Delegado afirma que ação de oficiais foi maldade gratuita e
desnecessária contra soldados em formação. Os militares foram obrigados a
sentar no asfalto quente enquanto o oficial permanecia dentro
de uma viatura com ar condicionado ligado. O capitão mandou passar um
copo de refrigerante gelado pelas mão dos soldados sem que ninguém
pudesse beber. Alunos relataram que foram obrigados a beber água usada pelos cavalos da unidade militar.
Após o “treinamento” foram constatados ferimentos e desidratação m 32 praças.
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O relatório do inquérito da 33ª DP (Realengo) que investiga a morte do recruta Paulo
Aparecido Santos de Lima após uma sessão de treinamento no Centro de
Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap) da Polícia Militar, em
novembro do ano passado, aponta para a prática de tortura por parte dos
quatro oficiais que instruíam a turma. Após o treino, 33 alunos tiveram
queimaduras ou desidratação. No documento da Polícia Civil, que chegou
sexta-feira ao Ministério Público, o delegado Carlos Augusto Nogueira
relata que “os atos dos oficiais denotam uma maldade gratuita e
desnecessária”.
Nas
125 folhas do inquérito, 20 alunos da turma de Paulo Aparecido
relataram exercícios puxados, abusos e até pegadinhas por parte do
capitão Leal e dos tenentes Sérgio, Silveira e Castelo. Um recruta
contou que, “enquanto os alunos queimavam as nádegas no chão quente, o
capitão Leal encheu um copo de refrigerante e fez passar na mão de
todos, sem que pudessem beber”. O aluno afirma que, nesse momento, o
capitão estava numa viatura com o ar condicionado ligado. A sensação
térmica chegou a 50 graus em Sulacap, bairro da Zona Oeste do Rio onde
fica o Cfap, naquele dia.
Outros
três recrutas relataram que foram obrigados a beber água na cisterna
utilizada pelos cavalos da unidade. Um deles afirma ter sido
diagnosticado com infecção intestinal dias depois. Todos os vinte alunos
ouvidos argumentaram que não se manifestaram quanto às lesões por medo
de serem desligados do curso.
O capitão Renato Martins alegou, em depoimento, que só pediu para a turma sentar “cinco minutos no sol quente”,
pois estava preocupado com a saúde dos alunos. Ele afirmou que “pediu à
turma que sentasse para esclarecer que, se alguém estivesse com
problema de saúde, seria necessário que se acusasse”.
Para secretário de Segurança do Rio de Janeiro, morte de recruta foi homicídio.
O secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame,
qualificou como homicídio a morte do recruta Paulo Aparecido depois de
um treinamento classificado por ele “descabido e irresponsável”. A
declaração foi feita durante a cerimônia de formatura de 139 soldados da
unidade, dias depois da morte.
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Nesse episódio, sem dúvida nenhuma, houve excesso por parte dos
instrutores. Eles vão ter que responder por esses homicídios - disse
Beltrame, em declaração à revista época.
O
Comandante da PM pediu fim da investigação. O coronel Luís Castro,
comandante-geral da PM, pediu, num ofício enviado à chefe de Polícia
Civil, delegada Martha Rocha, a “suspensão temporária” do inquérito
sobre a morte do recruta. No texto, o oficial argumentou que o ocorrido
era de “indubitável caráter penal militar”.
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