terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Em RO, ministro diz que cheia é o maior desastre natural da Amazônia


Francisco Teixeira sobrevoa regiões alagadas pela segunda vez em 15 dias.
Defesa Civil calcula 12 mil fora de casa; governador teme desastre ambiental.

Assem Neto Do G1 RO

Ministro e comitiva volta a Porto Velho para prestar auxílio às famílias atingidas pela cheia do Rio Madeira  (Foto: Assem Neto)Ministro e comitiva volta a Porto Velho para prestar auxílio às famílias atingidas pela cheia do Rio Madeira (Foto: Assem Neto)
O ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira, reconheceu, nesta terça-feira (25), em Porto Velho, que a cheia do Rio Madeira é o maior desastre natural da Amazônia. “Trago esta notícia avalisada pelos técnicos do governo. Realmente, vejo um cenário bastante crítico”, disse o ministro, que fez o segundo sobrevoo nas regiões alagadas em menos de duas semanas. O nível do Rio Madeira atingia, no final da  manhã desta terça, uma cota que as autoridades chamaram de “alarmante”: 18,49 metros, um aumento de 3 centímetros em menos de quatro horas. O ministro deixou ordens ao Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit) e Forças Armadas: “Não pode haver colapso no abastecimento ao Acre”.

Desde que a marca histórica de 17,52 metros foi ultrapassada, mais de 1,8 mil famílias já foram retiradas de suas casas em quatro cidades com situação de emergência decretada (Porto Velho, Guajará Mirim, Santa Luzia e Rolim de Moura) e em 14 distritos da capital de Rondônia, informou o coordenador da Defesa Civil Estadual, coronel  Lioberto Ubirajara Caetano. “Há previsões de crescimento nesses números. Temos equipes removendo outras duas mil famílias nas regiões do Médio e Baixo Madeira, onde há comércios, casas e vias públicas interditados”, afirmou coronel Gilvander Gregório, diretor de Comunicação do Corpo de Bombeiros.

O comandante do Corpo de Bombeiros admitiu que o estado já atravessa o nível de gravidade 3, um estágio alcançado com base numa projeção de cotas do rio pré-definidas pela Sala de Gerenciamento de Crise. E, em tese, o nível 3 permitiria a decretação de calamidade pública. Porém,  segundo informou o secretário nacional de Defesa Civil, general Adriano Pereira, “o alarme é injustificável, pois não há notificações de epidemias ou mortes”. Numa reunião privativa às autoridades, a Defesa Civil exibiu a imagem das bases da Petrobrás, Shell do Brasil, Equatorial e Ipiranga submersas. “Todas estão inoperantes”, informou o militar.

O governador Confúcio Moura confirmou que Porto Velho opera com apenas 20% da capacidade de abastecimento de combustíveis. Os caminhões já não chegam às bases, nem mesmo as balsas conseguem atracar.

Imagem da Defesa Civil mostra bases das distribuidoras de combustíveis debaixo de água (Foto: Assem Neto)Imagem da Defesa Civil mostra bases das
distribuidoras de combustíveis debaixo de água
(Foto: Assem Neto)
“Nós tememos que haja uma tragédia ambiental de proporções inimagináveis se esse combustível, que está sob as águas, chegar a vazar”, alertou o governador. Confúcio Moura que informou a interdição total do Porto Público Organizado. O local já havia rejeitado o descarregamento e embarque de cargas gerais e, nesta terça-feira, fechou para o recebimento de soja – produto que mais impulsiona a economia de Rondônia. “Pedimos que Mato Grosso não remeta mais suas cargas para cá. Certamente, haverá um golpe profundo na economia dos dois estados”, afirmou o governador. Os gastos com a aquisição de alimentos, remédios, colchões, água potável e outras necessidades foram calculados em R$ 11,5 milhões, disse o comandante do CB.
Acre
O vice-presidente do Congresso Nacional, senador Jorge Viana (PT-AC), anunciou que está cobrando do ministério de Minas e Energia explicações sobre a engenharia utilizada às margens da BR-364. “Não creio que as usinas tenham influência direta nesta tragédia, mas os cidadãos brasileiros precisam saber que tipo de estudo foi implementado ali. No pico do alagamento, a lâmina de água chega a um metro de altura”, disse o senador referindo-se a interdição no trecho que liga os estados de Rondônia e Acre, nas proximidades de Jacy-Paraná em Rondônia. O senador questiona a preparação das empresas, que não podiam apresentar falhas, uma vez que as enchentes haviam sido anunciadas há algum tempo.

O inspetor João Bosco Ribeiro, da Polícia Rodoviária Federal, comentou que o trecho alagado, de aproximadamente 1,2 quilômetro, garante a passagem de 20 caminhões ou carretas a cada 60 minutos. “Precisamos fechar por completo a passagem de todo tipo de automóvel dependendo do volume de água”, afirmou. As sinalizações luminosas foram reforçadas, mas o tráfego está proibido a partir das 17 horas.

O vice-governador do Acre, César Messias (PP), concorda que a calamidade é uma possibilidade mais próxima do Acre, por conta do risco de desabastecimento provocado pelo interdição da BR-364. Ele fez um relato ao ministro sobre medidas tomadas pelo governo vizinho, que garante o transporte de gás de cozinha e combustíveis a partir da BR-217, com saída de Cruzeiro do Sul, fronteira com o Peru. Quanto ao abastecimento de gêneros alimentícios, a maior preocupação é com os perecíveis. "A Força Aérea Brasileira (FAB) nos auxilia nesta questão desde Porto Velho”, disse.

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