sábado, 29 de março de 2014

Classe média já supera a pobre na América Latina, diz Banco Mundial


É primeira vez que a classe média supera pobre na AL, diz vice-presidente.
Organismo avalia que percentual de 'vulneráveis' pode mudar situação.

Da EFE

A América Latina conseguiu reduzir significativamente a pobreza na última década até o ponto da classe média já superar a pobre, mas, apesar disso, continua sendo uma das regiões mais desiguais do mundo, disse neste sábado (29) à agência EFE o vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina, Hassan Tuluy.
"Segundo a última análise do banco, hoje, pela primeira vez, a classe média supera a pobre", afirmou Tuluy na Costa do Sauípe (Bahia), onde participa da 55ª Assembleia Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
De acordo com o representante do Banco Mundial, que será substituído em breve, pois chegou na idade de se aposentar, a classe média representa atualmente 32% da população latino-americana e a pobre 30%.
A relação ainda poderia melhorar mais, já que entre ambas há uma grande porcentagem que o Banco Mundial classifica como "vulnerável", que pode subir para a classe média ou cair para a pobre.
Para o organismo financeiro internacional, pobres são os que ganham entre zero e quatro dólares por dia, a classe média a que ganha entre 10 e 50 dólares e os vulneráveis entre quatro e 10 dólares.
"O mais importante é que, além da queda da pobreza, também se reduziu o nível de desigualdade, apesar de ainda ser muito grande", acrescentou Tuluy, que é de origem turca mas afirma ter aprendido a amar a América Latina nos dois anos em que vem exercendo o cargo de vice-presidente do Banco Mundial para a região.
"O país menos desigual da América Latina, que é Uruguai, está no mesmo nível do país mais desigual da Europa, que é a Turquia", afirmou.
O funcionário disse que diferentes estudos demonstraram que quando uma região melhora a equidade e ao mesmo tempo cresce, a redução da desigualdade tem um efeito positivo também no crescimento, principalmente na duração do ciclo de expansão.
Tuluy acrescentou que dois terços do sucesso da América Latina na redução da pobreza se deveram ao crescimento econômico e à melhoria no mercado de trabalho, e a outra terceira parte aos programas sociais de distribuição de renda.
O especialista reconhece que a América Latina sofrerá uma desaceleração econômica neste ano pela conjuntura global, após a decisão do Federal Reserve (banco central americano) de retirar seus estímulos para a economia e a possível desaceleração do crescimento na China.
"O banco prevê uma desaceleração geral para as economias emergentes, que podem conseguir uma expansão média de 3%, enquanto que para os países da América Latina a taxa de crescimento ficará entre 2,4% e 3,9%", disse.
"Em parte será consequência dos efeitos globais, já que o vento a favor agora está contra, mas também porque os países da região ainda têm que iniciar várias reformas para melhora sua competitividade", argumentou.
O vice-presidente do BID, no entanto, considera que a América Latina está em melhor situação hoje do que há 15 ou 20 anos para enfrentar choques externos e períodos de volatilidade.
"Está mais preparada para enfrentar a situação de crescimento mais lento em nível mundial que se aproxima", disse.
Uma das razões para essa situação mais propícia, explicou, é que a maioria dos países da região melhorou seus indicadores macroeconômicos, com uma forte redução da dívida em moeda estrangeira, uma maior estabilidade no mercado financeiro e uma forte elevação dos níveis de suas reservas.
A segunda razão, segundo o vice-presidente, é que, ao contrário de outros ciclos em que as matérias-primas estavam em alta e a renda procedente dessas exportações se usava no consumo, agora ela também foi utilizada para aumentar os investimentos, tanto físicos como em capital humano.
De acordo com os números citados por Tuluy, o nível médio de investimento da região subiu de 16% até 22%, e no caso do Peru até 25%.
Tuluy também citou o investimento da América Latina na educação de sua população como ferramenta para ajudar a reduzir o impacto de crise externas.
Na sua opinião, uma possível desaceleração na China pode afetar países que não se diversificaram, "mas os países latino-americanos diversificaram suas matérias-primas de exportação para não depender de um único produto nem da demanda de um único mercado".
Haverá um grande impacto, prevê, mas a "região está em condições de absorvê-lo".

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