sábado, 1 de março de 2014

Primeiras impressões: Volkswagen Up!


G1 experimenta a versão mais barata e a mais cara do compacto.
Preço de entrada é razoável, mas extrapola nas versões mais caras.

Rodrigo Mora Do G1, em Gramado (RS)

Ao fim de 2013, a Volkswagen substituiu o hatch médio mais defasado da categoria por sua geração atual, e fez do Golf, da noite para o dia, o melhor em seu segmento – acompanhado de perto pelo Ford Focus 3 e, um pouco mais distante, pelo Chevrolet Cruze, mas ainda assim o carro a ser superado.
Neste início de 2014, a montadora aposenta a obsoleta quarta geração do Gol para abrir espaço para o global Up!, que repete a condição do modelo maior: com poucos deslizes, muitas qualidades e preços na média, vê alguma ameaça de Hyundai HB20 e Chevrolet Onix, mas cria um abismo para os demais quando a perspectiva é segurança, dirigibilidade e tecnologia.
Econômico, seguro e fácil de consertar
Poucos são aqueles que entram numa concessionária e perguntam ao vendedor qual a nota de consumo do seu carro de interesse no Conpet, o programa de etiquetagem veicular do Inmetro. A resposta seria “A”, que coloca o modelo entre os mais econômicos do país, atrás somente dos híbridos Ford Fusion Hybrid, Toyota Prius e Lexus CT 200h e do Smart Fortwo, que só leva dois ocupantes. Nissan March e Renault Clio constam na lista do Conpet à frente do Up!, mas apenas quando não oferecem ar-condicionado e direção com algum tipo de assistência (elétrica ou hidráulica), enquanto o novato alcançou média (para cidade e para estrada, respectivamente) de 9,5 km/l com etanol e 13,75 km/l com gasolina contendo os dois equipamentos.
Menos gente ainda sabe para quê serve o Latin NCAP (ou qualquer órgão de segurança viária). Mas quem procurar se informar descobrirá que o Up! recebeu cinco estrelas pela proteção aos passageiros adultos e quatro para crianças, sendo que a pontuação geral chegou a 15,86 (de um total de 17 pontos possíveis) e 39,54 (de um total de 49), respectivamente – levando o Up! ao posto de carro mais seguro já examinado pela entidade.
O rival do Up! mais bem colocado foi o HB20, com quatro estrelas para adultos e três para crianças e 13,8 e 34,52 pontos, respectivamente. Em seguida vem o Toyota Etios, com quatro e duas estrelas (e 12,87 e 17,38 pontos). Chevrolet Celta, Fiat Uno, Fiat Palio, March, Clio e Renault Sandero apresentam desempenho vergonhoso. O Onix ainda não foi avaliado pela entidade.
Dentro de "casa", o Gol alcançou três estrelas para proteção de adultos e duas para a de crianças, com airbag duplo. Sem o item, deu vexame, com apenas uma estrela para adultos e duas para crianças. O Polo (exemplo de carro bem construído) obteve quatro e três estrelas, e o Jetta, cinco e quatro estrelas, como o próprio Up!. Mas sedã ficou pouco abaixo no cômputo geral, com 15,34 e 39,54 pontos para cada um dos quesitos.
Econômico, seguro e ainda o mais fácil e barato de consertar, segundo o Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi). De acordo com a entidade, o compacto emplacou 11 pontos no CAR Group – em uma escala que vai de 10 a 60, sendo a menor pontuação sinônimo de melhor reparabilidade –, desbancando assim o Citroën C3, até então no topo, com 14 pontos. Intimamente ligado às seguradoras, o Cesvi defende que um índice menor de reparabilidade significa apólice de seguro mais barata.
Com tantas credenciais, restava saber se, ao volante, ele seria o melhor de sua categoria.
Impressões
O G1 experimentou com o Up! por cerca de 120 km, primeiramente com a versão Take Up!, que não só é a porta de entrada para o novo modelo, como também a isca para as configurações mais equipadas (e caras) da gama.
Como em qualquer carro do universo, é exasperante lidar com a ausência da direção hidráulica, opcional nessa versão e de série a partir da High Up!.
Nem a construção moderna do subcompacto resultou num sistema minimamente leve: o percurso rodoviário foi vencido com tranquilidade, mas no perímetro urbano – e na hora de estacionar – a única coisa que vem à mente é que economia nenhuma vale a pena em detrimento da direção eletromecânica. Ela pode ser incluída por meio do pacote de opcionais chamado "Easy drive", de R$ 1.240, que inclui coluna de direção com ajuste de altura e rodas de aro 14.
E não poder contar com o ar-condicionado, mesmo na estrada e com vidros plenamente abertos, foi um teste de paciência em meio ao calor de 35 C°.
Carro 'pelado' ainda?
Essas não são características propriamente do Up! – as observações valem para qualquer carro "pelado", mas nos levam à reflexão sobre o porquê da real existência dessa versão: quem, hoje em dia, ainda abre mão de tais itens?
Talvez resida nisso o principal defeito do Up!: a falta de itens básicos de série e o preço que se paga para tê-lo como opcional. Absurdamente, aquecimento é um "extra" que custa nada menos do que R$ 460, enquanto o ar-condicionado sai por R$ 2.750. Infelizmente, a dupla segue como “luxo” até a versão High Up!, intermediária, que começa em R$ 34.990. Com esses dois itens, sai por R$ 38.200.
Volkswagen Up! (Foto: Caio Kenji/G1)Volkswagen Up! (Foto: Caio Kenji/G1)
Posição de dirigir é acertada
A vida fica bem mais agradável, sem dúvida, a bordo da White Up!, configuração topo de linha, experimentada por mais de 100 km. Se a posição de guiar é boa na básica Take Up!, que não tem ajuste de altura do volante (de ótima amplitude), é melhor quando ele está presente. A falta de regulagem na profundidade evidencia a competência da plataforma sobre a qual o Up! é construído, uma vez que mesmo sem ela é possível encontrar a posição ideal.
Tudo está à mão naturalmente, portanto. Um detalhe sempre ignorado mas fundamental para a ergonomia, é que a disposição dos pedais é perfeita. Esqueça a irritante situação do Fox, por exemplo, em que é preciso deslocar o pé esquerdo levemente à direita para acionar a embreagem. No Up!, a movimentação da perna é reta, sem desvios.
Motor econômico
Sem dúvida, o motor 1.0 de 3 cilindros e 12 válvulas (75/82 cv e 9,7/10,4 kgfm de torque) vai melhor no Up! do que no Fox Bluemotion, versão do hatch que tem a missão de ser mais econômica no consumo de combustível.
Volkswagen Up! (Foto: Caio Kenji/G1)Volkswagen Up! (Foto: Caio Kenji/G1)
A explicação está no peso: 993 kg no veterano e 910 kg no estreante. Ainda minoria na categoria, o bloco tricilíndrico é mais potente que o 1.0 de 4 cilindros que vai no Gol (72/75 cv). E não se trata apenas de fazer melhor, mas como fazer, uma vez que o ruído e a vibração do motor são peculiares – e mais instigantes. Ao final do teste, o computador de bordo marcava bons 11,8 km/l.
A surpreendente dirigibilidade do Up! não está só no motor, mas também na cada vez melhor (e aqui também mais macia) transmissão MQ200, ainda sem similares em precisão de engates.  A direção tem respostas rápidas, peso correto em velocidades mais elevadas e é leve nas manobras. Nas curvas, mesmo quando tocado de maneira mais abusada, antagônica à sua proposta, o Up! foi estável e seguro.
A convivência na cabine é uma experiência revigorante ao evitar-se a mesmice, graças a elementos incomuns para carros da categoria, como o acabamento que atravessa o painel e segue a cor da carroceria nas versões Red Up!, White Up! e Black Up!, que são as mais caras, e o painel simples, mas funcional.
Uma ressalva vai para a falta de ajuste de altura para o cinto de segurança, mesquinharia típica do início dos anos 2000 e que não deveria se aplicar a um carro com o currículo dele.
Conclusão
O Up! não rejeita o hábito da Volkswagen de cobrar por quase tudo que não seja o essencial, e assim perde um pouco o sentido nas versões mais caras, cujo preço pode ultrapassar os R$ 40 mil. Mas cobra, também, pelo moderno projeto, construção com aços de alta e ultra resistência, alto nível de segurança e pela tecnologia do motor 1.0. O problema é que isso ninguém vê, e assim o Up! tem como destino apenas o tipo de consumidor que dá mais valor ao que realmente importa.
Volkswagen Up! (Foto: Caio Kenji/G1)Volkswagen Up! (Foto: Caio Kenji/G1)

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