quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Prefeitura anuncia que vai transformar casa de Jorge Amado em memorial


Evento para marcar parceria será realizada na sexta-feira (31), em Salvador.
Família Amado luta há anos para abrir para público casa de escritor.

Ingrid Maria Machado Do G1 BA

casa de jorge amado; bahia (Foto: Ingrid Maria Machado/G1)Casa de nº 33  fica na rua Alagoinhas
(Foto: Ingrid Maria Machado/G1)
A prefeitura de Salvador anunciou nesta quarta-feira (29), que vai trasformar em um memorial a casa onde viveram os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai. O casal viveu durante anos na rua Alagoinhas número 33, no bairro do Rio Vermelho e se tornou um ponto de encontro de amigos, intelectuais e políticos.
A parceria será firmada com a família Amado em uma celebração na sexta-feira (31), onde o prefeito ACM Neto e o secretário de Desenvolvimento, Turismo e Cultura, Guilherme Bellintani vão explicar como será viabilizado o projeto e o investimento.
Casa de nº 33
A história para tornar a casa da família Amado em memorial é antiga. Os primeiros diálogos foram feitos com o Governo Estadual, mas os projetos nunca foram realizados. No dia 10 de agosto, data em que Jorge Amado completaria 100 anos, a filha dele, Paloma Amado firmou um contrato com o Governo do Estado, para executar a o projeto em que tornaria a casa em memorial. Essa garantia foi afirmada pelo governador da Bahia, Jaques Wagner.
casa de jorge amado; bahia (Foto: Ingrid Maria Machado/G1)Cinzas de Jorge Amado e Zélia Gattai estão enterradas no quintal da casa (Foto: Ingrid Maria Machado/G1)
"É preciso que aqui vire um culto à ele, à Zélia, mas é preciso também que vire um culto à Língua Portuguesa e a aquilo que ele sempre defendeu: a liberdade. Com relação à questão de financiamento, esse não é o problema, já que o governo está engajado nas comemorações ao centenário", disse o governador à época do evento.
A filha do escritor, Paloma Amado disse em 2012 que esperava ver o memorial de pé, o mais rápido possível. "O projeto é lindo, maravilhoso e queremos vê-lo de pé o mais rápido possível. Nós recebemos esse projeto gratuitamente. Agora que um português nos deu um projeto, vamos ver se os baianos e brasileiros executam", revela. Um ano e meio após a assinatura do contrato, nada foi modificado.
projeto para transformar a Casa do Rio Vermelho foi doado gratuitamente à família pelo arquiteto português Miguel Correia. "Fiz esse projeto porque acho que Jorge Amado merecia e também por achar que há uma relação entre Portugal e Brasil. Fala-se muito em comparação entre os dois países, mas na prática, todo mundo olha muito para o seu umbigo e acho que atos de generosidade acabam sendo compensados", afirmou o arquiteto.
Desejo de Jorge
"Em vida, meu avô sempre dizia: 'Quando eu morrer, eu quero que esta casa se torne um memorial'". A lembrança é de João Jorge Amado, neto do escritor baiano Jorge Amado sobre a casa do Rio Vermelho. O imóvel simboliza grande parte da memória da família e o amor entre Jorge Amado e sua esposa, a também escritora Zélia Gattai, que faleceu em 2008.

"Meu avó morreu em 2001. Depois disso decidimos ir morar em um apartamento, e a partir daí, começamos a tentar transformar a casa em memorial. Montamos um projeto para entregar na Lei Rouanet, mas nunca foi aprovado. Eu não vejo outra função para esta casa do que receber as pessoas e contar a história de Jorge Amado e Zélia Gattai", diz o neto.

Tombamento
Em 2003, Zélia Gattai solicitou o tombamento da casa para o Conselho de Cultura do Estado. O Conselho solicitou ao Insituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado (Ipac) a realização de um dossiê, que foi feito e devolvido para a instituição com um despacho favorável ao tombamento do imóvel. Enquanto o dossiê é realizado e o processo continua aberto, a casa fica tombada provisoriamente.

O trâmite legal indica que, após a recomendação do Ipac, o Conselho envie à Secretaria de Cultura do Estado (Secult-BA) a aprovação do tombamento e a Secult-BA encaminha ao governador para assinatura e tombamento definitivo do imóvel. Os trâmites permanecem em andamento desde maio de 2011.
casa de jorge amado; centenário do escritor (Foto: Ingrid Maria Machado/G1)Placa localizada no jardim da casa.
(Foto: Ingrid Maria Machado/G1)
A Secult afirma que há um pedido em nome da família e assinado por Paloma Amado solicitando a retirada do pedido de tombamento, porém, de acordo com a Lei nº 8.895 que regulamenta o  Patrimônio no estado, a casa poderia ter sido tombada mesmo sem a autorização da família, já que o bem simbólico é mais importante.

A casa
No imóvel com mais de dois mil metros quadrados de área, histórias são lembradas pelo neto que também já morou no local. "Muitas histórias boas aconteceram aqui. O ator Jack Nicholson esteve aqui em casa junto com o diretor Roman Polanski. Meu avô trouxe eles até o quintal e sentaram embaixo de uma jaqueira para experimentar algumas frutas. Por sorte, o pior não aconteceu porque uma jaca caiu ao lado de Nicholson", conta o neto.
A residência fica localizada na rua Alagoinhas, nº 33, no boêmio bairro do Rio Vermelho, na capital baiana. A casa de fachada simples e recheada de símbolos do Candomblé foi onde o escritor e sua esposa residiram durante muito tempo.
jorge amado (Foto: Zélia Gattai/Acervo Fotográfico Zéllia Gattai)Jorge Amado em Salvador.
(Foto: Zélia Gattai/Acervo Fotográfico Zéllia Gattai)
Ela foi comprada com o dinheiro que Jorge Amado recebeu após vender os direitos autorais de "Gabriela" para uma produtora de Hollywood no final da década de 50. Foi lá que o casal criou os filhos João Jorge e Paloma. Foi lá também que Jorge Amado escreveu diversos livros, entre eles "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Quincas Berro D'Água".
Após a morte de ambos, a família enterrou as cinzas do casal no quintal da residência e tenta tranformar a casa em memorial aberto, onde parte da história da família Amado e seu acervo estarão disponíveis ao público.
Atualmente, a casa encontra-se vazia, sem as obras artísticas e sem os pertences pessoais. De acordo com a família, a proposta é de que o memorial irá abrigar uma loja onde o público terá acesso às obras do escritor e de sua mulher, além de uma cafeteria. O memorial irá contar com todo acervo do artista e de Zélia, além de obras de outros artistas que foram doadas à família e outras compradas pelo escritor.

Casa de Ilhéus
Construída pelo pai do romancista em 1926, a casa onde Jorge Amado morou quando criança e passou suas férias na adolescência funciona hoje em dia, o Centro de Cultura de Ilhéus, no sul da Bahia. A casa pertencia ao Estado e foi doada ao município com a condição de ser transformada em uma casa de cultura. A sede foi restaurada pelo município e tombada como Patrimônio Cultural em agosto de 1989 através da Lei de nº 2314.

Atualmente, a instituição oferece à comunidade o acesso a livros, fotos, esculturas, roupas e curiosidades a respeito da cultura e formação do escritor. Para entrar, é preciso pagar a quantia simbólica de R$ 4 (inteira), sendo que, crianças até 10 anos e idosos acima de 60 não pagam. Nos meses de julho e janeiro, o espaço não fecha durante o horário de almoço, permitindo maior acesso de turistas.
jorge amado e zelia gattai (Foto: Reprodução/TV Globo)Jorge Amado e Zélia Gattai (Foto: Reprodução/TV Globo)

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