Caros amigos
Por Paulo Chagas
Acabo de ler o artigo do Sr
Clóvis Rossi, publicado na Folha de São Paulo e apresso-me a dizer-lhes
que, aparentemente, estamos diante da obra de mais um intelectual
orgânico, antecipando sua contribuição para a acomodação da verdade aos
interesses do intelectual coletivo.
Ao referir-se ao cinquentenário
da contra revolução de 1964, fala de “trevas, nunca mais”, enquanto sabe
que seria mais honesto clamar por “terrorismo, nunca mais” ou, melhor
ainda, já que o passado pertence à história, deveria aproveitar para
abrir os olhos de seus leitores para a baderna, a roubalheira e o
desmando que, às claras, já dura 28 anos!
Uma sequência de frivolidades
emolduram o texto do Sr Clóvis, a começar pela incoerência de denunciar
um “golpe” militar, restritivo da liberdade, mas que lhe permitiu cobrir
seu momentos mais críticos, sem restrições de acesso ou movimento, no
DKW de seu pai.
Trabalhava para o jornal Correio
da Manhã, um dos órgão de imprensa que mais se esforçaram para que o
contra golpe acontecesse, no entanto, confessa, mal sabia o que estava a
ocorrer. Um homem de imprensa mal informado desde então!
É coerente ao dizer que o Brasil
mudou e que esteve melhor nestes cinquenta anos. É como se tivéssemos
escalado o Pão de Açúcar por um lado e descido pelo outro, ou seja já
estivemos no alto, com esforço, mas acabamos por voltar ao nível da
partida.
Confessa ter se comportado qual
uma vivandeira dos quarteis, transformando a rotina militar de promoções
e movimentações em notícia de jornal, ou seja, estava a bajular os
Generais, tentando decodificar o Almanaque do Exército, algo que só ao
Exército interessa, como se daí pudesse tirar ilações políticas.
Confessa também sua conivência
com os desmandos dos últimos governos ao negar o interesse, o empenho e o
investimento do “Partido” para controlar a mídia, comprando-lhe a
consciência e a alma. Fernando Gabeira, personagem importante dessa
história cinquentenária, certa feita, comparando período em que esteve
preso com o que militou no PT, publicou que muitos militares diziam que o
respeitavam porque deixara um bom emprego para combatê-los com risco de
vida, e acrescentou: “Jamais imaginei que seria grato aos torturadores
por não me pedirem a alma. Não sabia que dias tão cinzentos ainda viriam
pela frente”.
Tem razão, no entanto, o Sr Rossi
ao dizer que na democracia petista quem quer grita pelo pedreiro
Amarildo, mas ninguém tem coragem de gritar “quem mandou matar Celso
Daniel”, ou, “quem matou Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT”!
Tem razão também o jornalista
Clóvis ao dizer que encerrado o ciclo militar ainda não se chegou à
verdade sobre a guerra ocorrida no período, visto que, só um lado tem
compromisso com ela, o outro, o que comprou a alma e a consciência de
homens como o Sr Rossi, não tem nem quer qualquer proximidade com ela!
Se nas décadas de 60 e 70 houve
uma onda de governos sob mando de militares na América Latina, isto se
deve à divisão do mundo, à época, em dois blocos antagônicos. Não havia
meio termo, as nações eram alinhadas a um ou outro bloco. Era o período
da Guerra Fria, ao qual o mundo deve a sua sobrevivência e a liberdade
que, deturpada em nosso País, é desfrutada em nossos dias apenas pela
bandidagem, pelos corruptos e pelos oportunistas.
Esta é a “santa rotina” que nos
faz penar como cidadãos e ver mudarem, a cada eleição, apenas as moscas
que se reproduzem no esterco em que se transformou a política no Brasil.
Paulo Chagas, cidadão brasileiro, dono de sua alma!
VERDADE SUFOCADA
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