Na segunda etapa da Operação
Lava-Jato, a Polícia Federal (PF) vai apertar o cerco sobre dirigentes de
empresas, especialmente de empreiteiras contratadas pela Petrobras que fizeram
pagamentos à MO Consultoria, do doleiro Alberto Youssef, preso desde 17 de
março. Em denúncia apresentada à Justiça Federal semana passada, o Ministério
Público Federal informa que as construtoras repassaram R$ 89,7 milhões para a
MO, de janeiro de 2009 a junho do ano passado. De acordo com a investigação da
PF, a MO é uma empresa fictícia e seria usada por Youssef para pagamentos de propina.
No centro dessa nova linha de
investigação estão empresas ligadas à construção da refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco. Entre as empreiteiras que fizeram pagamentos à MO estão OAS, Galvão
Engenharia e Coesa Engenharia, entre outras grandes empresas. Pelas informações
da força-tarefa de procuradores encarregada de atuar no caso, a OAS fez dois
pagamentos no total de R$ 1,6 milhão, entre 8 de setembro de 2010 e janeiro de
2011; a Galvão Engenharia desembolsou R$ 1,5 milhão, entre abril e março de 2011;
e a Coesa, R$ 435 mil, em 3 de janeiro de 2011.
Na lista de empresas a serem
investigadas estão Jaraguá Equipamentos, Empreiteira Rigidez, Consórcio Sehab,
Consório RNEST, JSM Engenharia e Unipar Participações, entre outras. A PF e o
Ministério Público Federal suspeitam que empresas pagavam propina à MO, de
Youssef, em troca de contratos com a Petrobras ou com empresas contratadas pela
estatal a partir de negociações intermediadas por Paulo Roberto Costa,
ex-diretor da Petrobras. Costa também está preso em Curitiba.
Para MP, recursos vieram de
propina
No topo da lista de empresas que
fizeram os pagamentos mais volumosos à empresa supostamente fictícia de Youssef
está a Camargo Corrêa, uma das sete maiores construtoras do país. Na denúncia,
o Ministério Público informa à Justiça Federal que a empreiteira repassou R$ 26
milhões para a MO, por intermédio da Sanko Sider Comércio Importação e
Exportação de Produtos Siderúrgicos e da Sanko Serviços. O nome da Camargo
Corrêa, que lidera o consórcio de construção da Abreu e Lima, é um dos alvos da
investigação desde o início da Lava-Jato.
“Vale reforçar que a MO
Consultoria, com a finalidade única e exclusiva de dissimular a origem de
recursos públicos desviados da obra da refinaria Abreu e Lima, recebeu recursos
de diversas outras empresas que prestaram serviços para o Consórcio Nacional
Camargo Corrêa”, sustentam os procuradores Januário Paludo, Andrey Borges de
Mendonça e Adriana Aparecida Storoz Mathias dos Santos, integrantes da
força-tarefa responsável por uma das seis denúncias apresentadas à Justiça
Federal semana passada.
Segundo os procuradores, “todos os
recursos repassados para a MO Consultoria são provenientes de propina (vantagem
indevida), pelo fato de essa empresa existir apenas formalmente, sequer tendo
empregados registrados e não apresentando declaração de Imposto de Renda”. Em
depoimento à PF, o suposto dono da MO Consultoria, Waldomiro Oliveira,
confessou que a empresa “não tinha qualquer atividade comercial, funcionando
apenas para emitir notas fiscais por ordem do denunciado Alberto Youssef”.
Para a PF, os negócios de Youssef
com prestadores de serviços de empresas envolvidas na construção da Abreu e
Lima eram facilitados por Paulo Roberto Costa. Na denúncia, os procuradores
citam relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre as supostas fraudes
nas obras da refinaria. Só em dois contratos, os auditores do TCU identificaram
superfaturamento de mais de R$ 600 milhões. A denúncia contra Costa, Youssef e
mais oito supostos cúmplices foi aceita pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara
Federal de Curitiba, sexta-feira passada.
Na denúncia, os procuradores
reafirmam que Costa e Youssef mantinham relações sólidas voltadas para a
prática de crimes. Como indícios concretos dos vínculos entre o ex-diretor da
Petrobras e o doleiro, os procuradores citam o carro de R$ 250 mil que Youssef
comprou para Costa e trechos de papéis apreendidos, nos quais constam relatos
sobre a abertura de offshores e compra de empresas pelos dois. Recortam partes
de uma planilha em que Costa teria anotado valores recebidos de Youssef. As
cifras, relativas a 2012 e 2013, somariam mais de R$ 1 milhão.
Os procuradores destacam ainda
uma anotação encontrada na agenda de Costa, em que o ex-diretor da Petrobras
debocharia de políticos que fazem discurso contra a corrupção. “Acabar com a
corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder (Millôr
Fernandes)”, diz a mensagem. Para os procuradores, essa é uma amostra da
“tônica utilizada por Paulo Roberto Costa para tratar as relações de poder”.
Procuradas pelo GLOBO ontem à tarde, a OAS e a Galvão Engenharia não se manifestaram.
Segundo a assessoria de imprensa da OAS, a empresa não iria responder às
perguntas do jornal. O GLOBO perguntou se a OAS tinha contrato com a MO e quais
os serviços prestados pela empresa de Youssef justificaram os pagamentos.
O jornal telefonou para um número
que consta na página da Coesa na internet. Mas uma pessoa desligou o telefone
quando indagada sobre o pagamento à MO. No início do caso, quando surgiu pela
primeira vez o nome da Camargo Corrêa, sua assessoria de imprensa informou que
a empresa não se manifestaria sobre o assunto. A Polícia Federal também fará um
levantamento de empresas ou pessoas que receberam dinheiro da MO e da GFD,
outra empresa de Youssef. As investigações da Operação Lava-Jato foram tornadas
públicas no dia 17 do mês passado, quando Youssef e outros supostos cúmplices
foram presos. (O GLOBO)
BLOG DO CORONEL
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