Já que estamos em
tempos de recuperar os idos da ditadura militar, vou lembrar aqui de uma frase
do general João Baptista Figueiredo, o último presidente daquele ciclo,
inaugurado em 1964: “Olhem que eu chamo o Pires”. O “Pires” era
uma referência a Walter Pires, ministro do Exército. Mostrou-se um soldado
disciplinado, ali nos estertores da ditadura, mas era de pouca prosa. Até surgiu
na época uma safra de generais que gostavam de sorrir, de fazer acenos aos
críticos e tal. Não era o caso do enigmático “Pires”. E quando é que Figueiredo
fazia aquilo? Sempre que julgava que a oposição ou o Congresso exageravam e
tentavam ir além do que ele considerava seguro no tal processo de “abertura”.
“Chamar o Pires”, ainda que dito num tom de pilhéria agressiva, significava o
óbvio: dar um novo golpe e acabar com a brincadeira. E por que não chamou? Acho
que é porque percebeu que não era mais possível. Adiante.
Mutatis mutandis,
Lula é o “Pires” do PT. Nos bastidores, lideranças do partido vivem ameaçando, a
cada vez que se evidenciam sinais de fragilidade da candidatura de Dilma
Rousseff à reeleição: “Olhem que nós chamamos o Lula”. É o sonho dourado de um
monte de petista e, se querem saber, de muitos empresários também. Ninguém é tão
dócil com alguns tubarões da economia como Lula. Ele tem um lado, assim,
melancia às avessas: vermelho por fora e verdinho por dentro. Ou, se quiserem
uma metáfora mais tátil, ele se parece bastante com jaca: por fora, tem uma
casca áspera, hostil, mas, por dentro, é bastante mole e melequento, gelatinoso
mesmo.
O “vamos chamar o
Lula” voltou a ser repetido com muita frequência nos bastidores do partido na
semana passada, quando veio a público a pesquisa Ibope indicando uma queda
importante na popularidade de Dilma. A questão existe não é de hoje. Não custa
lembrar que, ainda em 2011, no primeiro ano do governo Dilma, Gilberto Carvalho,
secretário-geral da Presidência e espião do Apedeuta no Palácio, falolu em Lua
como “o nosso Pelé”, sugerindo que o PT tem no banco o melhor jogador. Ou por
outra: se Dilma for um risco, chame-se o Pelé barbudo.
Nesta segunda, o
tucano Aécio Neves referiu-se a possibilidade da volta de Lula à disputa em
palestra concedida a empresários ligados ao LIDE, grupo que reúne empreendedores
de São Paulo. Afirmou: “Ouço sempre que pode haver mudança da candidatura do
governo. Para mim, não importa se será Lula ou Dilma. O que eu quero é derrotar
o modelo que aí está”.
O pré-candidato
tucano faz muito bem em tocar no assunto, pondo às claras essa história de que
Lula chega e toma a Presidência como e quando quiser. Se acontecer, terá de ser
com o voto do eleitorado. Ele disputar ou não é um problema dos petistas e de
Dilma, não das oposições. Esse negócio do “olhem que nós chamamos o Lula” é só
mais uma tentativa de intimidar a oposição.
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