram as moedas um incômodo no bolso, principalmente os homens. Mas, para nós, é um sofrimento, temos que ir atrás de garagens de ônibus e do pessoal que lida com dinheiro miúdo para trocar. O mal só não é pior porque, hoje, somente um terço das vendas é pago em dinheiro”, diz Rodrigues. Para o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), Juan Moreno, a questão é cultural e vem sendo agravada pelos recursos modernos de pagamento.
“Hoje, as pessoas usam mais os cartões de crédito e débito, contribuindo para a falta de moedas circulando, um problema de caixa para os comerciantes. Alguns estabelecimentos até afixam cartazes avisando que trocam moedas”, diz Moreno.
Medidas de incentivo
Dados do Banco Central indicam que, atualmente, o dinheiro metálico corresponde a 3,1% do total de moeda em poder da população e da rede bancária, no Brasil. Considerando as duas famílias de moedas (as antigas, de inox, e as atuais) e os modelos comemorativos, existem 22,51 bilhões de unidades no mercado.
Mas, para os lojistas, a sensação é de que as moedas existam em números muito inferiores aos oficiais. Para tentar reverter a situação, a rede de drogarias Araújo aderiu à máquina “CataMoeda”, que recolhe e conta moedas, além de emitir um vale-compras correspondente ao valor depositado acrescido de 2% para ser utilizado na própria loja.
“Por enquanto, apenas a loja da matriz, na Rua Curitiba, tem a máquina. Em meados de maio, será a vez da loja da Savassi”, afirma a coordenadora financeira da Araújo, Elma Cândido, adiantando que a meta é instalar o dispositivo em todas as unidades de Belo Horizonte.
De acordo com a coordenadora, além de atrair as “pratinhas”, a iniciativa ajuda na educação financeiras das crianças, que divertem-se com a “CataMoeda”.
Comerciante propõe a clientes a campanha ‘mate seu porquinho’
A procura por moedas em Belo Horizonte está levando comerciantes a adotar medidas inusitadas e criativas, a exemplo da drogaria Araújo, para vencer a disputa com os famosos cofrinhos. A proprietária do café e livraria Café Book, Camila Dornas, queixa-se da escassez de moedas de um real, 25 centavos e 50 centavos, consideradas por ela as mais raras. “Moedas não entram, só saem. De tempos em tempos, eu lanço a campanha ‘mate seu porquinho’, peço aos clientes para trazerem as moedas que têm em casa e me disponho a contá-las, porque tem gente que tem preguiça de fazer isso”, afirma.
Na biscoiteria e lanchonete Sabores de Minas, o problema se repete. Segundo o proprietário, Amador Miranda de Sales, a mania de guardar moedas chega ao ponto de os clientes pagarem com notas altas só para receber o troco em moedas, principalmente de um real.
“Isso desfalca mais ainda o caixa, mas não podemos perder vendas por falta de troco. Não é fácil, mas sempre nos viramos, seja recorrendo aos vendedores ambulantes ou pedindo em outras lojas”, diz Amador de Sales.
Já na banca de jornais e revistas de Jonathan Ferreira da Silva, a situação é contrária. Por causa dos preços fracionados, a movimentação de moedas é grande no local, que já tornou-se referência no comércio do bairro Santa Efigênia como fonte de “pratinhas”.
“Geralmente, eu fico bem abastecido e sou procurado por outros comerciantes, e até por clientes, para fazer a troca”, afirma Jonathan da Silva.
O consumidor também precisa estar ciente de seus direitos. Na falta de moedas para troco, o estabelecimento é proibido de oferecer um produto – as balas são as mais comuns. “O lojista tem a obrigação de ter troco. Ele deve ter meios para isso, a obrigação é dele”, diz a advogada da Câmara de Dirigentes Lojistas de BH (CDL-BH), Amaralina Queiroz.
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