terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

DESCONFIANÇA DEIXA RASTRO DE PREJUÍZOS



Correio Braziliense - 04/02/2014
 
Uma maré vermelha tomou conta dos mercados financeiros ontem, deixando um rastro de prejuízo como há tempos não se via no mercado. O nervosismo foi tamanho que nenhum dos 72 papéis que compõem o Ibovespa, principal índice de lucratividade da Bolsa de Valores de São Paulo, (BM&FBovespa) apontou alta. Para 13 das principais ações, houve recuo de mais de 4%. O indicador cravou baixa de 3,13%, para os 46.147 pontos, puxado pelo péssimo desempenho dos títulos da Petrobras, que tombaram 5,78%. Foi o maior tombo da bolsa desde 2 de julho de 2013. Neste ano, os prejuízos chegam a 10,4%.
No entender dos especialistas, houve uma conjugação de fatores negativos que disseminaram o pânico nos mercados. Além dos temores em relação às economias emergentes, em meio a dados fracos da atividade industrial da China, os investidores se assustaram com a perda de fôlego da produção fabril nos Estados Unidos e com o deficit recorde na balança comercial brasileira em janeiro. "Os emergentes ficaram na mão desde que a China mostrou desaceleração e os Estados Unidos passaram a reduzir seu programa de estímulos. E o Brasil sofre mais por não ter feito o dever de casa, convivendo com baixo crescimento, inflação alta e contas públicas desajustadas", disse o economista-chefe da Órama Investimentos, Álvaro Bandeira.
FrustraçãoLino Gill, analista da DX Investimentos, destacou que o ISM Manufacturing Index dos EUA, um forte indicador de tendência dos negócios, veio abaixo do esperado. O consenso do mercado estava em 56 pontos, e o número divulgado foi 51,3. "O recuo é preocupante, porque está próximo do nível pré-retração da economia", afirmou. "Também ISM da China foi mais fraco que o esperado, afetando as ações de siderúrgicas brasileiras e da Vale, que exportam minério para o país asiático", acrescentou Jason Vieira, do portal Moneyou.
A sangria da BM&FBovespa no pregão de ontem fez com que R$ 32 bilhões evaporassem no valor de mercado das cinco empresas com as ações mais negociadas no pregão paulista: Petrobras; Vale, cujos papéis recuaram 3%; Bradesco, com baixa de 3,4%; Ambev, que cedeu 3,7%; e Itaú, com perda de 1,2%. No acumulado deste ano, essas companhias tiveram desvalorização de R$ 100 bilhões, dos quais R$ 40 bilhões referentes apenas à Petrobras, que voltou a valer o mesmo que em 2008, antes de sua capitalização.
A desconfiança dos investidores é geral. Se, até a semana passada, o mau humor se restringia ao países emergentes, agora, muitos acreditam que nem mesmo as economia desenvolvidas, incluindo os Estados Unidos, mostrarão força suficiente para a retomada da atividade global. "A economia norte-americana não está a maravilha que todos pensavam. Na China, há dúvidas quanto à capacidade do governo de coordenar a desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) com o mercado paralelo de crédito (shadow bank). No Brasil, a descoordenação é total na economia", disse um operador de um grande banco com sede em Nova York.
Para ele, os investidores, mais avessos aos riscos, estão sacrificando as aplicações em bolsas de valores de países emergentes, que estão sendo obrigados a aumentar os juros para conter a inflação, mesmo com a fragilidade da economia. Por ter um volume maior de negócios, a BM&FBovespa sofre mais. Um dos fatores de piora é a Petrobras, prejudicada pela forte interferência do governo, que vem segurando os preços dos combustíveis para evitar a disparada da inflação e não desagradar aos eleitores às vésperas de a presidente Dilma Rousseff concorrer à reeleição. Em 2014, a desvalorização da estatal na bolsa brasileira chega a 20%. Em Nova York, a 21,4%.
Diante de todo o nervosismo dos investidores, a presidente Dilma aproveitou a mensagem enviada ontem ao Congresso Nacional para reforçar o discurso que já havia feito no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça). Ela ressaltou o compromisso  com a responsabilidade fiscal e com medidas que levem a inflação para o centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de 4,5%.
Na mensagem de mais de uma hora, lida pelo senador João Vicente Claudino (PTB-PI), Dilma reafirmou ver fortes indícios de que as economias desenvolvidas estão começando a se recuperar da recente crise.
» Receita intima Itaú a pagar R$ 18,7 bi
O Itaú admitiu ontem que foi autuado pela Receita Federal, que cobra R$ 18,7 bilhões em impostos não pagos durante a fusão com o Unibanco. A instituição, que havia sido notificada em agosto do ano passado, foi intimada a pagar os tributos pelo Fisco em 30 de janeiro último. Em comunicado ao mercado, o Itaú afirmou que recorrerá ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais contra a multa e considera "remoto" o risco de perda no processo. Segundo o Itaú, a fusão, realizada em 2008, dando origem ao maior banco privado do país, foi aprovada pelos acionistas dos dois bancos e, posteriormente, sancionada pelas autoridades competentes. Conforme informações dadas pelo Itaú após ser autuado, a Receita está cobrando R$ 11,8 bilhões em Imposto de Renda e R$ 6,9 bilhões em Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), acrescidos de multa e juros. O Fisco discordou da forma como foi feita a unificação das operações com o Unibanco.

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