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iG São Paulo
Publicada em TRIBUNA DA BAHIA
Um estudo realizado nos Estados Unidos com 338 homens e 322 mulheres mostrou que aqueles que tinham autopercepção mais positiva do envelhecimento, sem ligar a velhice à decadência física, por exemplo, tiveram maior sobrevida ao longo de 23 anos de observação.
Essa autoimagem ruim não é por acaso. Os estereótipos negativos relacionados ao envelhecimento são criados pela sociedade e assimilados ao longo da vida. “Eles são aceitos e incorporados pelos jovens sem muito questionamento. Ao envelhecer, estes conceitos prévios fazem parte da personalidade dos indivíduos e podem produzir efeitos negativos de incapacidade e inutilidade”, afirma Laura em sua dissertação de mestrado defendida na PUC-RS.
Qualidade de vida pra quem?
Envelhecer com qualidade é o grande desafio, principalmente para um país como o Brasil, que terá um rápido envelhecimento da população nos próximos 20 anos. No entanto, qualidade de vida é um valor subjetivo. Acesso a bons médicos, exames com bons resultados e conta bancária podem dizer que tudo está bem, mas o idoso pode não sentir que tem qualidade de vida. O contrário também acontece. “Mesmo a pessoa numa condição objetivamente ruim, pode nas piores condições achar a vida boa”, disse Sérgio Paschoal, médico geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Sem voz numa sociedade que não respeita a opinião dos mais velhos e com uma autoimagem ruim, a depressão em idosos se torna mais corriqueira. Um dado que mostra isso é a taxa de suicídio para homens brancos com mais de 65 anos ser cinco vezes mais alta do que a da população em geral.
De acordo com dados de estudo liderado por Maria Cecília Minayo, da Fiocruz, a taxa de suicídios de pessoas com mais de 65 anos passou de 12 a cada cem mil pessoas para 15,8 a cada cem mil, entre 1980 a 2006. A situação é considerada de média gravidade quando passa de dez suicídios a cada cem mil.
“Não é por achar que a vida econômica está ruim, mas achar que perdeu o sentido de viver. Eu posso até ser pobre, mas o que importa é a vida fazer sentido”, disse Sérgio Paschoal.
O sentido da vida para João Antônio Ramos, de 91 anos, é beber seu vinhozinho diário, receber a família para jantar e planejar suas viagens anuais para Portugal. Muita coisa aconteceu desde o dia que o engenheiro eletricista português chegou ao Brasil, em 1954. Era para permanecer apenas seis meses. O tempo passou e ele foi ficando. Logo se casou, teve seis filhos, 14 netos e agora uma bisneta. “Ainda”, brinca.
A aposentadoria há 30 anos não o deixou deprimido, como é comum acontecer. “É uma mudança, mas a gente supera com outras coisas. Em vez de trabalhar, lê um livro. Querendo, não falta coisa para fazer”, diz com a serenidade típica de quem pode se tornar um centenário.
Até lá, segue sua rotina. Acorda às 9 horas, lê o jornal, faz exercícios como “saltitar, baixar e levantar”, depois dá uma volta, vai ao banco ou encontra um parente. Em julho pretende ir a Portugal encontrar os primos. “Pois meus pais já morreram”, brinca.
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