Fiscalização flagrou falta de equipamentos em cooperativas e fábricas.
Cooperados falam que faltam recursos para comprar material de segurança.
As cooperativas e fábricas de reciclagem têm papel significativo na
destinação dos resíduos sólidos, diminuindo a agressão ao meio ambiente
provocada pela ocupação urbana. O problema é que, em meio ao lixo que é
manuseado em muitos desses galpões de reciclagem em Maceió, os catadores ficam expostos a diversos agentes físicos, biológicos e químicos que representam risco à saúde deles.
Há um ano, Rita Costa trabalha em uma cooperativa no bairro da Serraria. Ela disse que perdeu as contas de quantas vezes se feriu com material encontrado no lixo. Sem luvas e de chinelos, ela trabalha seis horas por dia na separação do lixo que chega ao galpão. “As pessoas colocam de tudo no lixo e, algumas vezes, nos deparamos com cacos de vidro e agulhas e acabamos nos machucando”, contou.
A presidente da cooperativa, Maria José dos Santos Lins, explicou que já foram feitos pedidos de EPIs para todos os funcionários. “Estamos aguardando o material e, quando ele chegar, vamos fiscalizar o uso porque tudo que acontece aqui é de responsabilidade da cooperativa. Também vamos ter roupas mais adequadas de trabalho para evitar a contaminação”, informou.
Sobre os riscos do trabalho sem a devida proteção, ela diz que sabe que está em situação de risco, mas não tem outra alternativa. “Trabalho com cuidado para não me cortar. Já tive em situação muito pior quando era catadora do lixão e sei que os equipamentos vão chegar. Com o tempo, a cooperativa vai conseguir mais material de proteção”, disse.
Fiscalização
A falta de EPIs foi verificada em diversas cooperativas e fábricas particulares de reciclagem de Maceió. Durante uma Fiscalização Preventiva Integrada (FPI), realizada em setembro de 2013 pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) e pelo Batalhão de Polícia Ambiental, os fiscais flagraram a situação vulnerável dos catadores.
De acordo com o coordenador de endemias da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Celso Tavares, outras ações como a que aconteceu no ano passado vão ser feitas na capital. “A situação verificada foi o primeiro passo para que outras sejam feitas. Também é importante um trabalho de conscientização para os trabalhadores entenderem a importância de estarem seguros quanto a riscos de contaminação e ferimentos”, expôs.
O promotor Alberto Fonseca, do Núcleo de Meio Ambiente, explicou que a ação foi um projeto piloto, mas que terá continuidade. “Vamos buscar recursos junto ao governo para darmos continuidade a este projeto”, disse. Sobre a situação dos catadores, ele disse que foram levantados os principais problemas e as informações remetidas aos órgãos competentes.
Em uma empresa particular do bairro do Poço, equipamentos como luvas, botas e máscaras são distribuídos aos trabalhadores que fazem a coleta e separação do lixo. No local são reciclados plástico, alumínio e ferro. Para a catadora Maria Alexandra Silva, que trabalha no local há mais de dois anos, os equipamentos são muito importantes para evitar acidentes.
"Trabalhar com o lixo não é fácil, por isso não posso descuidar. Sempre uso luvas, botas e roupa grossa para fazer a separação. É por isso que nunca me cortei ou tive problema. Só a máscara é que tiro às vezes porque incomoda", disse a catadora.
O gerente do local, Manuel Vieira de Lima, explicou que muitos dos cooperados trabalhavam em lixões e já foram condicionados ao trabalho sem nenhuma proteção. "Nós estamos sempre de olho e orientando os funcionários para que eles não deixem de usar a proteção. Já chegamos a perder alguns deles porque não quiseram trabalhar dessa forma e acabaram abandonando o serviço", contou.
Maia também fala de outras formas de contágio. “Algumas doenças podem vir através dos vetores como moscas, baratas e ratos, que transmitem doenças como dengue, tétano, verminoses, leptospirose e outras”, expôs. O infectologista ainda alerta para a importância de os trabalhadores estarem com o calendário de vacinas em dia.
Direitos trabalhistas
A procuradora-chefe do Ministério Público do Trabalho de Alagoas, Virgínia Ferreira, explicou que, no caso de cooperativas, não há uma lei que obrigue os funcionários a usarem os EPIs. “Nas cooperativas, todos os trabalhadores são responsáveis pela compra dos equipamentos e por questões de risco à saúde”, disse.
Por não terem um proprietário e serem divididas entre os trabalhadores, a cooperativa não possui deveres empregatícios como Pessoa Jurídica. "O ideal é que seja feito um fundo de reserva para resguardar o trabalhador, mas isso deve ser decidido em comum acordo", explicou.
Estima-se que cerca de 2,8 mil pessoas atuam na coleta de resíduos recicláveis nos 11 municípios da Região Metropolitana de Maceió. As três cooperativas da capital são independentes, mas contam com o apoio de órgãos municipais e empresas privadas.
Umas das cooperativas, localizada na Vila Emater II, conta com o projeto “Coopvila: Reciclar e Educar”, que é uma iniciativa do Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu (Ceasb) e patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania.
A coordenadora do projeto, Ana Lúcia
Ferraz, explicou que o objetivo é o fortalecimento na organização do
trabalho e a expansão da coleta seletiva, além de realizar uma reforma
no local para criar um espaço educativo. “A parceria também vai promover
a melhoria das condições de trabalho. E os EPIs fazem parte disso”,
falou.
Na mesma cooperativa, o Sebrae/AL promove capacitações e orienta sobre a importância da prevenção de doenças. Também são feitas doações de papel e busca de novas parcerias. A gerente de Recursos Humanos Eliane Gonçalves disse que o trabalho vem surtindo efeito ao longo dos anos. “A grande maioria das pessoas que trabalham em cooperativas era de lixões e já sabe manusear o lixo. O que fazemos é um apoio e complemento das orientações”.
No último ano, a Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (Slum) assinou um convênio de cooperação técnica no projeto Cata Mais Alagoas. De acordo o superintendente Gustavo Novaes, a proposta é fortalecer as organizações coletivas de catadores de materiais recicláveis e contribuir para a saúde do trabalhador.
"Sabemos que alguns trabalhadores não usam os Equipamentos de Proteção Individual porque a cooperativa não tem recursos para isso, mas através do convênio vamos garantir a compra dos EPIs e também fazer um trabalho educativo para alertar sobre a importância da segurança", completou o secretário, ao informar que o edital para a liberação do recurso deve ser publicado no próximo dia 15.
Catadores trabalham sem luvas e com roupa sem manga. (Foto: Carolina Sanches/G1)
O problema se agrava porque boa parte deles não utiliza Equipamentos de
Proteção Individual (EPIs). São luvas, botas, máscaras e roupas
adequadas que deveriam garantir a segurança, além de prevenir doenças
ocupacionais e reduzir acidentes de trabalho.Há um ano, Rita Costa trabalha em uma cooperativa no bairro da Serraria. Ela disse que perdeu as contas de quantas vezes se feriu com material encontrado no lixo. Sem luvas e de chinelos, ela trabalha seis horas por dia na separação do lixo que chega ao galpão. “As pessoas colocam de tudo no lixo e, algumas vezes, nos deparamos com cacos de vidro e agulhas e acabamos nos machucando”, contou.
A presidente da cooperativa, Maria José dos Santos Lins, explicou que já foram feitos pedidos de EPIs para todos os funcionários. “Estamos aguardando o material e, quando ele chegar, vamos fiscalizar o uso porque tudo que acontece aqui é de responsabilidade da cooperativa. Também vamos ter roupas mais adequadas de trabalho para evitar a contaminação”, informou.
Catadores encontram vidro no lixo que está sendo
separado. (Foto: Carolina Sanches/G1)
Em outra cooperativa de reciclagem
na capital, funcionários também trabalham sem EPIs. A catadora e
cooperada Célia Maria dos Santos explicou que já foram distribuídas
luvas, botas e máscaras, mas que elas se desgastaram e não foram
repostas. “Sempre fazem a distribuição, mas demoramos para comprar por
falta de dinheiro disponível para isso”, falou.separado. (Foto: Carolina Sanches/G1)
Sobre os riscos do trabalho sem a devida proteção, ela diz que sabe que está em situação de risco, mas não tem outra alternativa. “Trabalho com cuidado para não me cortar. Já tive em situação muito pior quando era catadora do lixão e sei que os equipamentos vão chegar. Com o tempo, a cooperativa vai conseguir mais material de proteção”, disse.
Fiscalização
A falta de EPIs foi verificada em diversas cooperativas e fábricas particulares de reciclagem de Maceió. Durante uma Fiscalização Preventiva Integrada (FPI), realizada em setembro de 2013 pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) e pelo Batalhão de Polícia Ambiental, os fiscais flagraram a situação vulnerável dos catadores.
De acordo com o coordenador de endemias da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Celso Tavares, outras ações como a que aconteceu no ano passado vão ser feitas na capital. “A situação verificada foi o primeiro passo para que outras sejam feitas. Também é importante um trabalho de conscientização para os trabalhadores entenderem a importância de estarem seguros quanto a riscos de contaminação e ferimentos”, expôs.
O promotor Alberto Fonseca, do Núcleo de Meio Ambiente, explicou que a ação foi um projeto piloto, mas que terá continuidade. “Vamos buscar recursos junto ao governo para darmos continuidade a este projeto”, disse. Sobre a situação dos catadores, ele disse que foram levantados os principais problemas e as informações remetidas aos órgãos competentes.
Catadores sem equipamento de proteção. (Foto: Carolina Sanches/G1)
Consciência do riscoEm uma empresa particular do bairro do Poço, equipamentos como luvas, botas e máscaras são distribuídos aos trabalhadores que fazem a coleta e separação do lixo. No local são reciclados plástico, alumínio e ferro. Para a catadora Maria Alexandra Silva, que trabalha no local há mais de dois anos, os equipamentos são muito importantes para evitar acidentes.
"Trabalhar com o lixo não é fácil, por isso não posso descuidar. Sempre uso luvas, botas e roupa grossa para fazer a separação. É por isso que nunca me cortei ou tive problema. Só a máscara é que tiro às vezes porque incomoda", disse a catadora.
O gerente do local, Manuel Vieira de Lima, explicou que muitos dos cooperados trabalhavam em lixões e já foram condicionados ao trabalho sem nenhuma proteção. "Nós estamos sempre de olho e orientando os funcionários para que eles não deixem de usar a proteção. Já chegamos a perder alguns deles porque não quiseram trabalhar dessa forma e acabaram abandonando o serviço", contou.
Alguns catadores não dispensam equipamentos
de proteção. (Foto: Carolina Sanches/G1)
O médico infectologista Fernando Maia alerta sobre o risco de
contaminação durante o manuseio do lixo de forma inadequada. Segundo
Maia, as complicações variam desde cortes e machucados a doenças
consideradas mais graves como as de pele ou infecções transmitidas por
lixo hospitalar. “O tétano é o problema mais grave porque muitos locais
lidam com metais enferrujados e material de ferro velho”.de proteção. (Foto: Carolina Sanches/G1)
Maia também fala de outras formas de contágio. “Algumas doenças podem vir através dos vetores como moscas, baratas e ratos, que transmitem doenças como dengue, tétano, verminoses, leptospirose e outras”, expôs. O infectologista ainda alerta para a importância de os trabalhadores estarem com o calendário de vacinas em dia.
Direitos trabalhistas
A procuradora-chefe do Ministério Público do Trabalho de Alagoas, Virgínia Ferreira, explicou que, no caso de cooperativas, não há uma lei que obrigue os funcionários a usarem os EPIs. “Nas cooperativas, todos os trabalhadores são responsáveis pela compra dos equipamentos e por questões de risco à saúde”, disse.
Por não terem um proprietário e serem divididas entre os trabalhadores, a cooperativa não possui deveres empregatícios como Pessoa Jurídica. "O ideal é que seja feito um fundo de reserva para resguardar o trabalhador, mas isso deve ser decidido em comum acordo", explicou.
Catadores trabalham sem EPIs na separação do lixo. (Foto: Carolina Sanches/G1)
Parcerias buscam melhorar cooperativasEstima-se que cerca de 2,8 mil pessoas atuam na coleta de resíduos recicláveis nos 11 municípios da Região Metropolitana de Maceió. As três cooperativas da capital são independentes, mas contam com o apoio de órgãos municipais e empresas privadas.
Umas das cooperativas, localizada na Vila Emater II, conta com o projeto “Coopvila: Reciclar e Educar”, que é uma iniciativa do Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu (Ceasb) e patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania.
Na mesma cooperativa, o Sebrae/AL promove capacitações e orienta sobre a importância da prevenção de doenças. Também são feitas doações de papel e busca de novas parcerias. A gerente de Recursos Humanos Eliane Gonçalves disse que o trabalho vem surtindo efeito ao longo dos anos. “A grande maioria das pessoas que trabalham em cooperativas era de lixões e já sabe manusear o lixo. O que fazemos é um apoio e complemento das orientações”.
No último ano, a Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (Slum) assinou um convênio de cooperação técnica no projeto Cata Mais Alagoas. De acordo o superintendente Gustavo Novaes, a proposta é fortalecer as organizações coletivas de catadores de materiais recicláveis e contribuir para a saúde do trabalhador.
"Sabemos que alguns trabalhadores não usam os Equipamentos de Proteção Individual porque a cooperativa não tem recursos para isso, mas através do convênio vamos garantir a compra dos EPIs e também fazer um trabalho educativo para alertar sobre a importância da segurança", completou o secretário, ao informar que o edital para a liberação do recurso deve ser publicado no próximo dia 15.
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