quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Blocos tomam ruas do Centro de BH com folia e reflexões sobre a cidade


Então Brilha!, Bloco da Praia, Baianas Ozadas e Magia Negra são atrações.
Entre o sábado e a terça de carnaval, serão cerca de 70 apresentações.

Flávia Cristini Do G1 MG

Foliões seguem o bloco 'Então, Brilha!', no Centro de Belo Horizonte (Foto: Reprodução/TV Globo)Foliões no bloco 'Então, Brilha!', no Centro de BH,
no último ano (Foto: Reprodução/TV Globo)
O Centro de Belo Horizonte deve ser tomado por milhares de foliões durante os dias de carnaval. Dezenas de blocos de rua prometem repertório variado, promovendo uma ocupação de espaços públicos em clima de festa e aproveitando o momento para propor reflexões sobre a cidade. Entre o sábado e a terça-feira de carnaval serão cerca de 70 apresentações de blocos.
Um dos pontos de encontro é a zona boêmia da capital, a Rua Guaiacurus, onde o Então Brilha! se reúne no sábado de carnaval, dia 1º de março, às 9h. O grupo surgiu num momento de descontração entre amigos e tem como símbolo a estrelinha do famoso game Super Mário Bros, de acordo com o diretor de ala musical Rodrigo Castriota.
Com base no público que participou de ensaios na Praça da Estação, a expectativa é de mais um carnaval muito animado. Um dos aquecimentos chegou a atrair mais de cem pessoas com instrumentos, como conta o integrante. “Cada um leva o seu instrumento, tem gente que empresta para um amigo. Deve ser a maior bateria de bloco”, disse Castriota.

Em 2011, os componentes eram no máximo 20, e o repertório ficou centrado nas marchinhas. Já em 2013, o envolvimento do público surpreendeu. “Foram quatro mil pessoas pela estimativa da Polícia Militar. Na minha opinião, foi mais gente”, comentou Castriota, ressaltando a presença de mulheres e crianças. “A proposta é fazer com que as pessoas ocupem este espaço, o baixo Centro. Na minha concepção é um espaço muito bonito”, completou. O repertório é dedicado ao axé music.
Foliões se divertem no bloco 'Então, Brilha!', no Centro de Belo Horizonte (Foto: Reprodução/TV Globo)Foliões se divertiram no bloco 'Então, Brilha!', no Centro de BH, em 2013 (Foto: Reprodução/TV Globo)
O bloco propôs um concurso de composições a serem executadas durante o desfile. “A intenção é falar sobre a cidade, a Copa do Mundo. Este ano você tem que se envolver politicamente com alguma coisa”, disse Castriota.
“O bloco é aberto para qualquer pessoa que quiser chegar, da patricinha da zona sul a garotas de programa da Guaicurus e ao morador de rua"
Gustavito Amaral, do bloco Então Brilha!
O compositor e músico Gustavito Amaral, que é um dos idealizadores, diz que há a proposta de contribuir para o fim do preconceito. “O bloco é aberto para qualquer pessoa que quiser chegar, da patricinha da zona sul a garotas de programa da Guaicurus e ao morador de rua”, disse. Ele explica o conceito de brilhar. “Que as pessoas não tenham vergonha de se expor, de se jogar no carnaval, este é o sentido de brilhar, de ser o folião mais alegre, exalando o amor”, acrescenta.
“É um bloco sem preconceito, todos juntos e misturados”, disse a presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), Cida Vieira. Segundo ela, as associadas vão estar presentes no Então Brilha!.

A concentração será em frente ao hotel Brilhante, que é parte da história da Rua Guaicurus. Após uma hora de aquecimento, o bloco vai caminhar até a Praça da Estação. O percurso é curto, mas entre paradas e muita música, deve ser concluído em três horas. No ponto de chegada, o bloco vai se encontrar com o Bloco da Praia, que dá seguimento à folia.

Segundo o músico e participante Gustavo Borges, o Bloco da Praia deriva de um movimento nascido em resposta ao decreto municipal que proibia a realização de eventos de qualquer natureza na Praça da Estação. A concentração deve ocorrer no início da tarde, às 12h. Como proposta, o integrante destaca o direito da manifestação cultural livre.

“O bloco traz este questionamento, do direito das pessoas de se manifestarem publicamente, e o carnaval potencializou isso. É um exercício do nosso direito de livre manifestação cultural, o direto de a cidade produzir suas próprias manifestações culturais”, afirma Borges.  No último ano, o bloco seguiu até a porta da prefeitura.

Integrantes dos dois blocos disseram que não autorizaram ter a programação divulgada pela Empresa de Turismo de Belo Horizonte, a Belotur, para não constar na propaganda institucional do município.
Ensaio do Bloco Baiana Ozadas (Foto: Renata Andrade/ Arquivo pessoal)Ensaio do Bloco Baianas Ozadas (Foto: Renata Andrade/ Arquivo pessoal)
Outro ponto turístico da cidade, a Praça da Liberdade, também vai ser ponto de encontro dos foliões. O Bloco Baianas Ozadas faz concentração na segunda-feira de carnaval, dia 3, às 11h30. O destino final também será a Praça da Estação. Homens, mulheres e crianças vão tomar as ruas vestidos de baianas.

Neste ano, o bloco, que só executa cantores baianos, escolheu homenagear Dorival Caymmi. Durante o trajeto, será feita referência à lavagem da escadaria da igreja do Bonfim, em Salvador. O ato simbólico será em um edifício na Rua da Bahia, em frente ao Viaduto Santa Tereza. “Com água, flor e arruda”, conta.
Quando a gente ocupa o espaço publico, a gente se coloca nos dois lados de cidadão"
Renata Andrade, do Baianas Ozadas
“O repertório inclui 60 músicas, a intenção é fazer seis horas sem repetição. No ano passado a gente conseguiu. A ideia é que a pessoas acompanhem o bloco do inicio ao fim”, disse a fundadora e produtora Renata Andrade. “É um repertório que atinge todo mundo, porque todo mundo já pulou carnaval um dia ao som da música da Bahia”, completa.
A fundadora ressalta a importância de uma participação consciente dos foliões. “Quando a gente pensa, nossa, a cidade é minha, eu posso fazer festa nela, organizar e chamar as pessoas para participar, é o ato político mais bonito”, disse. Quando a gente ocupa o espaço publico, a gente se coloca nos dois lados de cidadão: o que tem direito de ocupar a cidade e o que tem o dever de cuidar dela. Não posso deixar o impacto negativo por onde eu passar”, falou Renata.

O carnaval também é aberto para estreantes, como o Bloco Magia Negra. O idealizar e percussionista Camilo Gan aproveitou o período que antecede o carnaval para promover oficinas de educação musical. O resultado vai ser visto no sábado de folia, dia 1º. O ponto de encontro é Rua Aarão Reis, 554, a partir das 17h. O grupo assume uma identidade de bloco afro.
Camilo Gan aproveitou o carnaval para dar oficinas de educação musical.  (Foto: Olivia Porto/ Magia Negra)Camilo Gan aproveitou o carnaval para dar oficinas
de música (Foto: Olivia Porto/ Magia Negra)
“O Bloco Magia Negra nasce de uma preocupação dentro do carnaval, a de não ter ações para exaltar valores e a cultura do povo negro. Assumimos isso, a identidade da cultura, dos feitos dos negros para o Brasil e para o mundo”, disse Camilo Gan.

A Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTRANS) ainda não divulgou as intervenções para o feriado prolongado de carnaval.

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