quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Boas para asfalto e chão de terra, motos versáteis ganham espaço


Modelos se saem bem nos obstáculos de estrada e nas ruas esburacadas.
Entre várias vantagens, pneus mais caros são um inconveniente.

Roberto Agresti Especial para o G1

Motos versateis Trail (Foto: Stephan Solon/Divulgação)Motos versáteis como XTZ Crosser 150 e Bros 150 (Foto: Stephan Solon/Divulgação)
O recente lançamento da Yamaha XTZ 150 Crosser reforça uma tendência do consumidor brasileiro, cada vez mais interessado em modelos de motocicletas capazes de rodar bem no asfalto e que permitem ainda desprentensiosas incursões por estradas com pavimentação ruim ou mesmo sem nenhum tipo de calçamento.
No passado, a divisão entre tipos de motos era mais marcante e radical: haviam as “street” e as “trail”. Enquanto as primeiras eram voltadas, como o próprio nome diz, ao uso urbano (street = rua em inglês), as trail (trilha, na língua de Shakespeare) eram as motos de campo, pensadas para uso em atividades de lazer fora de estrada.
Mais altas para superar melhor os obstáculos frequentes na prática do off-road, tinham suspensões de longo curso (que absorvem melhor as irregularidades e trazem mais conforto), pneus específicos para uso na terra, guidão largo, para-lamas altos e relação final de transmissão priorizando a força em detrimento da velocidade máxima.
Curiosamente, muitos consumidores passaram a usar essas motos projetadas para uso na terra em pacatos deslocamentos urbanos, sem se importar com alguns inconvenientes das trail nesse ambiente, tais como a menor aderência/durabilidade proporcionada pelos seus pneus no asfalto assim como a nada amistosa altura do banco em relação ao solo em alguns modelos.
Honda NXR 150 Bros (Foto: Divulgação)Honda NXR 150 Bros (Foto: Divulgação)
Observando esse fenômeno, a indústria tratou logo de adequar as características de alguns modelos a este novo cliente, atraído pela estética off-road, mas pouco ou nada interessado em usar a moto desbravando trilhas nos finais de semana.
Um marco nessa adequação de um conceito a novas realidades ditadas pelo mercado foi a Honda NXR Bros: lançada em 2003, em versões de 125 e 150cc, esta moto quebrou um importante paradigma vigente nas trail, que era o tamanho da roda dianteira.
Trail com rodas menores
Em vez do até então convencional aro de 21 polegadas, as Honda Bros trouxeram ao segmento as rodas dianteiras aro 19 polegadas. Menores, atendiam à realidade de seu usuário final, nada interessado em superar obstáculos, coisa que o aro 21 favoreceria, e mais necessitado por maior agilidade, o que o aro 19 facilitaria.
De quebra, essas duas polegadas a menos na roda dianteira ajudariam a manter a distância do banco em relação ao solo em limites mais amigáveis sem, contudo, prejudicar demasiadamente a tão apreciada estética off-road.
Nos primeiros anos de comercialização, as Honda Bros 125/150 cc responderam por cerca de 12% da produção da montadora  nessa faixa de cilindrada. Em 2013, esse percentual chegou a 26%
O sucesso destas motos de caráter híbrido foi crescente. Nos primeiros anos de comercialização, as Honda Bros 125/150 cc responderam por cerca de 12% da produção da Honda nessa faixa de cilindrada. Já em 2013 tal família conquistou a preferência de 26% desse segmento.
A chegada da Yamaha XTZ 150 Crosser, resposta tardia à preferência dos clientes, destaca a importância desse tipo de moto no atual cenário do mercado nacional. Talvez no início a opção do modelo trail para uso convencional, não mirado no esporte de final de semana em trilhas, fosse determinada por gosto ou modismo. Mas o tempo se encarregou de mostrar as qualidades reais destas “trail urbanas” em relação a suas pares como as Honda CG 125, 150 e equivalentes.
Fica mais fácil vencer buracos das ruas
A primeira dessas qualidades está nas suspensões, que oferecem mais curso e, por consequência, são capazes de “engolir” de maneira mais serena as crateras das mal conservadas ruas e estradas do Brasil. Parceira das suspensões mais robustas é a roda dianteira aro 19, diâmetro minimamente maior do que o da roda dianteira das estradeiras (aro 18), aparentemente ínfima diferença, mas que ajuda bem na transposição de irregularidades sem grande prejuízo à dirigibilidade.
Yamaha XTZ Crosser 150 (Foto: Stephan Solon/Divulgação)Yamaha XTZ Crosser 150
(Foto: Stephan Solon/Divulgação)

Outra vantagem destas Bros & Crosser vem da posição de pilotagem, herdada das motos trail, onde o condutor fica com o tórax mais ereto e mais próximo do guidão – que é mais largo –, tendo a sensação de controle maior e, consequentemente, melhor impressão de segurança.
Os pneus também são um ponto de diferença: o desenho da banda de rodagem e a carcaça apresentam maior compatibilidade com excursões por terrenos ruins sem, no entanto, ter a performance no asfalto prejudicada. Todavia, há um inconveniente que afasta alguns clientes: o preço desses pneus. Os das 125/150 convencionais, as CG e YBR, custam menos do que os pneus desta nova geração de motos inaugurada pelas Honda Bros há mais de uma década. No caso da CG 150, por exemplo, a diferença é superior a 50% do da Bros. Felizmente o aumento da frota tem contribuído para que a defasagem no custo deste componente seja cada vez menor.
Yamaha XTZ Crosser 150 (Foto: Stephan Solon/Divulgação)Yamaha XTZ Crosser 150
(Foto: Stephan Solon/Divulgação)
Por fim, há outro aspecto que favorece a opção por uma Bros ou Crosser: a maior capacidade de rodar levando passageiro.
Isso se explica por causa das suspensões mais habilitadas a cargas maiores e também pela natural predisposição da estrutura dessas motos, com chassis reforçados, para a utilização mais radical sem que a dirigibilidade ou a durabilidade do veículo sejam afetadas. Herança ainda viva de trails duras e puras do passado, como as inesquecíveis Honda XL 250R ou XLX 350R ou a suas rivais da Yamaha, as DT 180L ou DT 200R. Eram capazes de levar seus donos ao trabalho durante a semana e, nos fins de semana, com bem poucas modificacões, a vitórias nos enduros e ralis da época.
Hoje os amantes do esporte fora de estrada contam com modelos específicos para tal prática. Já para os fãs da teoria, da estética off-road, as Honda Bros e agora a Yamaha Crosser  trazem – diretamente importadas das trilhas – qualidades do uso mais radical para as motos do dia a dia.
Roberto Agresti (Foto: Arquivo pessoal)

Roberto Agresti escreve sobre motocicletas há três décadas. Nesta coluna no G1, compartilha dicas sobre pilotagem, segurança e as tendências do universo das duas rodas.

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