"A ordem era matá-lo, diz afilhado"
Revista Sociedade Militar Online
A
guia de sepultamento diz que Malhães faleceu de infarto. Porém, muita
gente se nega a acreditar que um homem acostumado a viver em meio à
situações de grande tensão pereceria por conta do nervosismo. O próprio
depoimento que prestou há poucas semanas foi uma situação tremendamente
tensa, assim como o assédio que se seguiu à suas revelações, o que
poderia ter agravado a stuação do já problemático coração do coronel.
O
administrador Joaquim Sarmento Souza, 25, afilhado do coronel morto,
relatou à Folha neste sábado (26) uma conversa que teve com a viúva do
militar logo após o crime, na qual ela afirmou que os criminosos citaram
ter ordens para "matar ele". 'Ainda
não matou ele? Tá demorando muito. Ouviu-se pelo rádio. Perguntavam se o
meu padrinho não lembrava da família que ele matou em Caxias e ele
respondia que não", disse Souza.
Malhães
vivia praticamente recluso em sua pequena propriedade em Nova Iguaçu há
quase três décadas. Recebia poucas visitas e morava apenas com a
esposa. O imprensa gosta de dizer que Malhães chocou o Brasil porque
disse que matou “tantas pessoas quanto foram necessárias” durante a
ditadura, tentando transmitir a impressão de que era uma pessoa cruel. O
militar chegou a se candidatar a vereador em 2000, recebeu 1.432 votos e
ficou como suplente, sua candidatura foi pelo PDT.
Com
dificuldades de se locomover devido a uma queda durante uma reforma da
casa, o militar passava os dias sentado nas cadeiras da varanda. A
relação com a família não parecia muito próxima. Ele tinha cinco filhos e
estava no sexto casamento. Foi colocado na reserva em 1985, logo após o
fim da ditadura.
Jornais
cariocas dizem que Malhães guardava uma imensa mágoa do Exército, por
quem dizia ter sido abandonado. Um dos maiores orgulhos do coronel
Malhães era o que dizia ser a sua especialidade: formar infiltrados. “Eu
adorava meu trabalho”, costumava dizer.
Malhães era extremamente bem sucedido em fazer os presos "mudar de lado" e se tornar informantes infiltrados.
"Para
virar alguém, tinha que destruir convicções sobre comunismo. Em geral
no papo, quase todos os meus viraram. Claro que a gente dava sustos, e o
susto era sempre a morte. A casa de Petrópolis era para isso. Uma casa
de conveniência, como a gente chamava."
Justamente
essa especialidade, formar infiltrados, é que traz a desconfiança de
que a morte do coronel foi mais do que uma infeliz fatalidade.
Quem
são os "infiltrados, os X9, os alcaguetes? Quem são aqueles que,
arrependidos e descobrindo a verdade sobre o comunismo, resolveram
combatê-lo destruindo as organizações de dentro pra fora? Isso é um tabú
até hoje, e pode gerar muita celeuma, e até mortes, caso alguém ouse
citar nomes.
A
revelação de que foi um agente duplo pode derrubar a reputação de
algumas pessoas, hoje vistas como heróis, que ocupam altos cargos na
administração pública. Indenizações e “bolsas” ditadura podem ser
colocadas em cheque. Computadores foram furtados na residência de
Manhães, onde poderia haver informações importantes registradas. fica a
pergunta: Manhães poderia ter mantido nesses computadores uma lista com
os nomes dos "infiltrados" que treinou, e que ajudaram a derrotar a
esquerda nos anos 70?
Até
hoje o “cabo” Anselmo não conseguiu sua aposentadoria, e muito menos
indenizações, justamente por sua dupla condição. Trabalhou como agente
da repressão infiltrado em meio à terroristas que lutavam para implantar
o comunismo no Brasil.
Já
para Vera Paiva, filha do desaparecido Rubens Paiva, o motivo da morte
foi "queima de arquivo", encomendada por pessoas que atuaram na
repressão, com medo de serem delatados pelo coronel Malhães. “Quem o matou não quer que a memória e a verdade venham à tona”, disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário