Na hora de pagar, o valor é fracionado, mas as moedinhas de R$ 0,01 já não são cunhadas e as de R$ 0,05 praticamente desapareceram
Ana Alice conta que aplica a equação do consenso no caixa
Foto:
Félix Zucco / Agencia RBS
Nilson Mariano
Quando o freguês chega ao caixa para pagar pelos cacetinhos que
acabou de comprar, a atendente Ana Alice Souza Braga sabe que não terá o
troco exato para devolver. Então, aplica a matemática do
arredondamento: se a conta é de R$ 4,52, deixa por R$ 4,50. Se for de R$
4,53, sobe para R$ 4,55, esperando que o cliente concorde.
Trabalhando como caixa numa padaria do bairro Cristal, na zona sul de Porto Alegre, Ana Alice argumenta que pratica a equação de consenso. Tudo porque as moedas de R$ 0,01 deixaram de ser cunhadas em 2005 e se tornaram raras. As de menor valor atualmente produzidas são as de R$ 0,05.
– Quem já é cliente sabe que é uma fórmula de compensação – diz Ana Alice.
Há consumidores que estranham que os preços das mercadorias sejam fracionados, enquanto faltam moedinhas para o troco. O da gasolina é o exemplo máximo de multifracionamento, tendo três números depois da vírgula. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Adão Oliveira, esclarece que as três casas numéricas foram determinadas por lei federal, em razão dos grandes volumes envolvidos.
– Se o comerciante diminuir para duas casas depois da vírgula, pode ser autuado e multado – diz Oliveira.
O improviso nos caixas deve perdurar. Cerca de 40% das mercadorias são cotadas em centavos, calcula a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas).
– O governo criou os centavos, agora tem a obrigação de fornecer as moedas – ressalta o presidente da Agas, Antônio Cesa Longo.
O Banco Central garante que não há desabastecimento. Informa que há 22,4 bilhões de unidades em circulação – 112 moedas para cada brasileiro.
Por que, então, as moedas parecem escassas? A explicação pode não convencer, mas estaria no hábito das pessoas de guardar o troco em cofres ou esquecer de levar as niqueleiras para pagar as compras. Longo diz que são feitas promoções para captar troco. Há comerciantes oferecendo sacola sustentável ou chocolate se o freguês pagar o equivalente a R$ 10 em moedas. Outro recurso é estimular o pagamento eletrônico, com cartões de crédito e débito.
Troco solidário gerou discórdia
Uma das estratégias foi bolar o troco solidário, no qual os consumidores são convidados a doar centavos para instituições de saúde. Por dois anos e oito meses, a rede Zaffari arrecadou R$ 767.223,75 para três hospitais, o que prova o valor dos centavos. No primeiro semestre de 2013, a empresa terminou com a promoção e prefere não se manifestar a respeito. A Agas, porém, constatou que 40% dos clientes rejeitavam a forma de doação.
Nem sempre malabarismos contábeis são aprovados. Na padaria do bairro Cristal, a funcionária Flávia Alessandra Pereira, 18 anos, colega de caixa de Ana Alice, já levou broncas. Certa vez, explicou a um cliente que não tinha dois centavos de troco, que ficaria devendo a importância. Então, ouviu a réplica:
– Se tu podes me dever dois centavos, por que eu não posso ficar te devendo três centavos?
Como parte do princípio de que o freguês sempre tem razão, Alessandra assumiu três centavos de prejuízo. Pode ter uma quebra de caixa de R$ 3 ao dia.
Existem 22,4 bilhões de moedas, de todos os valores, circulando no país
1 centavo: deixaram de ser produzidas em 2005, mas se fossem cunhadas hoje, custariam R$ 0,16 cada.
5 centavos: embora custem o triplo, seguem em produção, com 600 milhões de unidades no ano passado.
10 centavos: com borda serrilhada, é feita de aço revestida de bronze.
25 centavos: cobre e bronze recobrem as moedas de até R$ 0,25.
50 centavos: em 2001, a combinação dos metais das moedas mudou, e a de R$ 0,50, que era mais pesada até do que a de R$ 1, ficou mais leve.
1 real: nas de R$ 1 o BC tira o prejuízo com a cunhagem de moedas de menor valor: cada uma custa R$ 0,35.
O tema desta reportagem foi sugerido pelo leitor Anselmo Monticelli, aposentado, Porto Alegre. Envie também sua sugestão para o e-mail leitor@zerohora.com.br
Trabalhando como caixa numa padaria do bairro Cristal, na zona sul de Porto Alegre, Ana Alice argumenta que pratica a equação de consenso. Tudo porque as moedas de R$ 0,01 deixaram de ser cunhadas em 2005 e se tornaram raras. As de menor valor atualmente produzidas são as de R$ 0,05.
– Quem já é cliente sabe que é uma fórmula de compensação – diz Ana Alice.
Há consumidores que estranham que os preços das mercadorias sejam fracionados, enquanto faltam moedinhas para o troco. O da gasolina é o exemplo máximo de multifracionamento, tendo três números depois da vírgula. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Adão Oliveira, esclarece que as três casas numéricas foram determinadas por lei federal, em razão dos grandes volumes envolvidos.
– Se o comerciante diminuir para duas casas depois da vírgula, pode ser autuado e multado – diz Oliveira.
O improviso nos caixas deve perdurar. Cerca de 40% das mercadorias são cotadas em centavos, calcula a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas).
– O governo criou os centavos, agora tem a obrigação de fornecer as moedas – ressalta o presidente da Agas, Antônio Cesa Longo.
O Banco Central garante que não há desabastecimento. Informa que há 22,4 bilhões de unidades em circulação – 112 moedas para cada brasileiro.
Por que, então, as moedas parecem escassas? A explicação pode não convencer, mas estaria no hábito das pessoas de guardar o troco em cofres ou esquecer de levar as niqueleiras para pagar as compras. Longo diz que são feitas promoções para captar troco. Há comerciantes oferecendo sacola sustentável ou chocolate se o freguês pagar o equivalente a R$ 10 em moedas. Outro recurso é estimular o pagamento eletrônico, com cartões de crédito e débito.
Troco solidário gerou discórdia
Uma das estratégias foi bolar o troco solidário, no qual os consumidores são convidados a doar centavos para instituições de saúde. Por dois anos e oito meses, a rede Zaffari arrecadou R$ 767.223,75 para três hospitais, o que prova o valor dos centavos. No primeiro semestre de 2013, a empresa terminou com a promoção e prefere não se manifestar a respeito. A Agas, porém, constatou que 40% dos clientes rejeitavam a forma de doação.
Nem sempre malabarismos contábeis são aprovados. Na padaria do bairro Cristal, a funcionária Flávia Alessandra Pereira, 18 anos, colega de caixa de Ana Alice, já levou broncas. Certa vez, explicou a um cliente que não tinha dois centavos de troco, que ficaria devendo a importância. Então, ouviu a réplica:
– Se tu podes me dever dois centavos, por que eu não posso ficar te devendo três centavos?
Como parte do princípio de que o freguês sempre tem razão, Alessandra assumiu três centavos de prejuízo. Pode ter uma quebra de caixa de R$ 3 ao dia.
Existem 22,4 bilhões de moedas, de todos os valores, circulando no país
1 centavo: deixaram de ser produzidas em 2005, mas se fossem cunhadas hoje, custariam R$ 0,16 cada.
5 centavos: embora custem o triplo, seguem em produção, com 600 milhões de unidades no ano passado.
10 centavos: com borda serrilhada, é feita de aço revestida de bronze.
25 centavos: cobre e bronze recobrem as moedas de até R$ 0,25.
50 centavos: em 2001, a combinação dos metais das moedas mudou, e a de R$ 0,50, que era mais pesada até do que a de R$ 1, ficou mais leve.
1 real: nas de R$ 1 o BC tira o prejuízo com a cunhagem de moedas de menor valor: cada uma custa R$ 0,35.
O tema desta reportagem foi sugerido pelo leitor Anselmo Monticelli, aposentado, Porto Alegre. Envie também sua sugestão para o e-mail leitor@zerohora.com.br
ZERO HORA
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